Secretária de Saúde registra BO contra dois vereadores de Santo André

A secretária de Saúde de Santo André, Ana Paula Peña Dias, acusa o presidente da Câmara dos Vereadores, Almir Cicote (PSB), e o parlamentar oposicionista Willians Bezerra (PT), de agressão verbal em boletim de ocorrência registrado como injúria, no 4º Distrito Policial, região central da cidade, nesta quinta-feira (24). O caso ocorreu no período da manhã no Legislativo, quando a responsável pela Pasta explicava o programa de modernização no setor, intitulado de QualiSaúde, que resultou em fechamento de sete postos de saúde.

Conforme anunciado pelo prefeito Paulo Serra (PSDB), Ana Paula foi ao Parlamento e iniciou a reunião com 14 vereadores da base aliada às 8h35. Enquanto iniciava a sabatina a portas fechadas na sala de comissões, manifestantes ligados ao PT ocuparam o auditório do plenário, liderados por Willians. O petista chegou a entregar à secretária o pedido para que a explanação fosse na tribuna e perante o público. Segundo o boletim de ocorrência, a maioria dos parlamentares aceitou que a reunião permanecesse no local.

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Após 30 minutos de reunião, cerca de 40 manifestantes saíram do auditório e foram em direção ao espaço nobre, restrito aos vereadores, que dá acesso à sala de comissões, com gritos “o povo quer falar”. Imediatamente a porta foi trancada e a confusão foi potencializada, com vozes altas, pessoas batendo na porta e nas paredes. A GCM (Guarda Civil Municipal) foi chamada para conter os ânimos e alguns participantes do protesto pediram aos mais exaltados não partirem para agressão.

Pela denúncia formalizada no 4º DP, Ana Paula (foto) descreve que foi possível ouvir a voz de Willians no lado de fora, como incitador da “algazarra” e passaram tanto ela como os demais colegas do governo a temer pela integridade física. Em seguida, a secretária relata que cobrou de Cicote, na condição de chefe do Legislativo, garantia de segurança, mas ouviu dele que era “fraca” para o cargo que ocupava e que “não sabia nada de Saúde ou de Câmara”.

Ainda conforme descrição do boletim de ocorrência, Cicote se dirigiu ao vice-prefeito e secretário municipal de Manutenção e Serviços Urbanos, Luiz Zacarias (PTB), durante o incidente, e disse: “Hoje vou f*** essa filha da p*** na tribuna”. Ana Paula ainda explica que foi chamada de “vagabunda”, “vaca”, “corrupta” e outros xingamentos proferidos por manifestantes e ao sair do Parlamento para se dirigir para o estacionamento, foi agredida com puxões de cabelos e chutes, apesar de estar sob escolta da GCM.

Segurança
Após os manifestantes deixarem o espaço nobre que dá acesso à sala das comissões, Ana Paula saiu da reunião e criticou a segurança no Legislativo. “Acho que foi um sinal de covardia (dos manifestantes). A gente ficou lá dentro (sala de comissões), ameaçados, com pessoas batendo na porta e ameaçando invadir. Na medida do possível, esclarecemos as dúvidas dos vereadores, mas a falta de segurança dentro dessa Casa assusta, já que estamos num setor reservado e acho minimamente estranho que tanta gente tenha conseguido invadir”, disse.

A crítica de Ana Paula, porém, causou mal-estar com Cicote, que classificou as explicações dela sobre os fechamentos de sete postos de saúde na cidade para reformas como “superficiais”. “A secretária não tem preparo o suficiente para entender da segurança da Casa. Temos uma segurança realmente precária, mas que satisfaz as necessidades dos vereadores. Ela tem de se preocupar mesmo é com a Saúde, que está muito malcuidada e tem tomado decisões que nem os vereadores da situação estão cientes”, rebateu.

Citados negam acusações de responsável pela Pasta em confusão no Legislativo

Testemunhas confirmam clima pesado entre Cicote e Ana Paula

Até o começo da noite, o presidente da Câmara dos Vereadores de Santo André, Almir Cicote (PSB) não tinha conhecimento do teor do boletim de ocorrência, na qual teria feito ofensas à secretária municipal de Saúde, Ana Paula Peña Dias, durante visita ao Legislativo na manhã desta quinta-feira (24). Por sua vez, o oposicionista Willians Bezerra (PT) classificou os relatos de agressões por parte da responsável pela Pasta como “marketing do governo”.

