‘Grande Sertão’ leva prêmio em SP

Os espetáculos Refluxo e Grande Sertão: Veredas foram os vencedores do Prêmio Shell de Teatro, entregue na terça-feira, 20, no espaço Villa Vérico, na Vila Olímpia. A primeira montagem ganhou nas categorias autor, de Angela Ribeiro, e cenário, de Eric Lenate. Apesar da dramaturgia repleta de personagens planas e tipos estridentes, a peça retrata a vida de moradores de um prédio. Na concepção, Lenate criou um elevador cenográfico que abre e fecha suas portas para a plateia, revelando os diferentes andares, com direito a alterações em colunas e detalhes do prédio, o que dá a impressão de que o mezanino no Centro Cultural Fiesp se deslocava para cima e para baixo. “Não existe cenário sem a luz de Aline Santini, sem a música de L.P. Daniel e todos que fizeram parte desse projeto”, agradeceu.

Grande Sertão: Veredas também faturou dois troféus, pela direção de Bia Lessa e a atuação de Caio Blat. A montagem adentrou o sertão de Guimarães Rosa ao narrar, em uma maratona de quase três horas, a vida e morte de Riobaldo e seu bando. “É muito bom dizer as palavras desse Brasil profundo e viver meu ofício em sua plenitude”, agradeceu o ator.

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Na categoria atriz, a mera indicação para o prêmio surpreendeu Ilana Kaplan. Ela brilhou em Baixa Terapia – Uma Comédia no Divã, dirigida por Marco Antonio Pâmio e ao lado de Antonio Fagundes, Mara Carvalho, Alexandra Martins, Fábio Espósito e Bruno Fagundes. “Eu quase tive um ataque do coração”, afirmou. “É muito difícil comédia e seus humoristas serem indicados para prêmios de teatro. Talvez por uma ideia de que seja inferior”, completou a atriz que dedicou o troféu a todos os artistas do gênero.

O destaque na categoria música, dado a Marcelo Pellegrini, por Pagliacci, recordou o projeto iniciado pelo ator e palhaço Domingos Montagner, morto em setembro de 2016. O espetáculo do Grupo LaMínima foi inspirado na ópera italiana sobre uma trupe circense e fez um elogio ao circo-teatro. “Dedico ao gênio do palco e do picadeiro, que esteve com a gente em tantos trabalhos e sonhou com a gente.”

A luz de Wagner Pinto foi celebrada na montagem Dilúvio, de Gerald Thomas. Já Ronaldo Fraga levou a estatueta pela criação dos figurinos na peça A Visita da Velha Senhora, com Denise Fraga – que ainda competia na categoria atriz. “O figurino de uma peça seria um amontoado de panos se não houvesse um ótimo time de atores para vesti-los”, disse Fraga. O espetáculo de Friedrich Dürrenmatt retrata a oferta que um senhora milionária faz a uma cidade falida. Em troca, alguém deve assassinar o homem por quem a mulher foi apaixonada.

Na categoria inovação, a turma do Grupo XIX foi premiada – tardiamente – pela ocupação na Vila Maria Zélia. Desde 2004, a companhia desenvolve sua residência artística na primeira vila operária de São Paulo, na região do Belenzinho, berço de peças como Hysteria, Hygiene e a mais recente Teorema 21. “Tudo começou com uma invasão”, disse o diretor Marcos Luiz Fernando Marques. “É uma ação que não combina com a cidade. Nosso trabalho é compartilhar.”

A cerimônia apresentada por Cláudia Ohana homenageou o ator Ney Latorraca, com quem contracenou, entre outros trabalhos, na saudosa novela Vamp. “Foram muitos personagens, espetáculos, programas e novelas, descreveu a atriz. Grato à plateia, o ator relembrou a atriz Marília Pêra, morta em 2015. “Foi minha madrinha no teatro, afirmou Ney.

A festa ainda teve espaço para protestos. Muitos relembraram o assassinato da vereadora Marielle Franco, morta na quarta, 14, no Rio. “Parem com essa guerra contra as drogas, contra os negros, contra as mulheres. O Rio não precisa de intervenção militar, mas de intervenção social e educação”, disse Caio Blat. A autora de Refluxo dedicou o prêmio à vereadora. “Não vão nos calar.”

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