Moradores do Núcleo dos Ciganos, no Jardim Utinga, em Santo André, receberam nesta quarta-feira (22) o lançamento do programa Moeda Verde, que possibilita a troca de materiais recicláveis por alimentos hortifrúti. Ainda em fase de testes, a proposta é inspirada em uma ação denominada Câmbio Verde, consolidada pela Prefeitura de Curitiba, Paraná, desde 1991.
Organizado pelo Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), o programa estará ao alcance dos moradores do bairro a cada 15 dias até meados de abril. Nessas ocasiões, uma van com alimentos hortifrúti e um caminhão para recebimento de lixo seco – materiais recicláveis – estarão na rua Comendador Júlio Pignatari ou proximidades.
A escolha pelo Núcleo dos Ciganos se deve por ser um ponto mais crítico da cidade em acúmulo de materiais jogados por pessoas. “Acho que o programa é uma visão moderna de como tratar a reciclagem e a educação ambiental, ao aproximar o munícipe desse problema e que tenha motivação maior pela solução dele”, diz o superintendente do Semasa, Ajan Marques de Oliveira.
A troca é feita a cada cinco quilos de materiais reciclados – metais, papelão, plásticos e outros – por um quilo de alimentos. A ação somente é válida para moradores do bairro, embora futuramente o programa possa estabelecer pontos em outras localidades carentes da cidade. “Acho ótima (a medida), porque essas coisas espalhadas criam enchentes. E (a troca por alimento) ajuda bastante e economiza, porque está tudo muito caro”, lembra a dona de casa Jocicleide Oliveira Santos, 46 anos.
Em Curitiba, o programa Câmbio Verde foi criado com intuito de complementar a alimentação da população que recebe até 3,5 salários mínimos e possibilita a troca de quatro quilos lixo reciclável por um quilo de hortigranjeiros. Também é possível substituir dois litros de óleo vegetal e animal por um quilo de alimento. A cidade conta com mais de 100 pontos de troca que funcionam quinzenalmente.
Diretor do Departamento de Resíduos Sólidos do Semasa, José Elidio Rosa Moreira, explica que o objetivo do programa é trabalhar para que cada vez menos resíduos secos sejam destinados ao aterro municipal, junto com lixo úmido – formado por materiais orgânicos e não recicláveis. Uma vez que não é realizada a separação dos produtos antes da coleta, mais difícil fica a obtenção dos materiais reciclados e sobrecarrega o espaço.
“O programa trata do incentivo da reciclagem de materiais, porque faz parte de um objetivo que o governo tem de fazer com que chegue cada vez menos resíduos dentro do aterro (municipal). Então a proposta é de trabalhar as comunidades no sentido de todo o resíduo reciclado, que não são colocados como lixo seco, tenham o benefício da troca do resíduo por um alimento”, explica o diretor.
Apesar de contar com a política de coleta seletiva, apenas 12% das 35 toneladas diárias de resíduos, coletados como lixo seco, são reaproveitados em Santo André, algo em torno de 4,2 toneladas. O governo também coleta 630 toneladas diárias de lixo úmido – sem contar com materiais agregados equivocadamente ao lixo seco –, que são destinados ao aterro municipal.
Destino de resíduos domésticos em Santo André, o aterro sanitário, localizado entre os bairros Parque Gerassi e Cidade São Jorge, tem vida útil somente até 2020 e o Semasa está em tratativas com a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) pela autorização para ampliar a vida útil do terreno para 2022. A intenção é adotar medidas para impedir um novo fechamento da área, a exemplo de 2010.
A cidade também tem 18 pontos distribuídos para recebimentos de material secos, que não podem ser levados por caminhões de lixo, como colchão, eletrodomésticos, móveis e outros produtos de maior porte. Os locais funcionam todos os dias, sendo 12 deles das 8h às 19h, enquanto outros seis das 8h às 16h. Mais dois serão inaugurados neste ano e o Semasa estima elevar para 27 endereços até 2020.