Em apenas 17 meses, o Hospital de Clínicas Doutor Radamés Nardini, em Mauá, perde o seu quarto superintendente. Dois dias após a FUABC (Fundação do ABC), gestora da unidade, demitir cinco funcionários indicados pelo prefeito afastado Atila Jacomussi (PSB), preso na penitenciária em Tremembé, interior paulista, o gestor do equipamento, Antonio Carlos Marques, comunicou nesta quinta-feira (14) o seu desligamento.
Indicado por Atila, Marques já ventilava internamente que pediria dispensa do cargo de superintendente do Nardini, após a presidente em exercício da FUABC, Adriana Berringer Stephan, assinar as demissões do diretor administrativo, diretor financeiro, gerente de gestão de pessoas, gerente de enfermagem e supervisor de comunicação. Dessa forma, não há mais indicações do prefeito afastado no equipamento.
Após a lista de demitidos ligados a Atila, a FUABC comunicou em nota que os cortes tinham como objetivo garantir maior autonomia na gestão da unidade hospitalar. Justamente a falta de independência administrativa foi um dos pontos mais criticados na área da Saúde, enquanto o socialista estava no comando do Paço, o que gerou inclusive diversas demissões de funcionários da organização, de forma unilateral no ano passado.
Na carta de demissão entregue na FUABC, Marques agradeceu à organização pela atuação na Saúde e ao socialista pela indicação. Antes dele, o Nardini foi administrado pelo ex-secretário de Saúde e Higiene de Ribeirão Pires Ricardo Carajeleascow, Renata Martello e Vanderley da Silva Paula, que admitia reservadamente a colegas problemas com as ingerências de Atila.
A nova troca de comando do Nardini é apenas um capítulo da crise na Saúde em Mauá durante a gestão Atila. Também por motivo de ingerências, o prefeito afastado perdeu os secretários de Saúde: Márcio Chaves (PSD) – assumiu a mesma função em Santo André – e Ricardo Burdelis, que permaneceu apenas 51 dias no cargo, de março a abril. Hoje, a Pasta com maior orçamento do governo (R$ 327,9 milhões) está sem titular.
Operação Prato Feito
A nova postura da FUABC com a Prefeitura de Mauá casa com os desdobramentos da Operação Prato Feito, da PF (Polícia Federal), deflagrada em 9 de maio, que resultou na prisão de Atila e no afastamento do então presidente da entidade, Carlos Maciel, ambos citados nas investigações. Os trabalhos apuram esquemas de fraudes nos serviços de merenda, uniformes escolares e materiais didáticos em 30 cidades paulistas.
A partir da indicação do ex-secretário estadual de Saúde David Uip como novo presidente da organização regional, a FUABC passou a cobrar publicamente a dívida que já supera R$ 123 milhões calculados até o fim do ano passado, sob ameaça de execução fiscal. A entidade também comunicou que deixaria os serviços em Mauá ao fim deste mês, quando termina o último aditamento de 90 dias.
O governo da prefeita em exercício de Mauá, Alaíde Damo (MDB), iniciou as negociações sobre uma solução fiscal ao passivo milionário e uma forma de manter a organização na cidade. Além de administrar o Nardini, a FUABC dispõe de mão de obra nas 23 UBSs (unidades básicas de saúde), três UPAs (unidades de pronto atendimento) e outros serviços englobados no Cosam (Complexo de Saúde de Mauá).
A estratégia da gestão Alaíde é renovar o contrato com a FUABC com valores menores ao contrato atual, assinado em 2015, que prevê repasses mensais superiores a R$ 15 milhões. Atualmente, o governo deposita R$ 12 milhões, valor pretendido em um novo contrato. Na pior das hipóteses, a Prefeitura de Mauá busca um novo aditamento de até 90 dias, para se preparar em caso de saída da entidade na rede municipal.