Quem depende dos serviços de saúde pública em Diadema passa por um verdadeiro martírio. Para tirar essa conclusão, basta adentrar nos corredores do Hospital Municipal, situado no bairro Piraporinha, para se deflagrar com cenas de superlotação, higiene precária, corredores lotados de paciente em macas, insegurança, estrutura deteriorada e semblantes de moradores e funcionários sem perspectivas de melhorias.
Para acompanhar a situação do hospital, o RD entrou na edificação nesta terça-feira (4). Logo no térreo do prédio, onde funciona o PS (Pronto Socorro), pacientes em macas e familiares se aglomeram nos corredores, sem privacidade e dignidade. O mesmo banheiro é usado por homens e mulheres, porém, o mais grave é que o espaço também é dividido entre enfermos e visitantes, o que gera risco de infecção.
Pelas escadarias do prédio, outro problema grave, uma vez que os acessos são estreitos, o que pode atrapalhar a evacuação de pacientes, visitantes e funcionários em situação de emergência, como incêndio ou queda de energia. Ao usar o elevador, bastou a porta abrir no terceiro andar, onde funciona a enfermaria, para a reportagem se deparar com mais um paciente deitado em uma cama no corredor.
Auxiliar de pedreiro Natália Cristina Pereira, 33 anos, estava no local para que a sua filha fosse finalmente internada após desmaiar duas vezes, por diabetes. Dias antes, ela estava no mesmo local, devido a uma enxaqueca, e presenciou uma triste cena. “Chamo isso (hospital) de açougue. Domingo (1º), vi um senhor morrer no corredor. Moro há 33 anos na cidade e aqui só piora. Nem lugar para acompanhante há”, reclama.
Vinicius Pereira dos Santos, 19 anos, ficou seis dias no Hospital Municipal devido a uma overdose, conforme explica, e os seis dias em uma maca no corredor. “Isso aqui é ruim demais. Mas a gente não tem dinheiro para pagar um hospital particular. Quando fiquei internado, bati a cabeça na parede e tive que fazer tomografia, mas para isso, me mandaram para o Quarteirão (da Saúde), para fazer o exame lá e depois voltar”, lembra.
Outro lado
Se a vida de pacientes e acompanhantes é difícil no Hospital Municipal, pode-se dizer que funcionários também passam por um calvário diário. Trabalhadores do equipamento relatam que vagas dos servidores aposentados não foram repostas nos últimos anos. Há testemunho de depressão e distúrbios osteomusculares, que são lesões por esforços repetidos principalmente em membros superiores, escápulas e pescoço.
“A quantidade de profissionais hoje é bem inferior ao número de atendimentos. As enfermarias, que ocupam o terceiro, quarto e oitavo andares, são 26 leitos com 26 pacientes cada andar, mas com a superlotação do PS, pacientes são internados em macas, elevando o número para 30. Em cada andar, há um enfermeiro e um ou dois clínicos por especialidade”, relata um funcionário do Hospital Municipal, que pediu sigilo, por medo de represálias do governo.
A estrutura geral do prédio também é deteriorada, com portas sem maçanetas, banheiros de funcionários onde o box está sem o chuveiro e paredes desprovidas de azulejos. Somado a isso, os servidores precisam fazer “vaquinhas” para comprar café e pizza para jantar.
Além disso, os caixas eletrônicos no estacionamento do Hospital Municipal, à disposição de funcionários, não têm saque de dinheiro. A razão, de acordo com servidores, é que assaltantes tentaram explodir os dispositivos, em tentativa de roubo a mão armada. O episódio teve até funcionários agredidos, conforme relatos.
Entender como pode ocorrer uma tentativa de assalto em caixas eletrônicos no Hospital Municipal não é difícil, pelo fácil acesso de qualquer pessoa ao estacionamento, sem cancela e sem vigilância permanente na portaria. Também não há segurança no muro da avenida Encarnação, onde qualquer pessoa, com auxílio de outra, poderia pulá-lo para as dependências internas do equipamento.
A Prefeitura de Diadema foi procurada para comentar o estado do Hospital Municipal, mas não houve retorno.
Promessa de Michels, novo hospital segue só no papel
Em 2016, o prefeito de Diadema, Lauro Michels (PV), disputou a reeleição, com uma promessa ambiciosa: construir um novo Hospital Municipal. O equipamento seria erguido na avenida Doutor Ulysses Guimarães, próximo ao campo do Taperinha, e substituiria o atual prédio no bairro Piraporinha. No entanto, em pleno 2018, não há sinal concreto de que o projeto sairá.
Para manter viva a maior promessa eleitoral pela reeleição, Michels tenta destravar, na Câmara dos Vereadores, o projeto de lei no qual autoriza o governo a obter a linha de crédito de R$ 124,8 milhões, junto à Caixa Econômica Federal, para construção do novo Hospital Municipal. No entanto, a proposta foi adiada três vezes e não há convencimento da base aliada para dar aval à medida.
Michels alegou diversas vezes que o atual Hospital Municipal está instalado no prédio pertencente ao INSS (Instituto Nacional Seguro Social) e, portanto, a Prefeitura de Diadema fica impossibilitada de fazer grandes mudanças estruturais no equipamento, embora realize pequenas intervenções no local.