The Who faz história com a primeira apresentação em São Paulo

O último sonho se realizava para 45 mil fãs que esperaram cinco décadas para estarem diante de Roger Daltrey e Pete Townshend, a gênese da banda The Who. E havia emoção dos dois lados a partir das 21h30 da noite desta quinta, 21, quando os britânicos surgiram no palco do Allianz Park. A fila de canções era estratégica. Ao menos por 20 minutos, ninguém respiraria normalmente.

“I Can’t Explain” foi a primeira que tocaram na América do Sul, a primeira no Brasil, como reforçou Townshend. Um torpedo que traria a reboque “The Seeker”, a absurda “Who Are You” e a pedrinha fundamental “The Kids Are Alright”.

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Depois deles, o rock foi ganhando peso, sisudez e solos elaborados, como já haviam mostrado as bandas Alter Bridge e The Cult, mas curiosamente nada parecia mais pesado do que o Who naquela espécie de linha do tempo ao contrário.

“My Generation” era de chorar, como um filme que se passava ali com um fio de preocupação. O Who era a última banda dinossáurica em atividade que faltava vir ao Brasil. Não há mais desafios.

Com quase o dobro de músicas no set list do que as outras atrações do festival São Paulo Trip, eles só deram algum respiro pela sexta ou sétima. Pete Townshend, ao contrário da comportada plateia Premium, pulava todo o tempo, com o ultimo botão da camisa social branca desleixadamente aberto, mostrando um umbigo gigante nos telões.

“Behind Blue Eyes” abriu um novo bloco, com braços ao alto, celulares sempre erguidos e um uníssono impressionante de vozes. Zak Starkey na bateria, filho de um certo Ringo Starr, tem trejeitos de Keith Moon (o baterista original da banda, morto em 1978), uma hiperatividade que nada lembra o pai.

As luzes se movimentam para a plateia e começa então “Join Together”. É hora dos backings de Townshend e das surpresas que apontaram para o rock progressivo que logo seria criado nos anos 1970.

O Who tem a particularidade de criar não canções ou refrões, mas hinos. Suas músicas são entoadas como gritos de guerra de estádios. E lá estavam eles, em um campo de futebol.

“You Better You Bet, alguns tons mais baixo do que o original, levou de novo a plateia para o lugar da lisergia quase psicodélica dos 60 coloridos pelo Who, uma alegria inexplicável de se estar vivo naquele instante.

Townshend pegou então o violão e anunciou que tocaria três músicas do álbum “Quadrophenia”. Fez com emoção “I’m One”, dividindo vozes com a banda. A próxima, a instrumental “The Rock”, ganhou a força das imagens da Guerra do Vietnã ao fundo e mostrou mais atributos de Zak, terminando com imagens das torres gêmeas desabando em Nova York e do baixista original John Entwistle. Um momento grandioso.

Se chegar assim ao Rock In Rio, onde se apresenta neste final de semana, vai ficar difícil para o Guns n’ Roses, a banda seguinte, segurar o rojão.

O show caminha para fim, com a previsão ainda de “Pinball Wizard” e “Won’t Get Fooled Again”, e algo se passa de invisível por ali. Foi o único show do Who em São Paulo. Eles não voltarão. Uma crueldade do tempo levar uma banda assim. Sorte de quem viu.

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