Responsável pela iniciativa de suspender os repasses de São Caetano ao Consórcio Intermunicipal Grande ABC, o vereador Edison Parra (PSB) é categórico ao dizer que nunca viu nenhum beneficio da entidade regional ao município. O dispositivo aprovado pela base aliada do prefeito José Auricchio Júnior (PSDB), na quinta-feira (19), anula a destinação de R$ 1,2 milhão dos cofres públicos da cidade à organização.
Na semana passada, a Câmara de São Caetano realizou sessão extraordinária para votar seis projetos de lei do governo. Um deles era autorização para concessão de contribuições ao exercício 2018, que somavam R$ 2,3 milhões. Entre os beneficiados, estavam a 3ª Companhia do 6° Batalhão da Polícia Militar, delegacias, tiro de guerra, Corpo de Bombeiros e o Consórcio, que representava 51,88% de fatia nesse bolo.
Junto ao projeto, Parra conseguiu emplacar a emenda por meio de 16 vereadores da base aliada de Auricchio. O movimento surpreendeu, uma vez que o prefeito tem amplo domínio no bloco de sustentação e qualquer movimento não passaria sem antes o Palácio da Cerâmica dar o aval. No entanto, os parlamentares desconversam ao atrelar a ação do Parlamento a um desejo escuso do Executivo.
Parra segue a linha e nega diretamente que a emenda teve um sinal verde do governo. Mesmo assim, o socialista mantém postura ácida à entidade regional. “Eu coloquei a emenda para não mandar mais nada ao Consórcio, porque nunca vi nada que essa entidade tenha feito por São Caetano. E isso não é opinião, e sim um fato. Nunca entregou nada para cidade”, pontua.
Entretanto, Parra dá pistas de que Auricchio já tinha intenção de aplicar essa jogada, ao dizer nas entrelinhas que a emenda acompanha um desejo do governo. “Você sente no dia a dia, a má vontade de repassar essa grana toda ao Consórcio. E vamos falar a verdade: o Consórcio foi muito criticado no passado quando o PT tinha hegemonia, porque aparelhava a entidade. E hoje, o PSDB tem hegemonia e não mudou nada”, diz.
A crítica de emparelhamento nos cargos do Consórcio pelo vereador não recai ao PSDB por inteiro, até porque Auricchio faz parte do quadro do partido, e sim ao prefeito de São Bernardo e presidente da entidade regional, Orlando Morando (PSDB). Partiu dele a indicação dos secretários executivos da organização, Fabio Palacio (PSD), desafeto político do chefe do Executivo de São Caetano e agora desligado do posto, e Uriel Carlos Aleixo, atual ocupante do cargo.
Palacio é uma peça importante para explicar a fissura entre Morando e Auricchio. O ex-vereador de São Caetano foi adversário do tucano na eleição de 2016 e é atualmente pré-candidato, mais provavelmente a deputado estadual, mesmo cargo que disputará o filho do prefeito, Thiago Auricchio (PR).
Agora a proposta de concessões com a emenda contrária ao Consórcio depende da sanção de Auricchio. O posicionamento do governo ainda não é claro, ao menos publicamente, por parte dos vereadores. Caso o prefeito vete o dispositivo agregado pelo Legislativo à redação original, a proposta voltaria a ser discutida pelos parlamentares, que podem derrubar o veto. E, enquanto isso, nada de repasses ao colegiado de prefeitos.
Auricchio pode desatar um efeito dominó
Cabe ao prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB), definir um possível futuro ao Consórcio Intermunicipal Grande ABC. Caso o tucano sancione a lei que estabelece contribuições ao exercício 2018, junto ao veto de repasses à entidade regional, outras cidades como Mauá e Rio Grande da Serra podem engrossar o êxodo. Em outubro, Diadema foi o primeiro município a abandonar o barco.
Um dos municípios mais propensos a deixar a entidade regional é Mauá. Pessoas próximas ao núcleo duro do prefeito Atila Jacomussi (PSB) não esconderam que, se São Caetano deixar o colegiado de prefeitos, poderia ser o próximo a pedir o desembarque. A sinalização partiu no mesmo dia que o vereador sulsancaetanense Edison Parra (PSB) aprovou uma emenda que suspendia repasses da gestão Auricchio ao Consórcio.
Em Rio Grande da Serra, vereadores do Legislativo criticaram a gestão do Consórcio, sob comando do prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB). “Sou defensor do Consórcio e conheço as ações realizadas. E, como vereador, tentei dialogar de forma mais próxima, mas não fui atendido. Acredito que é necessária uma comunicação que chegue aos vereadores”, reclama o parlamentar Akira Auriani (PSB).
Há informações de que os vereadores da base aliada do prefeito de Rio Grande da Serra, Gabriel Maranhão (ex-PSDB), podem seguir o exemplo de São Caetano na próxima semana. “Estamos conversando com os demais vereadores. Mas estamos sim insatisfeitos. Depende do governo mandar o projeto de redução de 0,25% para 0,17% (do Orçamento ao Consórcio) para analisarmos a possibilidade”, aponta Claurício Bento (DEM).
Em outubro, o prefeito de Diadema, Lauro Michels (PV), conseguiu se desvincular do Consórcio e romper de vez com Morando, seu desafeto político. Na ocasião, o verde disse publicamente, poucos dias depois da entrega do ofício determinando o desligamento da cidade, que Mauá e São Caetano estavam com ele nesse processo, porém, Atila e Auricchio decidiram adotar cautela.
Chama a atenção também a divisão eleitoral e como o Consórcio está no meio desse cabo de guerra. Morando e prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), são apoiadores declarados do ex-prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), ao governo paulista. Michels, Atila e o homólogo de Ribeirão Pires, Adler Kiko Teixeira (PSB), estarão no palanque pela reeleição do governador Márcio França (PSB), que pode contar também com Maranhão e Auricchio.
Nesse cabo de guerra, quem fica numa situação mais delicada é Kiko, que tem proximidade com Morando.