Assim como em outros segmentos importantes da economia, o setor imobiliário vivia a expectativa de reacender e aquecer o mercado novamente. No entanto, a instabilidade e momento de incerteza com a atual crise política vivida no cenário tem reflexos negativos diretos no setor. Um dos agravantes recentes foi a suspensão de financiamentos imobiliários da linha pró-cotista realizados pela Caixa Econômica Federal.
A linha financia para trabalhadores com carteira assinada a compra de imóvel próprio com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) com juros mais baixos que outras modalidades do crédito imobiliário. O financiamento, com taxa de 8,65% ao ano, é dirigido para compra de imóveis novos ou usados de até R$ 950 mil. Trata-se da linha mais barata de crédito habitacional, com exceção do programa Minha Casa, Minha Vida.
Em maio, a Caixa anunciou reabertura da linha pró-cotista. Na oportunidade foram liberados R$ 2,54 bilhões para o País, mas o montante não foi suficiente e se esgotou rapidamente. Com isso, os recursos foram suspensos em maio, e na sequência, em junho. Na semana passada, a instituição informou que a linha foi suspensa e só será retomada em 2018.
Alguns segmentos ligados ao setor habitacional confirmam a baixa expectativa após os recursos terem sido inviabilizados novamente pela Caixa, que detém cerca de 70% do mercado para financiamentos da modalidade.
A Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC (ACIGABC) destaca que a medida complica bastante, já que depois do Minha Casa, Minha Vida, o pró-cotista, por ser mais barato, estava ajudando o setor a comercializar estoques de imóveis remanescentes. De acordo com o órgão, algumas medidas como a realização do chamado Feirão de Imóveis, em março, chegou dar sinais de recuperação e que a pequena melhora ocorria principalmente por conta da modalidade de financiamento.
“A partir do momento que acabam esses recursos se abre uma lacuna e atrapalha muito porque era uma linha que estava viabilizando. Toda vez que a Caixa corta recursos o mercado sente muito nos usados e principalmente em novos, que estavam em estoque”, afirma Marcus Vinicius Pereira Santaguita, presidente da ACIGABC.
O representante da entidade destaca ainda que muitos clientes que estavam na condição de comprar foram pegos no contrapé. Com isso, os negócios acabam sendo postergados por conta das outras modalidades de financiamentos disponíneis, com taxas mais altas, na casa de 10,5 a 11%, que a longo prazo impacta bastante nas parcelas e deixa o interessado fora do enquadramento por conta dos critérios estabelecidos.
De acordo com a ACIGABC, atualmente existem cerca de quatro mil unidades de imóveis parados em estoque. O levantamento baseado em pesquisa de mercado considera unidades com até três anos de habite-se emitidos. “O problema é que não estão tendo novos lançamentos e o estoque vai acabando. Aí existe uma tendência de tencionar o preço um pouquinho”, diz Santaguita.
Já o vice-presidente de Habitação da Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP), Ronaldo Cury, afirmou que sem o recurso do pró-cotista na Caixa acaba se excluindo a possibilidade do trabalhador que se enquadra comprar. No entanto ressaltou que o Banco do Brasil também possui essa modalidade de financiamento com recursos disponíveis e que instituições privadas como o Santander trabalham para diminuição das taxas.
“A Caixa acabou consumindo o que estava projetado para o ano no primeiro semestre. O pró-cotista estava ajudando principalmente a classe média”, ressalta. Apesar disso ponderou que o mercado imobiliário nacional está em um dos piores momentos de sua história.