O chefe do Legislativo nega que tenha dito tais xingamentos à Ana Paula, embora admita o clima tenso com a secretária. “Nós tivemos dentro do plenarinho (sala de comissões) um debate referente ao projeto, houve algumas discussões mais acaloradas, mas me estranha esse boletim de ocorrência, pois a Casa sempre teve discussões acaloradas. Então a secretária não estava preparada psicologicamente para dar explicações aos vereadores”, descreve.

Willians (foto), por sua vez, diz que não viu as agressões físicas e verbais descritas por Ana Paula, durante a visita ao Parlamento. “Não sei o que foi falado por lá dentro (na sala de comissões), porque não estava lá. Em nenhum momento vi agressão e tom pejorativo contra a secretária. Parece que é mais um marketing do governo”, responde.

O vereador petista também fez um boletim de ocorrência após a visita da secretária no Legislativo. Durante a manifestação contra os fechamentos dos postos de saúde, Willians foi puxado por um funcionário da Prefeitura de Santo André para entrar sala de comissões, o que causou indignação do vereador e de outros manifestantes. A denúncia contra o servidor foi formalizada no 4º Distrito Policial, região central, porém, não teve caráter criminal.

Testemunhas
Presente na reunião na sala de comissões, a vereadora Elian Santana (SD) confirma o clima de desentendimento entre Cicote e Ana Paula. “Duvido que se fosse secretário homem, ele se dirigia da mesma forma como foi com ela. Houve agressões verbais de ambos, desentendimento muito forte e palavras de baixo calão. Ela também disse que ele era um presidente fraco. O clima foi pesado e tenso”, cita a parlamentar, que admite a falta de segurança para garantir a integridade física da secretária.

O vereador André Scarpino (PSDB) também ratifica o desentendimento entre o presidente do Parlamento e a secretária durante a manifestação de militantes do PT. “Posso afirmar que houve uma discussão entre eles no plenarinho referente ao fato das pessoas terem entrado no espaço nobre da Câmara destinado aos vereadores e isso tirou o controle de ambos, porque os manifestantes batiam na parede, chamaram pelo nome da secretária. Isso gerou o debate e gerou o destempero”, diz.

Paulo Serra diz lamentar episódio

Paulo Serra (PSDB)

O prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), saiu em defesa da secretária de Saúde, Ana Paula Peña Dias, na acusação de agressões verbais e físicas durante passagem o Parlamento na manhã desta quinta-feira (24). O tucano trata o episódio no Legislativo como “lamentável” e a responsável pela Pasta teve apoio de aproximadamente 200 funcionários do Executivo em ato realizado no fim da tarde no pátio do Paço.

“É um dia triste para a cidade. A Casa feita para criar leis, mas acabou desrespeitando a lei mais sagrada: o respeito à mulher. Só tenho a lamentar. A nossa cidade tem outros valores. Hoje é um dia só de lamentação, porque isso extrapola questões políticas e partidárias. Estamos falando de questão de humanidade”, pontua o prefeito, que sinalizou desapontamento com Cicote, que é da base aliada.

Enquanto ocorria a sessão ordinária no Parlamento, no período da tarde, o governo convocou a imprensa em frente ao prédio do Executivo, a partir das 17h. Gradualmente, os funcionários públicos tomaram conta do pátio, com cartazes condenando a violência e classificando o episódio da manhã como uma agressão contra a mulher. Também ocorreram gritos de ordem como “Com agressão, não há discussão” e “Lugar de mulher é onde ela quiser”.

Segundo assessoria de imprensa do governo, Ana Paula estava no 4º DP para formalizar o boletim de ocorrência. Minutos depois, ela chegou ao Paço, com lágrimas e gritos de apoio dos servidores municipais. “Não serão ataques covardes que vão nos deter. A violência contra a mulher é um ato de extrema covardia e isso não vai ficar barato”, prometeu.

Ana Paula, porém, não revelou detalhes da agressão física e nem quem foi o autor da violência no momento em que concedeu a entrevista à imprensa. “Não vou citar nomes, porque agora a investigação ocorrerá em segredo de Justiça e todos serão acionados. Houve agressão física e moral na saída e dentro (do Parlamento)”, resumiu.

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