Inovações urbanas, um caminho necessário

O ABC apresenta características muito particulares: mais de 2,7 milhões de habitantes, um dos maiores PIBs do País e renda per capita muito acima da média nacional. Apesar das agruras do profundo processo de transformação produtiva que enfrentamos, com reflexos sensíveis nos índices de desemprego, em especial não só na indústria, mas também com implicações imediatas no comércio e nos serviços, o novo cenário que fatalmente surgirá – não podemos esquecer que as crises são cíclicas e inerentes ao capitalismo – solicitará uma agenda muito mais propositiva dos vários setores da sociedade, em especial do poder público.

Newsletter RD

A nossa região enfrenta, além de seus desafios locais, uma série de problemas que necessitam de discussões coletivas, como uma firme agenda por habitação, saneamento, drenagem, mobilidade e poluição que, infelizmente, ainda extrapolam o modelo de pacto federativo que temos.

Os princípios do urbanismo moderno nunca foram tão questionados como nos dias de hoje, ou seja, reduzir a compreensão da cidade à setorização territorial, como áreas para habitação, comércio, indústria ou verticalização é má lembrança do século 20. A busca de soluções das questões urbanas não pode excluir inovação e tecnologia para que possamos avançar nos cenários desejados.

Algumas grandes cidades do mundo enfrentam seus desafios urbanos por outros caminhos e, vejam bem, o fenômeno da metropolização – simplificadamente grandes aglomerados urbanos conectados – não é só nosso desígnio terceiro-mundista: Paris, Londres e Chicago enfrentam tantos desafios como a Cidade do México, São Paulo ou Nova Déli…

Iniciando esta coluna, escreverei hoje sobre a experiência de Vancouver, cidade com pouco mais de 2 milhões de habitantes (ops., meu Grande ABC…) que sofreu no final dos anos 1990 um grande processo de imigração da Ásia, em especial de chineses e sul-coreanos. O rápido crescimento desafiou o poder público à procura de soluções e a metodologia do Planejamento Urbano Estratégico foi uma das soluções encontradas na qual, de maneira franca e sem ocultar conflitos, a cidade foi ao divã: tentou compreender seu presente e apontar passos para o futuro. Assim Vancouver foi uma das primeiras cidades do mundo a introduzir uma agenda alternativa à resolução de seus problemas urbanos.

Uma das conclusões que chegaram é que a cidade deve ser pedonal, ou seja, o pedestre é a prioridade. Por meio de ações diretas, como aumento de modais de transporte coletivo, compartilhamento de veículos, ciclovias e áreas de exclusão de veículos individuais, nos últimos 20 anos, o número de automóveis que entram no centro de Vancouver diminuiu 20%. Por outro lado, o aumento de deslocamentos a pé ou de bicicleta atingiu 26% em toda a cidade.

Vancouver também alterou suas normas de edificação de modo que a cidade ficasse mais densa (e, portanto, com menos deslocamentos), com desenho urbano de ruas e calçadas mais convidativo, com comércio mais pulverizado diminuindo a necessidade de locomoção a grandes centros comerciais e ainda semáforos inteligentes que privilegiam transporte coletivo, pedestres e bicicletas. Hoje Vancouver possui o selo de Cidade Caminhável, pelo indicador norte-americano Walk Score. E nós?

Enio Moro Junior é arquiteto, secretário de Obras e Habitação de São Caetano e coordenador do iURB (Instituto de Estudos Urbanos do Grande ABC). É também professor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e doutor em Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes