Ao assumir o comando da Prefeitura de Mauá, Atila Jacomussi (PSB) projetou um novo tempo aos moradores da cidade, que completou 63 anos de fundação, em 8 de dezembro. Entretanto, a rotina dos mauaenses referentes à saúde segue velha, com filas de três horas ou mais por atendimento, equipamentos fechados e uma série de demissões que deflagaram a crise entre o novo governo e a FUABC (Fundação do ABC).
Prestes a completar um ano como prefeito, Atila não conseguiu desatar o nó na saúde, que também foi motivo de dor de cabeça durante os quatro anos da gestão do antecessor Donisete Braga (PT). Com o fechamento de até um ano da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Barão de Mauá, no Jardim Maringá, a RD em Revista percorreu as outras três unidades da cidade e somente o posto da Vila Assis sofre menos com lotação.
O governo justificou que as intervenções servirão para implantar o serviço do Pai (Pronto Atendimento Infantil), além de uma base do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). As obras previstas têm valor estimado de R$ 574 mil dos cofres públicos. Entretanto, apesar de deteriorado, o local é de fácil acesso aos moradores e recebe em média 250 pacientes por dia, a maior concentração entre os quatro postos.
Com o anúncio de fechamento da unidade no Jardim Maringá, a reportagem se deparou com lotação, moradores de pé e espera por três horas por atendimento médico nas UPAs da Vila Magini e Jardim Zaíra. Ambas recebem, em média, 200 pacientes por dia. Quando os munícipes souberam do fechamento da UPA Barão de Mauá, veio a certeza de que o ruim iria ainda piorar.
A crise na saúde em Mauá também gerou desempregos e atraso de direitos trabalhistas a colaboradores da FUABC. Nas sessões da Câmara, todas as terças-feiras, um grupo de ex-funcionários protesta e pede ajuda dos parlamentares, à espera por um fim do impasse. A entidade, por sua vez, informa que a gestão Atila demitiu de forma unilateral 516 trabalhadores, embora 150 deles ainda não tivessem confirmação oficial.
As ingerências do governo também surtiram efeito no Hospital de Clínicas Doutor Radamés Nardini, sob gestão da FUABC. Embora não declare isso publicamente, o então superintendente do hospital, Vanderley da Silva Paula, comunicou a Atila o seu desligamento. Antes dele, o comando do equipamento passou neste ano pelo ex-secretário de Saúde e Higiene de Ribeirão Pires, Ricardo Carajeleascow.
Outro impasse entre as partes é a respeito da dívida, visto que a FUABC cobra R$ 123 milhões de pagamentos em atraso, enquanto o governo mauaense reconhece até R$ 40 milhões. Ambas as partes negociam um valor consensual do passivo e também um contrato mais enxuto financeiramente, que reduziria aproximadamente R$ 15 milhões de repasses mensais para cerca de R$ 13 milhões.
Além de passivos com a FUABC, outra dívida sem consenso entra no radar de Atila e pode pesar futuramente aos bolsos dos contribuintes mauaenses. A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo) cobra R$ 2,5 bilhões do município – mais que o dobro do orçamento de 2018, em R$ 1,1 bilhão. A aposta de Atila é a judicialização, uma vez que o Paço não reconhece saldo devedor à estatal.
Em nota, a Sabesp destaca que a ação indenizatória já julgada e os precatórios no valor aproximado de R$ 640 milhões foram expedidos neste ano. Além desses valores, Mauá tem, segundo a companhia, mais R$ 1,9 bilhão referente à inadimplência das faturas de água desde 1996, cenário agravado em 2012, quando a Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá) reduziu seus pagamentos em torno de 2% a 4% ao valor cobrado.
Por outro lado, Mauá se vestiu de amarelo em 2017. A cor predomina muros e muretas nas vias públicas, postes de iluminação, chafariz do Paço, paredes do Teatro Municipal, no Terminal Rodoviário, além das linhas expressas dos ônibus municipais na parte frontal da lataria e outros espaços públicos. Nem mesmo o cruzeiro do cemitério do Jardim Santa Lídia, há menos de uma semana do Dia de Finados (2 de novembro), escapou, embora o governo tenha voltado atrás logo depois, ao pintá-lo em branco.