Em tempos de incentivo ao uso do transporte não poluente, o único bicicletário municipal do ABC, que fica entre as ruas Presidente Carlos de Campos e Delfim Moreira, no centro de Santo André, funciona na contramão, pois serve apenas de passagem para pedestres. Para revitalizar o espaço, a Prefeitura trabalha num projeto para transformar o local no Beco do Ciclista, em condições de abrigar apresentações culturais e vendas de produtos destinados ao incentivo ao uso de bikes. O Paço está em busca de parcerias privadas para a execução do projeto.
Inaugurado em 2008, com capacidade para abrigar gratuitamente 152 bicicletas, o equipamento tem sido alvo de vandalismo e de usuários de drogas e moradores de rua. O local não abriga magrelas faz tempo, perdeu a vez para os postes e outros pontos próximos à Estação Prefeito Celso Daniel, da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), onde os proprietários preferem deixar suas bikes presas no meio da calçada e até em suportes de orelhões por acharem esses locais mais seguros.
Quem passa pelo bicicletário encontra insegurança, lonas rasgadas, pichação nos muros e instalações com problemas, como ferros de apoio com cadeados e correntes quebradas. “Desde o ano passado que não vejo ninguém deixar a bicicleta por aqui. O espaço serve só para cortarem caminho ou usarem drogas, é bem perigoso”, conta Renato Allan da Silva, funcionário do estacionamento ao lado.
Silva relata que o estado do bicicletário piorou após a guarita da guarda patrimonial instalada no centro do espaço ser incendiada em julho de 2017. “Desde a ocorrência tiraram os guardas e a insegurança duplicou. Se você estacionar a bicicleta aí, não consegue nem chegar na esquina que sua bicicleta já é roubada”, conta. Outra reclamação é que o local é alvo de assaltantes de celulares, que se escondem entre as tendas e abordam vítimas, principalmente no período da manhã.
O bicicletário chegou a ser cogitado para revitalização, com a inauguração da ciclovia que liga o bairro vila Luzita ao centro da cidade. Adalberto Teixeira, ex-segurança patrimonial do espaço, conta que antigamente, o equipamento ficava cheio, os usuários deixavam a bicicleta para pegar o trem em Santo André com destino à Capital. “Às vezes chegava até a ficar sem vagas, de tão cheio que ficava, mas agora está vazio, quebrado, e de vez em quando vejo pessoas pararem e reclamarem do abandono”, afirma.
Com a insegurança, alguns usuários chegam a deixar a bicicleta presa em postes no meio da calçada, na estação, para evitar que seja levada. Na visão do comerciante Jorge da Silva Costa, isso é comum, pela falta de interesse do poder público em desenvolver projetos para o espaço. “Todo dia colocam uma ou duas bicicletas nos postes aqui da rua. Isso porque preferem deixar no meio da calçada, onde tem grande fluxo de pessoas do que perder a bicicleta no bicicletário. Eles já sabem, se deixar ali, é pra ser roubado”, explica.
Para o pedestre Deijaildo Bispo dos Santos, 64, que passa pelo espaço todo dia para ir trabalhar, o abandono é reflexo da falta de interesse da Prefeitura. “Antes eu passava por aqui e era cheio de bicicletas. Agora está às moscas, e a Prefeitura precisaria olhar para esse local, dar atenção aos usuários de bicicletas”, reclama.
Outros usuários relatam optar pelo bicicletário ao lado da Estação Prefeito Celso Daniel, que oferece 334 vagas e o serviço é gratuito. O porteiro Donizete Simioni conta que o bicicletário, aberto de domingo a domingo, das 6h às 22h, fica repleto de bicicletas o dia inteiro, e chega a ser necessário até reconfigurar a posição de algumas bicicletas para que todos os usuários utilizem o espaço com tranquilidade. “O que mais gostam aqui é que é um lugar fechado, onde o próprio usuário prende a bicicleta e leva a chave com ele, e não um espaço aberto à mercê da criminalidade”, conta.
Outros endereços
Além do bicicletário na Estação Prefeito Celso Daniel, a EMTU é responsável pela unidade de São Bernardo, que mantém 68 vagas, na rua Domingo Ballotin, s/n, Centro, no Terminal Metropolitano. A região conta também com bicicletário em Mauá, administrado pela Ascobike (Associação dos Condutores de Bicicletas de Mauá). O espaço é o maior de todo o sistema da CPTM, com 1.968 vagas e funcionamento 24 horas. No local, associados pagam R$ 25 para utilizar o serviço mensalmente e não associados R$ 3 por dia.