O uso inadequado de antibióticos tende a elevar a morte por bactérias resistentes à primeira causa de morte no mundo até 2050. O alerta foi feito pelo médico infectologista Carlos Quadros, do Hospital e Maternidade Dr Christóvão da Gama (HMCG), com base em estudos da Organização Mundial da Saúde. No Brasil, um dos agravantes é a venda não fracionada de medicamentos, o que provoca o uso excessivo ou até o aproveitamento das eventuais sobras dos antibióticos por parte dos pacientes, sem nova recomendação médica. As chamadas doenças de inverno como gripes e suas complicações aumentam a busca por estes medicamentos. “O problema tem de ser combatido por três frentes simultâneas que envolvem os profissionais da saúde com atuação em hospitais; a comunidade a partir de campanhas de conscientização e o controle em uso na criação de animais para o consumo humano”, informa Quadros.
O HMCG intensificará este ano as ações do Grupo de Gestão de Antimicrobianos, que abrange protocolos para tratamento contra fungos, vírus e bactérias a partir de uma equipe multidisciplinar da saúde, com o objetivo de disseminar informações sobre o uso correto dos antibióticos nos pacientes.
“Um dos profissionais essenciais que fará parte deste grupo é o farmacêutico, que, atualmente, tem ampliado sua presença nas ações preventivas e corretivas do uso de antibióticos, podendo oferecer intervenção rápida graças aos conhecimentos técnicos”, informa o especialista.
Como exemplo sobre a gravidade do uso indiscriminado de antibióticos, o médico informa que mesmo com a exigência de receita, muitos pacientes acabam por pressionar os médicos para a prescrição de antibióticos sem que haja evidente necessidade de uso deste medicamento. Segundo ele, a própria indústria farmacêutica, em parte, sente-se desestimulada a novos lançamentos por conta do alto custo para desenvolvimento e da baixa eficácia que novas drogas podem ter frente ao fortalecimento das bactérias pelo uso inadequado por parte da população e profissionais de saúde.
A resistência aos antibióticos é uma resposta dos microrganismos ao uso desses medicamentos. Seu uso — e especialmente seu abuso — faz com que, por meio de diferentes mecanismos biológicos, percam sua eficácia. As bactérias deixam de ser sensíveis aos seus efeitos e são necessários princípios ativos cada vez mais agressivos para eliminá-las.
Segundo Quadros, quando o indivíduo chega ao ambiente hospitalar, em geral com maiores riscos a contaminações, torna-se alvo vulnerável para contaminações mais violentas pelas chamadas superbactérias, como a temida KPC presente em boa parte dos os hospitais brasileiros, porém com diferente grau de resistência.