“Está corrido, pelo amor de Deus”, define a prefeita interina de Mauá, Alaíde Damo (MDB), sobre a nova rotina de comandar uma cidade de 462 mil habitantes. Mesmo vice-prefeita, a vida caseira era mantida, até ser pega de surpresa ao saber minutos antes que tomaria posse no lugar do prefeito Atila Jacomussi (PSB), licenciado enquanto tenta, há nove dias, sair da prisão na sede da PF (Polícia Federal), em São Paulo.
Sem saber a situação da Prefeitura de Mauá, Alaíde está se adaptando a essa nova fase. Por ora, ela tem a função de despachar documentos e assinar requerimentos de vereadores, sob tutela do núcleo duro de Atila: o pai e presidente do Legislativo, Admir Jacomussi (PRP); chefe do Gabinete e secretário de Comunicação, Márcio de Souza; e o superintendente da Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá), Israel Aleixo.
“Nunca nem sonhei com isso (em ser prefeita). Entrei de vice sem querer, agora sou a presidente do MDB (de Mauá) sem querer e as coisas foram acontecendo, sem esforço nenhum. Faço as minhas coisas necessárias (no cotidiano), porque tenho muita coisa para fazer e isso (a posse no governo) me pegou de surpresa. Então vou lá e despacho junto com eles”, explica a prefeita interina.
Às 17h desta quinta-feira (17), Alaíde estava na sua casa, após ir à Capital, com a sua filha e secretária de Relações Institucionais, Vanessa Damo (MDB), e o responsável da Pasta de Justiça e Defesa da Cidadania, Rogério Babichak. O objetivo era regularizar os pagamentos dos precatórios, em torno de R$ 361 mil mensais ao TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), para evitar sequestro de receitas e perda do direito a verbas externas.
Desde que assumiu o comando do Paço na noite de terça-feira (15), Alaíde espera, pela manhã, uma ligação do núcleo duro de Atila, para informá-la qual será a sua atividade do dia como chefe do Executivo. A emedebista confirma que realiza os despachos no gabinete do prefeito, antes ocupado por Atila. “Faz dois dias que estou lá. Preciso me inteirar do que está acontecendo, do que é viável. E eles estão me orientando”, recorda.
Um dos primeiros atos de Alaíde como prefeita ocorreu logo após rubricar a transmissão do exercício: assinar a exoneração de João Gaspar (PCdoB) como secretário de Governo e de Transportes. “Colocaram isso pra mim, então pensei ‘vamos fazer né?’”, lembra, ao citar a orientação do núcleo duro de Atila. O ex-secretário também está preso na superintendência regional da PF.
Acusado de lavagem de dinheiro, Atila está na cadeia pela apreensão de R$ 87 mil em notas vivas e não declaradas, encontradas por agentes federais em sua casa, no dia 9. Em sua residência alugada, Gaspar também não explicou de onde vieram R$ 588,4 mil e mais € 2,9 mil. Ambos são investigados na Operação Prato Feito, que apura desvio de verbas na merenda escolar, uniformes, materiais didáticos em 30 cidades do Estado.
Sob indefinição, Alaíde admite que o governo ainda pertence a Atila, que solicitou ao Parlamento 15 dias de licença na terça-feira, ao mesmo tempo em que busca habeas corpus no STF (Supremo Tribunal Federal). “Estamos no aguardo dos acontecimentos. Espero que o Atila resolva esse assunto e acabe voltando (ao cargo de prefeito)”, torce.
Primeira mulher a ocupar o cargo de prefeita na história de Mauá, Alaíde não consegue se imaginar em ser efetivada ao posto de chefe do Executivo, em cenário de cassação de Atila, uma vez que tudo ainda é novo para ela. Inclusive, a emedebista evita comentar as razões que levaram o socialista à prisão. “Não vou dar minha opinião. Justiça é algo que tem que aguardar e nem procuro me inteirar muito do que houve para não encher a minha cabeça… Deus me livre”, assegura.