Outubro Rosa e mamografias no ABC estão em mundos distantes

Idealizada para reforçar a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama, a campanha do Outubro Rosa não se aplica de maneira efetiva ao público alvo do ABC. Numa abordagem realizada pelo RD em postos das sete cidades foi constatado que a demora é de, no mínimo, dois meses para fazer uma mamografia, exame crucial para identificar a doença. Questionadas, as administrações sequer responderam sobre o número de mamógrafos disponíveis para atender à demanda. Para se ter uma ideia, o governo do Estado mantém na região apenas um mamógrafo no Hospital Mário Covas, em Santo André.

Dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer) revelam que em 2016 foram registrados 57.960 casos da doença em todo o País, o câncer de mama ainda é o mais comum entre as mulheres, fica atrás apenas do de pele não melanoma. Representa 28% dos casos novos a cada ano.

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Em Santo André, a reclamação vai além. As pacientes também se queixam da falta de médicos nas unidades de saúde, onde não conseguem sequer passar por atendimento para solicitar a mamografia. É o caso de Solange Rodrigues Isolato, de 45 anos, moradora do Jardim do Estádio. Embora esteja com mais de quadro nódulos palpáveis na mama, não conseguiu fazer o exame de mamografia na carreta que esteve em Santo André este ano, pois não tinha pedido médico em mãos. “Informaram que o médico que pode prescrever o exame só terá agenda para o início de janeiro, mas não posso esperar tudo isso”, reclama a munícipe.

O caso da andreense Margarete Andreoli Romanciuc, de 51 anos, é ainda mais grave. A paciente queria fazer mamografia no início de fevereiro deste ano, e foi informada por uma atendente da Unidade de Saúde Jardim Bom Pastor – um dos postos fechados para reforma – que a fila de espera para o exame era de até um ano.

“Agora que fechou nem sei quando vão me chamar”, diz a moradora. No local e na US Vila Humaitá os atendentes informaram que a fila de espera está em mais de dois meses, enquanto na US Vila Lucinda a previsão para o exame passa dos seis meses. “Até mais, tem guia de sete meses atrás chegando só agora”, disse uma atendente. Em relação ao caso de Margarete, a Administração informa que será verificado para saber se houve algum tipo de problema.

Ao contrário dos moradores e atendentes das unidades de saúde, a Prefeitura de Santo André informa que pacientes têm o exame agendado para o mês seguinte à solicitação, dentro do prazo de exames eletivos pelo programa Saúde Fila Zero. O resultado fica pronto em cinco dias úteis. O Hospital da Mulher e o Centro Radiológico, na Vila Bastos são as unidades que realizam o exame. Além do atendimento municipal, o Hospital Mário Covas e o Ambulatório de Especialidades também realizam o procedimento.

Em Ribeirão Pires, embora o Ministério da Saúde estipule que a cada 240 mil habitantes o município tem de ter um mamógrafo, a cidade não possui sequer um aparelho. De acordo com a Prefeitura, os pacientes são encaminhados aos serviços de referência para exames e consultas com especialistas para diagnóstico. Na cidade cerca de 1,8 mil pedidos de mamografia aguardam agendamento.

A rede municipal de Ribeirão registra por mês cerca de 200 novos pedidos, que segundo a Prefeitura metade da demanda é atendida mensalmente de acordo com a oferta de vagas oferecidas pelas unidades de referência. Em contato com as unidades de saúde Central e Jardim Luso, a equipe do RD foi informada que a fila de espera passa dos três meses. A Prefeitura esclarece que as unidades de saúde referências para o exame de mamografia para o município são os AMEs Barradas e Santo André, além do Hospital Mário Covas.

O mesmo se repete em São Caetano, Diadema e Rio Grande da Serra, respectivamentenas unidades Dolores Massei, Parque Reid e Parque América, onde a fila de espera está entre dois a três meses. Em São Bernardo, na Unidade Básica de Saúde do Baeta Neves e na Vila Dayse, após o paciente retirar o pedido do exame com o médico, a fila de espera para realizar o procedimento está em, no mínimo, 20 dias. Em todas as cidades a previsão de entrega de exames varia de 10 a 15 dias.

Em Mauá, de acordo com atendentes da Unidade de Saúde Vila Assis, o agendamento do exame de mamografia tem sido imediato, mas o ultrassom de mama pode passar de seis meses na fila de espera. Em nota, a Prefeitura informa que o exame de mamografia pode ser realizado a qualquer momento com total disponibilidade de vagas. O resultado chega à unidade de preferência da paciente entre 15 a 20 dias.

As prefeituras de Diadema, São Bernardo, São Caetano e Rio Grande da Serra não se manifestaram até o fechamento da edição.

Com diagnóstico precoce 95% dos casos de câncer mamário podem ter cura, diz mastologista

A mamografia é capaz de revelar sinais precoces de câncer de mama, antes mesmo que as lesões sejam palpáveis. O exame ajuda ainda a verificar a necessidade de tratamentos intensivos para tumores e conservações da mama, caso haja necessidade de cirurgia. Para a mastologista do Hospital e Maternidade Brasil, em Santo André, Melissa Veiga Felizi (foto), o autoconhecimento e a realização da mamografia anualmente para mulheres acima dos 40 anos é fundamental. “Se diagnosticados precocemente, 95% dos casos de câncer de mama podem ter cura, eis a importância da mulher se apalpar e fazer exames de prevenção”, diz a médica ao lembrar que integram a prevenção manter alimentação saudável, controlar a obesidade e praticar exercícios físicos regularmente.

Para auxiliar as ações de orientação e prevenção que as Prefeituras fazem anualmente, quatro carretas do programa estadual Mulheres de Peito circulam com a oferta de exames de mamografia gratuitos para mulheres entre 50 a 69 anos, sem necessidade de exame médico. Pacientes fora da faixa etária também podem receber atendimento desde que tenham em mãos pedido médico emitido. A iniciativa tem como objetivo ampliar o acesso e incentivar as mulheres a realizarem exames de mamografia pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Aos que procuram realizar o exame em clínicas particulares os preços estão a partir de R$ 150.

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