Única opção de transporte público que foge do caos das ruas e trânsito intenso no ABC, a Linha 10 – Turquesa (Brás-Rio Grande da Serra) da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) registrou queda na média de passageiros transportados em dias úteis, entre 2015 e 2017. Problemas recorrentes no ramal e a concorrência com aplicativos de transportes individuais podem explicar a redução da demanda.
Em 2012, a Linha 10 registrou a média de 393 mil passageiros transportados por dia útil, mas apresentou queda no ano seguinte para 348 mil. Em 2014 e 2015, a demanda no ramal cresceu novamente para 355 mil e em seguida para 364 mil usuários, respectivamente. No entanto, após esse pico, o modal teve outra redução na quantidade de pessoas em 2016 e 2017, com 350 mil e 341 mil, na mesma ordem.
As reclamações de usuários podem explicar a falta de crescimento constante na utilização dos serviços da CPTM na região. Lotação nos vagões, lentidão da composição, demora ao embarque na estação e os constantes problemas técnicos são algumas das queixas de quem precisa da Linha 10, para se deslocar ao trabalho, lazer e estudos.
Morador de Mauá, o autônomo Rafael Melo, 33 anos, citou os problemas técnicos das composições da Linha 10, em sua maioria da Série 2100, trens de origem espanhola e modernizados no fim da década de 1990. “Outro ponto a ser visto é quando ocorrem chuvas fortes, os trens não funcionam. Todos esses problemas são oriundos de diversos fatores, como falta de manutenção preventiva e o sucateamento das ferrovias”, disse.
Professora de inglês e residente em Ribeirão Pires, Bruna Lemos, de 23 anos, também depende da CPTM para ir ao trabalho. “Pego a Linha 10 quase todo o dia. Além dos atrasos frequentes, quando há um tipo de ocorrência, o serviço para, o que é desgastante. E a operação não tem horário certo para acabar, porque às vezes se encerra à 0h15 ou 0h30”, relatou.
A estudante Laura de Souza Andrade, 20 anos, mora em São Bernardo, maior município do ABC, desprovido de serviço férreo e, por essa razão, raramente opta pela Linha 10. “É fora de mão. Se quiser pegar, preciso usar ônibus que demora 1h30 para chegar a Santo André. E os trens são cheios e muito devagar. Então o que falta no ABC é o Metrô.”, lamentou.
Para driblar a concentração do sistema metroviário em São Paulo, a CPTM implantou no fim de 2016, o Expresso ABC. De segunda a sexta-feira, o serviço permite viagens diretas entre as estações Prefeito Celso Daniel-Santo André, São Caetano e Tamanduateí, na Capital, onde há a opção de baldeação para Linha 2 – Verde (Vila Madalena-Vila Prudente) do Metrô.
Neste ano, a CPTM passou a incorporar na frota da Linha 10 os trens da Série 7500, fabricados pela empresa espanhola CAF. Esses modelos foram entregues a partir de 2011 e antes operavam na Linha 9-Esmeralda (Osasco-Grajaú). Entretanto, a compra de novas composições no ramal do ABC tem previsão para 2020, conforme projetou o gerente de Relacionamento e Marketing da companhia, Sérgio Carvalho Júnior.
Mestre em transportes, Creso Peixoto explicou que a falta de qualidade no serviço público e incentivo governamental ao carro próprio também ajudam a explicar o cenário de queda na demanda da CPTM. O especialista, porém, faz um complemento. “Se usar o aplicativo compartilhado, como a Uber Pool, em uma etapa de viagem curta, o preço fica mais barato que o ônibus e trens”, constatou.
De 2012 a 2018, a tarifa da CPTM e Metrô saltou de R$ 3 para R$ 4.