Desde abril à frente do Palácio dos Bandeirantes, o governador Márcio França (PSB) coleciona currículo com 38 anos de mandato na carreira política, sendo considerado o prefeito com maior percentual de votação na história do Brasil. Ocupou várias pastas como secretário de Estado, foi vice-governador e há quatro meses observa a região metropolitana com olhar apurado, ao prezar diálogo aberto e gestão inteligente. Em entrevista exclusiva concedida ao canal RDtv, o administrador falou sobre projetos importantes e se ateve às necessidades do ABC, ao se colocar à disposição para colaborar com os gestores.
O senhor tem quebrado paradigmas e pensado em um modelo diferente de gestão. Qual é o perfil do seu governo?
Acredito no bom relacionamento com o servidor público e com os prefeitos. Não omito minhas opiniões diante de importantes fatos, como foi a greve dos caminhoneiros. Fizemos convênios com prefeitos em áreas que ninguém ajudava, por exemplo, a relação das prefeituras com a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo), inclusive no ABC. Hoje temos possibilidade de firmar convênios parados há 20 anos. Mauá já estreita relações com a companhia e Santo André tem a mesma intenção, para um trabalho conjunto com o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André). Quero mais uma vez falar ao prefeito de Santo André que estou a disposição. Se nós assinarmos esse contrato com a Sabesp, já disse que estará no pacote o recapeamento asfáltico da avenida dos Estados.
Cada cidade do ABC possui suas particularidades e Mauá, por exemplo, enfrenta uma grave crise na área da saúde. De que forma o governo do Estado tem criado mecanismos no sentido de auxiliar a administração municipal?
É complicado vencer essa luta. Há 30 anos Mauá enfrenta dificuldades, porém tem avançado bastante. Quero colaborar com o governo, independente do partido político de cada gestor. Minha proposta é ajudar. Aliás, o ABC tem características muito próprias e não deveria ser comparado com os demais municípios da Grande São Paulo. É do ABC que vem boa parte das riquezas do País.
Uma das áreas prioritárias do governo tem sido a educação. De que forma o senhor tem trabalhado para vencer o desafio da qualidade no ensino?
Nós formamos 450 mil alunos anualmente no Estado, no terceiro ano do ensino médio. Existem inúmeras escolas particulares, com boa estrutura, mas são pagas e nem todos têm essa condição. A gente precisa melhorar o que é público e o que é possível para a maioria da população. As pessoas simples dependem do Estado. Por isso, estamos trabalhando para que todos tenham acesso a uma vaga na faculdade ou no curso técnico.
Neste caso, qual é a proposta do governo para facilitar o acesso do jovem à escola e, mais do que isso, garantir o direito do cidadão a ingressar em uma universidade?
A sociedade mantém a maior estrutura universitária do mundo em São Paulo, isso é um orgulho pra nós. No entanto, muitos estudantes que são aprovados em faculdades públicas concluíram o ensino médio em escolas particulares. Hoje, as melhores universidades do mundo podem ser feitas a distância. Nosso planejamento é que daqui um ano todas as pessoas que se formarem no ensino médio tenham o direito a uma vaga na faculdade ou no curso técnico sem a necessidade do vestibular – concluindo a graduação em sua própria cidade. Isso muda a vida das pessoas.
O senhor fez algumas citações se referindo à Contribuição de Melhoria. É possível aplicar o tributo para construção de linhas de metrô, já que na região essa ainda é uma realidade distante?
O Metro do ABC é uma demanda antiga. Uma linha de metrô custa cerca de R$ 10 bilhões. Se depender do Estado, vamos demorar mais 20 anos para tirar recurso das cidades e aplicar na criação de uma linha que beneficie o ABC. Além disso, é preciso investir em hospital, escolas. Quando fui prefeito na cidade de São Vicente, fiz todo trabalho de pavimentação aplicando Contribuição de Melhoria, que só pode ser cobrada depois da obra pronta. Todo o metrô da Coréia, por exemplo, foi feito sob esse tipo de tributo. É uma forma de custear a obra pública e valorizar o imóvel, sistema que já é implantado em muitos países. O Estado tem sobra anual de R$ 8 bilhões. O que é arrecadado é gasto com funcionalismo, água, luz, entre outros tributos. O montante não é suficiente para fazer todas as obras em São Paulo, mas tudo o que está no orçamento precisa ser cumprido. Estamos falando de uma estrutura com mais de 800 mil funcionários públicos, mais de 200 mil aposentados. Se o gestor não tiver noção administrativa a máquina toda para.
A Segurança Pública sempre foi alvo de muitos debates no Brasil. Nos últimos 15 anos o Estado de São Paulo tem apresentado bons indicadores, sendo considerado um dos Estados menos violento. Quais as políticas adotadas em sua gestão para manter o bom indicador?
Uma das maneiras que estamos trabalhando para diminuir a criminalidade é trabalhar com o jovem em situação de vulnerabilidade social. O programa consiste no alistamento civil de 4.300 jovens, num primeiro momento, número que deve subir para 80 mil, em 2019. Esses rapazes prestarão serviços de apoio ao cidadão. Vamos implantar o programa em 16 cidades, começando por Carapicuíba, considerada uma das mais violentas. O ABC não foi contemplado pelos baixos índices. Serão oferecidas bolsas de R$ 500, uniforme, curso técnico e outros benefícios. Essa é uma mudança completa de conceitos.
Há quatro meses à frente do governo do Estado, o senhor tem se empenhado em trilhar modelo de gestão autêntico. Podemos dizer que há uma nova identidade na administração, além do que foi construído dentro do governo de Geraldo Alckmin (PSDB)?
Concluí uma carreira de muitos anos na área política e, agora, o desafio de governar a partir da gestão Geraldo Alckmin – que é um homem idôneo, mas com estilo de trabalho diferente do meu. Tenho impressão de que vamos atravessar um período mais tenso durante o pleito eleitoral, inclusive no repasse de recursos. Contudo, estou animado, pois o governo tem condições para fazer a virada e ajudar a liberar o Brasil. Venho de uma família de servidores públicos e sempre disse que meu desejo era ser político. Costumo dizer que a minha função é passageira, por isso não tenho vaidade e a intenção é construir uma gestão sólida, me colocando à disposição dos demais líderes políticos.