Por Roberto Belmonte Junior
Últimos dias de férias escolares e as crianças já começam a ficar apreensivas para o reencontro com os amigos, mas também com a retomada do ritmo escolar, com cumprimento de horários e estudos. Essa apreensão, apesar de normal nesse período, acaba preocupando pais e cuidadores, especialmente ao que se refere à transição entre o tempo ocioso e a volta às aulas. Alguns se preocupam com a necessidade de uma nova adaptação. Outros, com as possíveis dificuldades a serem enfrentadas com a volta das responsabilidades.
Nada de compreender que as férias tenham servido para recarregar baterias, pois nessa ideia há uma ideologia mecanicista bastante cruel que sussurra aos ouvidos da mente que homens sejam máquinas e que as escolas são subservientes aos meios de produção e por isso são em sua essência opressoras e desgastantes. Férias e aulas devem viver em harmonia, ambas a serviço da pessoa, ambas precisam coincidir na felicidade; e embora sejam tempos bem distintos, nas duas devem ocorrer muitas aprendizagens.
As férias não devem ser consideradas apenas como um tempo de dar bobeira, embora ficar sem fazer nada tenha que fazer parte dela. As férias costumam ser um tempo que a criança ressignifica o que aprendeu na escola. Repare a alegria de uma delas, que ao ter acabado de apreender sobre o bioma dos pampas, no Ensino Fundamental, tenha viajado pela primeira vez ao sul do Brasil e norte do Uruguai. Você consegue imaginar a satisfação e o contentamento dessa criança e cá entre nós, também a satisfação dos seus pais? Ao interpretar e compreender tudo que está vendo a sua volta, gera em si mesma, um enorme sentimento de pertença e também, se bem instruída, de responsabilidade ecológica; e ao verbalizar a respeito e compartilhar informações com os guias lacais, familiares e amigos o que aprendeu, coloca-se no contexto social como um indivíduo interessado e mais maduro. Isso que é férias, isso é que é vida!
Após as férias, a rotina é retomada e o ritmo deve estar impregnado no modus vivendi do estudante, enquanto ser e os estímulos bem dosados, nunca excessivos e nunca ausentes. A alternância equilibrada entre ação e reflexão deve permear todo o tempo da vida. Quando se fala em ritmo/estímulo também deve-se buscar equidade, pois se o ritmo for em descompasso ao estímulo proposto, certamente haverá desperdício de tempo ou de conteúdo. Manter a mente ativa independe da atividade, e não existe o contrário disso para o ser humano, isto é a inatividade, pois quando a inatividade ocorrer para nós, deixamos de ser.
A rotina nada mais é que um atalho, um catalizador de sonhos, se eu quero chegar ao meu destino, a estrada, com segurança, pode me conduzir até ele, assim é a rotina. Eu posso fazer dela algo diferente, mas essa diferença estará dentro de mim, encarando que para eu poder criar novos caminhos, descobrir novas rotas preciso aprender com aquelas que já foram abertas. A rotina deve ser encarada como forma de alternância e não de repetição sem significado. Logo, o que se tem a fazer é distanciar a ideia de que somos mecânicos e que nas férias estamos inativos e desligados, enquanto que nas aulas estamos ativos e fazendo o que há de bom e útil. Dessa forma podemos ficar tranquilos de que não será necessária nenhuma readaptação para voltarmos às aulas.
*Prof. Roberto Belmonte Junior é pedagogo e Diretor Pedagógico do Ensino Fundamental no Colégio Stocco. Possui habilitações em administração escolar, filosofia, filosofia da educação, didática e sociologia da educação.