Principal fator de contaminação de solo e água subterrânea, os postos de combustíveis representam 63,50% das áreas contaminadas no ABC, conforme levantamento do RD junto ao relatório da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) de dezembro de 2017. Ao todo, as sete cidades contabilizam 463 pontos contagiados por agentes poluentes, enquanto o número de terrenos descontaminados é de 125.
Do total de pontos contaminados, o relatório da Cetesb aponta 294 casos foram ocasionados por postos de combustíveis, muitos ainda ativos e outros que já cederam espaço a outros tipos de empreendimentos. Em seguida, as indústrias representam 135 casos (percentual de 29,15%), seguidas de 25 áreas comerciais (5,40%), oito por razões residuais (1,73%), como aterros de resíduos sólidos, e uma causa desconhecida.
Santo André
Para chegar a tais dados, o RD se utilizou do relatório anual e posteriormente a própria assessoria da Cetesb, que ratificou os números. A cidade campeã é Santo André, com 157 pontos detectados pela companhia. Dentro desse quadro, os postos de combustíveis representam 114 localidades, enquanto as indústrias contabilizam 27 áreas, seguida de estabelecimentos comerciais (13), resíduos (dois) e uma causa desconhecida.
Chama a atenção em Santo André novamente o aterro sanitário, no bairro Parque Gerassi – classificado no relatório como contaminação por resíduos –, além de indústrias como Pirelli, Braskem, Paranapanema, Rhodia e Solvay, entre outras. Nos pontos de combustíveis, empresas de ônibus também são apontadas no levantamento, como a Viação Vaz e a Expresso Guarará, que deixou de circular em 2016.
São Bernardo
Segundo no relatório, São Bernardo totaliza 133 pontos, com 75 áreas contaminadas por razão de postos de combustíveis, 49 por agentes poluentes oriundos por indústrias, seis comerciais e três espaços por resíduos. Curiosamente, até o posto de combustível da Secretaria de Serviços Urbanos está na lista da Cetesb. O Paço tem mais dois espaços no bairro Alvarenga: na Estrada da Cama Patente e a área do antigo lixão.
Também são citados, em São Bernardo, postos de combustíveis de empresas de ônibus como a Metra, responsável pelo corredor ABD, e a empresa Trans Bus Transportes Coletivos, uma das permissionárias da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos). Entre as indústrias, constam Akzo Nobel, Basf, Scania, Mercedes-Benz, que já passam por processo de remediação, enquanto a Volkswagen ainda é avaliada.
São Caetano
São Caetano é a terceira na lista, com total de 63 áreas contaminadas, sendo 43 por conta de postos de combustíveis, 16 por atuação industrial e quatro comercial. Um dos principais fatores de geração de empregos e riqueza da cidade, a General Motors do Brasil soma três áreas, sendo apenas uma com processo avançado de remediação.
Outras cidades
Mauá e Diadema contam, cada uma, com 44 áreas com contaminação constatadas. O município mauaense é o único da região que tem mais casos de poluentes de solo por indústria do que postos de reabastecimento: 20 a 19, respectivamente. O quadro é completado por dois pontos comerciais e três por resíduos. Na cidade diademense, são 28 pontos por postos de combustíveis e 16 por indústrias.
Ribeirão Pires tem 20 pontos de contaminação constatados pela Cetesb: 14 pontos de combustíveis e seis contágios por poluentes industriais. Na cidade vizinha de Rio Grande da Serra, são dois casos, um de cada natureza.
Tipos de contaminação
Nos casos levantados pelo relatório anual da Cetesb, predominaram contaminações por combustíveis (casos dos postos de reabastecimento) e metais (industriais) e outros poluentes, que atingiram solo, subsolo, águas subterrâneas e alguns casos águas superficiais.
Descontaminação
Entre as 125 áreas reabilitadas para uso declarado pela Cetesb, 64 estão em Santo André, São Caetano (21), São Bernardo (18 terrenos), Mauá (10), Diadema e Ribeirão Pires (ambos com seis). Rio Grande da Serra não teve espaço com descontaminação confirmada.
Estabelecimentos inativos são problema, diz Regran
Presidente do Regran (Sindicato Comércio Varejista de Derivados Petróleo) do ABC, Wagner de Souza aponta que o grande problema para combater a contaminação de solo por postos de combustíveis é os estabelecimentos fechados. Por outro lado, o sindicalista atenua o cenário ao projetar que o número de incidência de contágio por agentes poluentes tende a cair por conta de normas ambientais mais rigorosas no setor.
Em último levantamento realizado pelo Regran, o ABC contabilizava, no ano passado, 97 postos de combustíveis desativados. Por sua vez, a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) enumerou 122 pontos. Em ambos os cenários, os estabelecimentos inativos são um dos grandes fatores de contaminação de solo, por deterioração dos tanques subterrâneos e falta de monitoramento dos responsáveis pelo empreendimento.
Souza cita que esse contexto ainda é um entrave para evitar novos vazamentos de agentes químicos no solo, subsolo e até em águas subterrâneas. “Quem tem que fazer isso é o dono do terreno, mas a remediação pode ficar tão cara, que pode superar o valor do terreno. Em seguida, esse imbróglio pode virar um processo judicial. Então esse mercado de postos fechados é um problema sério”, explica.
Mesmo com esse entrave, o sindicalista aponta que a legislação está mais rígida e que os casos de contaminação de solo constatados pela Cetesb, em grande parte, são frutos de incidências do século passado. Em 2000, o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, estabeleceu que os tanques de postos de combustíveis tivessem parede dupla, a fim de evitar vazamentos.
“Esse levantamento (da Cetesb) representa números de postos que estão contaminados e que já contam com um plano de ação para descontaminação. Então a maioria desses terrenos está em processo de remediação. E, hoje, todos os postos são obrigados a ter tanques com paredes duplas, em vez de paredes simples, além de controle eletrônico de vazão. Por isso, ao longo do tempo, esse número vai baixar”, completa Souza.