Estudo da USCS encontra bactérias desconhecidas no córrego Cassaquera

A qualidade da água do córrego Cassaquera, em Santo André, passou a ser analisada e agora integra o Projeto IPH (Índice de Poluentes Hídricos) desenvolvido pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano). O resultado apresentado pelo laboratório de análise ambiental da instituição preocupa, já que foram encontradas três bactérias desconhecidas pelo grupo de estudos, além de outras que podem ocasionar problemas à saúde humana.

“Estamos fazendo o isolamento delas para poder identificar corretamente qual é o tipo de bactéria, mas elas são totalmente fora daquilo que a gente vem estudando. Estamos realizando estudos para saber quem são elas”, explica a responsável técnica pelo projeto, Marta Angela Marcondes, ao revelar que o estudo é uma demanda da sociedade civil.

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As análises são realizadas com base na Resolução Conama 357/05, que estabelece a classificação das águas nacionais e tiveram início em outubro com a retirada da primeira mostra. No entanto, prosseguirá com a coleta de mais duas mostras, uma na próxima semana e outra em dezembro para confirmação dos resultados dentro do que o grupo chama de campanha de amostragem.

Além das três bactérias ainda não identificadas, foram analisadas e encontradas outras cinco, todas com risco de contaminação à saúde, que podem ocasionar gastroenterite (náusea, vômitos e fezes não sanguinolentas), infecção urinária e disenteria bacilar. São elas: Escherichia coli, Shigella, Salmonella: Salmonella spp, Klebsiella e Pseudomonas, esta última bactéria, inclusive, de acordo com o estudo, pode causar infecções externas pequenas a distúrbios sérios com risco de morte.

Desta forma, os maiores problemas e preocupações das bactérias encontradas nas águas estão relacionadas com as questões de enchentes em épocas de chuva, já que as águas podem atingir as residências, e com isso, chegar até as pessoas que vivem nos locais.

Para realização do estudo do córrego Cassaquera, o IPH levou em consideração como sendo água doce de classe 4, onde são observadas algumas condições e padrões, entre elas, materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais, odor e aspecto, óleos e graxas, além de substâncias facilmente sedimentáveis, que contribuam para o assoreamento de canais de navegação.

Marcondes relata que o estudo deverá ser finalizado em dezembro e, depois disso, em janeiro, será entregue ao poder público. “Vamos encaminhar para que eles tenham essa noção do que a gente fez e encontrou”, afirma.

Local tem suspeita de lançamento de chorume

A reportagem do RD esteve em diferentes pontos do córrego Cassaquera, nesta quinta-feira (16), e constatou alguns problemas nas margens, entre eles, mato alto, muito lixo espalhado, além de forte odor. No cruzamento da avenida Professor Luiz Inácio de Anhaia Melo com a rua Louis Armstrong, no bairro Centreville, um líquido de coloração preta saia da tubulação sendo lançado no córrego, e na sequência, se misturava ao esgoto que corre na canaleta. O laboratório da USCS também analisa a qualificação do liquido lançado.

Morador do bairro, o motorista Valdo Olimpio Barbosa, classifica o fato como um crime e relata ter ouvido de um motorista que presta serviço ao Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), com transporte de chorume, se tratar de lançamento do líquido diretamente no córrego. “Ele transporta chorume do Aterro Sanitário, mas parou aqui no córrego e reclamou que diminuíram o volume de serviço de transporte. Ao verificar o líquido me disse que é chorume sim”, conta ao reforçar que não é comum o líquido ser despejado durante o dia e sim à noite ou quando está chovendo.

Sobre a suspeita do líquido despejado no córrego, o Semasa informa que fará uma vistoria no local para tentar identificar a procedência do mesmo e tomar as providências necessárias para solucionar o problema. A autarquia informa ainda que o Aterro Sanitário possui tratamento regular de todo chorume gerado, aprovado pela Cetesb. São 184m³ diários de líquido percolado transportados para o tratamento na Attend Ambiental, localizada em Caieiras, por caminhões-pipa da empresa Peralta, o que corresponde a 4 viagens diárias em veículos com capacidade para 46m³ cada, suficiente para dar o destino adequado à geração total atual de chorume do aterro.

Autarquia pleiteia recursos

O Semasa informou que pleiteia junto à Corporação Andina de Fomento (CAF) R$ 50 milhões para canalização do Cassaquera, entre as avenidas Giovanni Batista Pirelli e Fernando Costa, incluindo a implantação do viário. A autarquia ainda aguarda análise da instituição de fomento.  A construção de novo viário é contestada pela especialista da USCS. “Não entendo porque fazer uma avenida do lado do rio. Quando tiver enchente a avenida vai encher. O poder público tem de modernizar e não replicar projeto da década de 1930, ultrapassado”, aponta Marta Marcondes.

A Prefeitura explica que pleiteia recursos para o córrego por meio do programa federal Avançar Cidades. A proposta contempla intervenções viárias entre as avenidas Giovanni Batista Pirelli e Valentim Magalhães, que incluem pavimentação, sinalização horizontal e vertical, paisagismo, ciclovia, micro e macro drenagem.

A autarquia destacou que faz manutenção e limpeza frequentemente no local. A próxima é ainda novembro. Para combater a poluição do córrego, o Semasa informa que implanta coletores tronco para interligação com o interceptor Tamanduateí, da Sabesp, de onde os esgotos seguem para tratamento. Atualmente 70% do córrego já possui coletores tronco e o Semasa está licitando a obra para finalizar a implantação dos equipamentos.

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