Recentes reclamações de moradores sobre corte do abastecimento de água em bairros de Santo André colocou o governo do prefeito Paulo Serra (PSDB) em rota de colisão com a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). A gestão tucana enxergou a redução na vazão como forma de pressão pelo pagamento de dívida estimada em R$ 3,4 bilhões. A empresa, porém, negou alteração no envio de água ao município.
Santo André passou desde a semana passada por redução ou até interrupção em nove setores de abastecimento, que atendem cerca de 60 bairros, conforme reconheceu o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André). Segundo a autarquia, os problemas foram mais frequentes nos horários entre 11h e 18h, causando falta de água em pontos da cidade, principalmente atendidos pelo sistema Rio Claro.
Nesta quinta-feira (25), em áudios que circularam pelas redes sociais, Serra reconheceu as irregularidades no abastecimento de água e assegurou que já cobra da Sabesp uma solução ao impasse. O prefeito ainda falou em mobilizar a população contra a companhia paulista e disse estar desconfiado de que esses casos podem ser uma forma de pressão pelo pagamento do passivo bilionário do Semasa.
De acordo com a autarquia, as falhas na distribuição de água ocorrem desde o dia 19 e que já notificou a Sabesp para regularizar a situação. O Semasa ainda completou que nos horários de alto consumo, a vazão enviada baixou de uma média de mais de 2 mil litros por segundo para 1 mil litros por segundo, porém, houve situações em que o índice chegou a zero.
Em nota, a Sabesp informou que não ocorreu alteração no envio de água em Santo André e encaminha o volume acordado com o governo municipal, assim contrariando a nota do Semasa. Por sua vez, a autarquia garantiu que o abastecimento já estava normalizado nesta quinta-feira, com a média entregue de 2,3 metros cúbicos por segundo desde o início da manhã.
Parque Miami
Mesmo com a afirmação do Semasa de que os serviços estavam normalizados nesta quinta-feira, os residentes do Parque Miami relataram ao RD outro cenário, em que ainda faltava água na região. “Para ter uma ideia, estamos informando onde há bica (fontes naturais de água) na comunidade, porque não há água (nas torneiras) nem para fazer comida”, lamentou um morador.
Tal cenário de descaso fez com que aproximadamente 50 moradores do Parque Miami e arredores se concentrassem, nesta quinta-feira, na Emeief (Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental) Machado de Assis e depois partissem em passeata pela Estrada do Pedroso. Segundo relatos, há pessoas que buscam água da represa, a fim de levá-la para suas casas.
Na manifestação, os moradores aderiram a um abaixo-assinado para regularização do abastecimento da água na região da Represa. Até as 19h, o documento estava com aproximadamente 50 rubricas e será enviado à Prefeitura de Santo André.
Serra deve retomar neste mês as negociações com a Sabesp a respeito de uma solução da disputa judicial envolvendo o passivo bilionário. A empresa estadual cobra R$ 3,4 bilhões, enquanto o governo andreense reconhece R$ 2,7 milhões em débitos e contesta o valor a mais reivindicado nos tribunais e nas negociações entre as partes.
As conversas voltaram à pauta do governo, após a análise da FGV (Fundação Getúlio Vargas), na qual aponta que o Semasa valeria entre R$ 2,5 bilhões e R$ 4 bilhões. Segundo o levantamento, o setor corresponde a R$ 2,5 bilhões como autarquia – entidade administrativa autônoma –, sua atual natureza institucional. Entretanto, caso se torne uma empresa pública – pessoas jurídicas de direito privado –, o valor subiria para R$ 4 bilhões.