Santo André não consegue atrair usuários de ônibus

Foto: Banco de Dados

Sem um sistema de qualidade aos usuários de transporte coletivo, Santo André registra queda de viagens por passageiros nos ônibus das linhas municipais. Em 2012, os coletivos da SATrans (Santo André Transportes) contabilizaram 64,3 milhões de conduções por usuários, enquanto a passagem era R$ 2,90. Em 2016, o número caiu para 57,3 milhões, com a tarifa a R$ 3,80. Nova redução pode ocorrer até dezembro.

Em 2013, a SATrans registrou 62,8 milhões de vezes que os usuários utilizaram os ônibus municipais, enquanto o preço da passagem subiu para R$ 3,20. Entretanto, em decorrência das manifestações de junho, contrárias ao aumento da tarifa, o valor foi reduzido a R$ 3, por decisão do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. Tal custo se manteve em 2014, quando justamente o número de conduções voltou a crescer para 65 milhões.

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Em 2015, os usuários pagaram a conta por um ano sem aumento de tarifa e tiveram de desembolsar R$ 3,50 por cada condução. Diante disso, o número de viagens no ano caiu para 62,1 milhões. Até o último levantamento realizado em 2017, o governo andreense contabiliza 38,8 milhões, em conduções realizadas por pessoa, e o valor da passagem está R$ 4,20.

Para usuários, as reclamações mais decorrentes são intervalos longos e muitas vezes a conservação dos coletivos, além do quanto precisa tirar do bolso para utilizar o transporte público. “Pego as linhas T-25 e T-29, mas esses ônibus demoraram muito, o preço da passagem é caro e geralmente vêm lotados”, lamenta a professora Nilma de Oliveira, 47 anos.

A psicóloga Renata Paes, 38 anos, teve de deixar o carro na oficina e, após 10 anos, voltar a embarcar em um ônibus. No entanto, a experiência no transporte coletivo não foi convidativa para deixar o automóvel na garagem. “A tarifa é muito alta pela demora, que faz a gente esperar um ‘tempão’. A gente não tem tempo a perder. Por isso não vale a pena trocar o carro pelo ônibus”, diz.

Veja a queda de viagens e evolução de tarifas. Clique na imagem para ampliá-la

Morador do Jardim do Estádio, o estudante Raphael Oliveira, 25 anos, usa as linhas B-11, I-04, T-15 e T-17. Para o munícipe, os congestionamentos nas principais vias da cidade, somados à falta de fiscalização contra carros que passam pelas faixas de ônibus, atrapalham um sistema como todo. “Acredito que tem como reformular os trajetos, deixando apenas aqueles com ligações diretas aos terminais passando pelo centro, enquanto outros fazem trajetos bairro a bairro por outros caminhos”, acrescenta.

Economia

O docente de Engenharia Civil da FEI e mestre em Transportes, Creso Peixoto, explica que a queda do número de passageiros tem a ver com a crise econômica e faz contraponto ao aumento das passagens. “Economia mais fria, menos empregos e menos pessoas usando transporte público. Não vejo relação direta com o valor da tarifa, já que o reajuste tem certa aproximação com a inflação”, diz.

Corredores e gratuidade estão na pauta

Uma das soluções apontadas pelo governo do prefeito Paulo Serra (PSDB) ao gargalo do transporte coletivo está na construção de dois corredores na região central de Santo André. As vias fazem parte do financiamento de US$ 25 milhões BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), cujo programa contará com contrapartida igual pela gestão andreense, chegando a US$ 50 milhões – R$ 159,6 milhões.

No começo desta semana, a Secretaria do Tesouro Nacional deu aval para Santo André receber o aporte da instituição bancária, mas antes a Casa Civil da Presidência da República precisa encaminhar o acordo ao Senado, para em seguida ser promulgado. O lançamento das licitações dos corredores de ônibus está previsto para este ano e as obras começariam em 2018, com nova estrutura geral, como calçamento e abrigos.

Também deve ficar para o começo do próximo ano a licitação do lote de 15 linhas que atendem a região da Vila Luzita, hoje operado a título precário pela Suzantur. O governo também tem esperança de que o estudo feito pela empresa Oficina Engenheiros e Consultores Associados Ltda, por R$ 1,2 milhão, dará um diagnóstico mais preciso sobre as deficiências do setor de transporte coletivo de um modo geral.

A cidade ainda tem outras 34 linhas de ônibus operadas pelo Consórcio União Santo André, composto por seis empresas (Guaianazes, Curuçá, Parque das Nações, Etursa, Viação Vaz e Urbana), em contrato firmado em 2008 e com duração até 2023.

Tarifa

A Secretaria de Mobilidade Urbana de Santo André avalia a possibilidade de revisar as concessões de gratuidades no transporte coletivo. A concepção do secretário municipal Edilson Factori e da adjunta Andrea Brisida é que no fim todos os usuários pagam por esses benefícios, distribuídos por meio das tarifas por viagem, hoje a R$ 4,20. Entretanto, a discussão ainda se encontra em fase incipiente.

Aplicativos

Outro fator que pode explicar a queda de passageiros nos ônibus é os aplicativos de carona, como Cabify e Uber. “Em Santo André, devido às viagens pela Cabify com promoção de 50% até o fim de outubro, naturalmente pegamos pessoas que preferem maior praticidade, conforto, segurança por estar dentro de um ambiente controlado. E a incidência de mulheres de ônibus para Cabify é ainda maior”, assegura o gerente geral da empresa, Cláudio Azevêdo. (BC).

Número de carros aumenta 50% em 10 anos na cidade

Se o transporte coletivo não consegue atrair usuários, o número de carros particulares segue em crescimento pelas ruas de Santo André. De 2006 a 2016, a cidade saltou de 365,1 mil para 547,2 mil para automóveis, uma variação de 49,88%, segundo o Detran. A situação se agrava, pois o município também tem fluxo de veículos de cidades vizinhas.

Sem recursos para obras que correspondam ao aumento de veículos, Santo André precisa investir na melhoria de qualidade do transporte coletivo. “Não há sistema viário que dê conta. Então o nosso investimento é em transporte coletivo para incentivar que os usuários deixem os automóveis”, afirma a secretária adjunta de Mobilidade Urbana de Santo André, Andrea Brisida.

Mestre em Transportes, Creso Peixoto aponta que incentivos governamentais das últimas duas décadas colaboraram ao crescimento da frota. “Nos anos 1990, até a virada do século, segundo a ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), o número de passageiros de ônibus já caia, por meio da estabilização da moeda nesse período e o modelo econômico brasileiro ainda depende da venda do carro, enquanto em vários países já buscaram uma certa independência do setor automotivo ou total independência”, atestou. (BC)

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