Não foi apenas o montante de dinheiro vivo que a PF (Polícia Federal) apreendeu, em Mauá, na casa do ex-secretário de Governo e Transportes João Gaspar (PCdoB), por meio da Operação Prato Feito, que também resultou na prisão do prefeito afastado Atila Jacomussi (PSB). Segundo informações coletadas na investigação e confirmadas pela defesa do comunista, blocos de notas foram levados pelos agentes, em 9 de maio.
De acordo com relatório da PF, com detalhes da voz de prisão de Atila e Gaspar, obtido pelo RD, os agentes federais encontraram duas agendas ao vasculhar o apartamento do ex-secretário, uma com capa azul e a outra com logotipo da Caixa Econômica Federal. A suspeita é que os dois cadernos tenham anotações quanto a “distribuições de valores entre pessoas e percentuais de contratos na Prefeitura de Mauá”.
Além das duas agendas, a PF apreendeu uma quantia de R$ 588,4 mil e mais € 2,9 mil – totalizam R$ 601,2 mil – em diversos locais do apartamento de Gaspar, que no momento da vistoria estava com a namorada e o sobrinho no local. O ex-secretário afirmou aos policiais ser o responsável pela quantia, porém, não conseguiu informar e apresentar qualquer comprovante sobre a origem desses valores.
O relatório ainda cita que o apartamento de Gaspar é modesto, avaliado em R$ 250 mil, com dois quartos e uma garagem. A PF encontrou o comprovante de rendimento do comunista na Prefeitura de Mauá, durante o ano de 2017, que foi de aproximadamente R$ 120 mil, praticamente um quinto da soma do dinheiro encontrado na residência durante a busca e apreensão. No município, um secretário tem salário base de R$ 12 mil.
No mesmo dia, a PF já realizava o procedimento de busca e apreensão na casa de Atila, às 6h daquela manhã, onde encontraram a quantia de R$ 87 mil. Naquele momento, o prefeito estava apenas ao lado da esposa Andreia Rolim Rios. Os agentes localizaram na cozinha uma maleta de couro preta contendo R$ 7 mil em espécie, além de encontrarem em duas caixas de papelão, no armário da cozinha, outros R$ 80 mil.
Nesse instante, Atila justificou que os R$ 7 mil eram dele e estavam na residência para pagamento de despesas, e os outros R$ 80 mil pertenciam a Andreia, que corroborou ao dizer que a quantia era fruto de economia que ela mesma teria feito ao longo dos últimos anos. Entretanto, não houve comprovação da origem do montante, segundo a PF. Além do dinheiro, foram levados celulares, CD e um pendrive.
Tanto Atila como Gaspar foram presos em flagrante por suspeita de lavagem de dinheiro e conduzidos à superintendência regional da PF, na Lapa, zona oeste de São Paulo. Ambos são citados na Operação Prato Feito, que apura esquema de desvio de dinheiro público em contratos e licitações nos serviços de merenda, uniformes escolares e materiais didáticos.
O prefeito afastado e o ex-secretário permaneceram na sede da PF até o dia 29 de maio, quando se deslocaram ao CDP (Centro de Detenção Provisória) 3 de Pinheiros, também zona oeste de São Paulo. Horas depois, Atila e Gaspar foram transferidos para penitenciária em Tremembé, aproximadamente 125 quilômetros da Capital. Os dois detidos estão em regime de observação, separados dos demais presos da unidade.
Atila e Gaspar completaram, nesta sexta-feira (8), 30 dias de prisão desde que foram detidos pela PF. O prefeito afastado espera pela decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes pelo pedido de habeas corpus. Já a defesa do ex-secretário impetrou com o mesmo recurso no TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), para que possa se defender em liberdade.
Defesa
Advogado de Gaspar, Roberto Guimarães confirma que a PF levou as agendas, porém, desconhece o conteúdo. “Faz parte da investigação, encontrar um objeto ou documento que interesse na apuração. Mas o conteúdo, eu desconheço. A gente sabe que alguns procedimentos são naturais em uma investigação, como a polícia levar malas de coisas e depois separar aquilo que é relevante ou não”, descreveu.
O RD procurou tanto a assessoria de Atila como o seu advogado Daniel Bialski, mas não teve o retorno até o fechamento desta matéria.