Manifesto pede ‘choque de gestão’ no MAM carioca

Única tela do pintor expressionista abstrato norte-americano Jackson Pollock (1912-1956) existente no Brasil, a pintura de número 16, que pertence ao acervo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), foi colocada à venda e despertou reações iradas de artistas, curadores, museólogos e órgãos oficiais como o Ibram (Instituto Brasileiro de Museus). A tela, doada ao museu carioca pelo milionário norte-americano Nelson Rockefeller, em 1954, é avaliada em US$ 25 milhões, valor que deverá ficar num fundo administrado por uma instituição financeira e cujos rendimentos, segundo a diretoria da instituição, vão tornar o MAM, fundado há 70 anos, autossustentável pelas próximas três décadas.

O Ibram, por meio de seu presidente, Marcelo Araújo, foi o primeiro órgão governamental a se pronunciar contra a venda. Na quinta-feira, 5, ao jornal O Estado de S. Paulo, Araújo reiterou o que dizia a nota oficial, condenando a venda da obra de Pollock e sugerindo a suspensão da decisão do conselho do museu, oferecendo-se para pensar de forma conjunta outras soluções possíveis para a crise financeira que levou o MAM carioca a se desfazer da pintura. “Qualquer argumento para justificar a venda, mesmo o de que o foco do museu é a arte moderna e contemporânea brasileira, é uma falácia, pois o MAM nasceu como um museu internacional.”

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O artista carioca Waltercio Caldas, que começou sua carreira como aluno de Ivan Serpa no MAM carioca, concorda. Ele e outros 150 artistas, curadores e nomes importantes da área assinaram um manifesto sugerindo um choque de gestão no museu. “O MAM sempre esteve em dificuldades, mas devemos buscar outras soluções para resolver a crise, e não vender o único Pollock que temos no Brasil.” Embora seja um museu privado e possa se desfazer de seu acervo, a decisão provocou um trauma no meio artístico.

O pintor paulista Paulo Pasta defende que a venda da obra “abrirá um precedente sério”, revelando, segundo o artista, um comportamento predatório da elite brasileira. “Por que não tentar outras soluções, como a compra e doação da pintura, por exemplo?”

O Masp – Museu de Arte de São Paulo – estava em situação semelhante há dois anos e conseguiu pagar suas dívidas ao criar o primeiro endowment de museus do País, arrecadando R$ 17 milhões em um ano, o que garantiu ao museu paulistano não só o equacionamento das dívidas, mas um caixa de R$ 20 milhões.

Há quem sugira uma parceria entre o Masp e o MAM do Rio para encontrar um meio de gerir o último, replicando o exemplo do museu de São Paulo. Afinal, muitos museus brasileiros estão descapitalizados e com problemas de administração de recursos. Só um choque de gestão no MAM carioca sugerido pelos artistas poderá conservar Pollock em seu acervo, dizem.

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