Ao mesmo tempo em que a Câmara de Mauá votava o pedido de abertura do processo de impeachment do prefeito Atila Jacomussi (PSB) – arquivado em plenário –, preso desde o dia 8 pela PF (Polícia Federal) por meio da Operação Prato Feito, a vice-prefeita Alaide Damo (MDB) estava em sua residência. Alheia ao caos político na cidade, a número dois do Paço assumiu o comando do governo, após pedido de licença por até 15 dias do socialista.
A possibilidade de Alaide assumir o comando do Executivo era crescente nos últimos dias, desde a prisão de Atila, citado pelas investigações da PF como um dos beneficiários de um cartel de empresas que fraudava contratos e licitações nos serviços de merenda, uniformes escolares e materiais didáticos em 30 cidades paulistas. O socialista foi preso pela apreensão de R$ 87 mil não declarados em sua residência.
Logo após o Legislativo enterrar o pedido de impeachment de Atila, protocolado pelo PT nesta segunda-feira (14), o RD esteve em frente à casa de Alaide, na Vila Emilio. Após insistência em contatá-la sem sucesso, a reportagem se dirigiu ao escritório político do marido e ex-prefeito Leonel Damo (sem partido), onde não quis gravar entrevista, mas confirmou que a esposa se encontrava na residência naquele momento.
Por volta das 18h, Alaide foi à Prefeitura de Mauá, para assinar a transmissão do exercício do cargo de prefeito para sua tutela, enquanto Atila tenta reverter o decreto de prisão preventiva dado pelo TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) na semana passada. A defesa busca habeas corpus junto ao ministro relator Rogério Schietti, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), para o socialista responder o processo em liberdade,
Mesmo sem atividade na vida política, Alaide entrou para história de Mauá a partir do momento em que assinou a transmissão do cargo para prefeito, visto que a cidade nunca antes foi comandada por uma mulher. Por ironia da vida, sua filha e ex-deputada estadual Vanessa Damo (MDB) – hoje secretária municipal de Relações Institucionais – chegou perto em 2012, mas foi a segunda mais votada naquele processo eleitoral.
A ocupação como vice-prefeita na chapa eleitoral de Atila também parece uma obra do acaso. Inicialmente, o número dois da chapa do socialista era para ser José Carlos Orosco Júnior (PDT), na ocasião marido de Vanessa. O pedetista, porém, teve a candidatura indeferida pela Lei da Ficha Limpa, ao ser condenado a pagar multa por ter realizado doação acima do limite permitido para ex-esposa, na eleição de 2014.
Desde que assumiu como vice-prefeita de Mauá em 1º de janeiro de 2017, Alaide esteve em poucas agendas oficiais no Paço. Uma delas na própria posse como a número dois no Executivo ao lado de Atila. Em outra oportunidade, esteve na oficialização de Vanessa como secretária de Relações Institucionais em abril. Agora, retornou para ser a primeira prefeita na história de Mauá.
A posse como prefeita de Mauá ocorreu ao lado do pai de Atila e presidente do Parlamento, Admir Jacomussi (PRP), um dos comandantes intelectuais do atual governo, enquanto o filho tenta liberdade da superintendência da PF, no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo.