A arrecadação com multas de trânsito parece ser um dos poucos pontos orçamentários alheios à crise econômica, a qual tira a capacidade de investimento das cidades. O ABC, que também é atingido por essa turbulência e passa pelo discurso de herança maldita da gestão anterior por parte dos novos prefeitos, não foge à regra.
Dos R$ 112 milhões previstos por seis cidades – com exceção de Rio Grande da Serra – com multas ao longo de 2017, já foram agregados aos cofres públicos R$ 80,6 milhões, equivalente a 72% do total projetado. São dados dos portais da transparência, apurados pela reportagem e confirmados pelas assessorias de comunicação das prefeituras.
Chama atenção casos específicos como de Mauá, onde o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) registrou 209,1 mil veículos ao fim de 2016; e a cidade arrecadou até aqui em multas R$ 21,3 milhões, valor pouco inferior a Santo André, com diferença de apenas R$ 18,6 mil. O município andreense, porém, registrou 507 mil veículos.
Estatisticamente se torna um desafio entender os dois cenários, embora o coordenador do curso de Gestão Pública da Universidade Metodista de São Paulo, Vinicius Schurgelies, aponte possibilidades, como dos motoristas de Mauá serem mais imprudentes ou da fiscalização na cidade ser mais rigorosa.
Por outro lado, serve como atenuante para a alta arrecadação de multas nas cidades o fato do motorista brasileiro ser conhecido pela sua imprudência e por cometer seguidos atos de desrespeito à legislação de trânsito. Esse é um cenário que não é desmentido pelas mortes que temos em nossas ruas e estradas, por motivos até banais.
No fim, o cidadão espera pelo menos que esses recursos sejam bem aplicados em campanhas de conscientização, na fiscalização e sinalização em nossas ruas. Dinheiro não falta para isso.