As mulheres carregam dentro de si a possibilidade de gerar uma criança. No entanto, a questão de ser mãe vai além do dom. É também uma responsabilidade que acarreta à vida da mulher e o conjunto familiar. A decisão, segundo elas, pode interferir em restrições econômicas e sociais, uma das explicações porque 8% das mulheres decidem ter filhos somente após os 30 anos no Brasil, segundo estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Na visão da antropóloga da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Carla Cristina Garcia, o fator econômico é um dos principais determinantes na hora de pensar na maternidade. “Hoje as mulheres têm um acesso maior em postos de trabalho qualificados, pensam em investir na carreira e até mesmo em ingressar em uma universidade”, afirma.
No estudo do IBGE registrado em 2015, o aumento da representatividade de mães entre 30 e 39 anos saltou de 22,5% em 2005 para 30,8% em 2015, enquanto houve redução em registros de maternidade entre jovens de 15 a 19 anos, com percentual de 20,3% em 2005, para 17% em 2015.
Exemplo é a jornalista Cibeli Leão, que esperou até os 32 anos para ter a segunda filha, Carolina. Moradora em Ribeirão Pires, Cibeli conta que a diferença da economia contribuiu na decisão. “Para a Marina eu conseguia comprar artigos de marca, colocar em escola particular. Já a segunda, praticamente tudo que tem é doado”, conta. Diz ainda que, embora o emprego fosse inferior na época, quando a primeira filha, a Marina, nasceu, o casal conseguia dar conta das dívidas. Hoje, com um emprego melhor, tem dificuldades no orçamento.
O mesmo se aplica à psicóloga Kátia Cristina da Silva Costa, que teve seu terceiro e último filho, Leonardo, aos 41 anos. Na visão da mãe, hoje em dia está mais caro criar um filho, e é essencial que a família tenha uma estrutura séria ao decidir ter uma criança. “Antigamente o ensino público era bem melhor, tínhamos mais segurança, as coisas eram caras, mas a durabilidade era bem maior e podíamos contar ainda com a saúde pública, hoje é impossível”, conta a mãe, também de Ribeirão Pires.
A professora de Educação Física de Santo André, Viviane da Cruz Azevedo, tentou engravidar durante 10 anos, e conseguiu ter a primeira filha, Olivia, somente aos 38 anos, e a segunda, Alice, aos 40. O fato obrigou Viviane a optar entre a carreira e a maternidade. “Tive de parar o meu trabalho para conseguir cuidar da minha filha. Hoje, depois que voltei a trabalhar, faço o meu horário para conseguir trabalhar e ser mãe ao mesmo tempo”, conta.
Número de filhos caiu 18,6%
A taxa de fecundidade em todas as idades também declinou ao longo do período de 30 anos. O IBGE registrou que as brasileiras têm menos filhos hoje do que há 10 anos. Uma amostra dessa realidade fica evidente ao constatar que em 2004, a média de filhos por mulher era de 2,14, número que caiu em 2014 para 1,74, o que reprenda uma queda de 18,6%, segundo a Síntese de Indicadores Sociais, registrada em 2015.
Embora biologicamente a mulher sempre estivesse associada à maternidade, socialmente a relação também foi modificada ao longo da história. Atualmente, um dos fatores para a mudança de comportamento é o mercado de trabalho, que pesa na decisão de atrasar a gestação e faz com que a mulher comece a atravessar fronteiras e transpor barreiras de dona de casa para galgar setores importantes na sociedade.
No Brasil, 41% da mão de obra formal são formados por mulheres, com 24% delas em cargos de gerência. O Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) registra ainda um acréscimo na taxa de atividade para mulheres de todas as faixas etárias, após 2005. Em 2001, 30% da população economicamente ativa correspondia às brasileiras com idade igual ou superior a 40 anos; 40% entre 25 a 29 anos; 23% às jovens de 18 a 24 anos; 5% de 15 a 17 anos e 1% de 10 a 14 anos.
Doutora em Sociologia da Universidade Metodista, Verônica Patrícia Aravena Cortes, comenta que a partir da década de 1980 até agora o papel da mulher foi extremamente modificado. O empoderamento feminino e a formação da mulher no mercado de trabalho entraram em discussão. “A mulher era vista como a rainha do lar, a que casava sabendo que ia ter filhos, hoje ela tem independência maior e, muitas vezes, opta por não ter filhos mesmo que isso lhe custe cobranças”, relata ao dizer ainda que há mulheres que abrem mão da licença maternidade para não serem excluídas do mercado de trabalho.