A greve dos caminhoneiros chegou ao terceiro dia nesta quarta-feira (23) com protestos em rodovias estaduais e federais do País e já resulta em problema de abastecimento em setores importantes na região. Algumas montadoras de veículos instaladas do ABC começam a enfrentar contratempos, caso da GM (General Motors), em São Caetano, da Scania e Volks, ambas em São Bernardo.
Representante das montadoras, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) demonstra preocupação diante da situação e pondera que se a greve continuar afetará todas as fábricas.
“A situação é preocupante. Muitas fábricas já pararam suas linhas de montagem e, se a greve continuar até o fim de semana, é certo que todas as fábricas pararão. Com isso, teremos uma queda na produção, nas vendas e nas exportações de veículos, tendo como consequência impacto direto na balança comercial brasileira e na arrecadação de tributos”, diz o presidente Antonio Megale.
Questionada sobre a situação, a Volkswagen informou que está avaliando os impactos e realiza ajuste para prosseguir com a produção. “Em decorrência da greve dos caminhoneiros, a Volkswagen do Brasil está avaliando os impactos e fazendo ajustes em seu programa de produção”, diz e empresa, por nota.
Os protestos contra a disparada no preço do diesel também afetam outros segmentos importantes, como o de alimentos. Na Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) foi verificado que 40% das entregas estão atrasadas, o que já começa a refletir nos preços dos produtos. Por conta da situação alguns segmentos estão com estoques baixos e, consequentemente, os preços já subiram. “Exemplos são a batata e a cebola, que hoje estão com valores em média 250% mais altos”, diz a Prefeitura.
O setor mais afetado, no entanto, é o de frutas, especialmente mercadorias vindas de outros estados. Frutas como manga, melancia, laranja, mamão, entre outras, estão com estoque reduzido em 30%, o que está refletindo em uma alta de 20% nos preços.
De acordo com a Craisa, que administra o Ceasa (Central de Abastecimento de Santo André), está sendo disponibilizado, juntamente com a Aeceasa (Associação das Empresas da Ceasa do Grande ABC), uma estrutura de apoio para banho e alimentação aos caminhoneiros que chegam ao local. “Muitos caminhoneiros estão optando por permanecer dentro das dependências da Craisa por questões de segurança. Na madrugada de hoje, um dos caminhões que chegaram à Craisa foi alvo de apedrejamento na rodovia Fernão Dias”, diz a nota.
Postos de combustíveis
A situação também começa a preocupar o consumidor que precisa abastecer os veículos nos postos de combustíveis da região. Por conta da situação, no decorrer do dia, nenhum posto recebeu combustível. De acordo com o Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do ABCDMRR), os proprietários dos estabelecimentos trabalham com estoques para até três dias.
Desta forma, caso a paralisação dos caminhoneiros continue, os cerca de 400 postos das sete cidades do ABC correm o risco de ficar sem o produto nas bombas. “Hoje a situação é tranquila porque ainda tem estoque. Mas se a gente ficar por mais dois ou três dias, fatalmente vai faltar”, diz o presidente da entidade, Wagner de Souza.
Em uma das bases de distribuição da região, na avenida dos Estados, em São Caetano caminhoneiros fizeram manifestação na via e permaneceram parados dentro do pátio por conta do valor do diesel.
Redução de preço no diesel
No início da noite desta quarta-feira, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, anunciou, em caráter excepcional, redução de 10% no valor do diesel nas refinarias por período de 15 dias. De acordo com o gestor, o percentual anunciado representa queda de R$ 0,23 no preço do litro nas refinarias e R$ 0,25 aos consumidores.
A medida, no entanto, não representa mudança na política de preços da empresa. “São 15 dias para que o governo converse com os caminhoneiros”, disse Parente.