Até grandes redes de hotéis entraram para a locação de imóveis de luxo. No ano passado, o Accor, um dos maiores grupos hoteleiros da Europa, investiu US$ 12,5 milhões no site de casas de luxo Oasis Collections, que pouco depois anunciou a fusão com duas empresas brasileiras do setor, a Sampa Housing, de hospedagem corporativa na capital paulista, e a Exclusive Realty Rentals, que atua em Trancoso, na Bahia. O grupo hoteleiro também adquiriu a Onefinestay – a maior do setor, que administrava 2,6 mil casas e apartamentos – por US$ 169 milhões.
Este ano, o Airbnb deu o primeiro passo nessa direção, ao comprar a canadense Luxury Retreats, por US$ 300 milhões, e já está de olho em sites brasileiros. Segundo fontes do setor, a empresa estaria rondando a Mahnai, a maior nacional, que, por sua vez, está expandindo para o exterior desde que recebeu aporte de um investidor-anjo.
Hoje, o Airbnb, o mais famoso dos sites de locação, tem 65 mil propriedades espalhadas pelo mundo, mas segue um conceito mais democrático. O cliente pode alugar, por exemplo, até um quarto dentro de um apartamento.
“Sempre foi possível locar até um castelo”, diz Amnon Armoni, coordenador do MBA de Gestão Estratégica de Negócios da Fundação Armando Álvares Penteado. “Só que agora ficou mais fácil, basta entrar na web.” Antes, era necessário ter os contatos certos. “O luxo sempre foi baseado no tripé tradição, exclusividade e qualidade. Agora há mais um item importante, a inovação”, diz o professor.
O crescimento das empresas nacionais na web facilita a vida dos brasileiros que viajam para o exterior à medida que diminui a burocracia e a insegurança com contratos em outro idioma. “Já me decepcionei com um aluguel na Suíça. O apartamento era meio sujo e deu trabalho trocar”, diz o arquiteto Luiz Lacerda Soares Alcide, de 41 anos, que recentemente alugou pela primeira vez uma casa em Mykonos por um site especializado em imóveis de luxo. “Lá existia uma central que resolvia todos os nossos pedidos e problemas.” A Exclusive e a Mahnai possuem uma equipe de profissionais variada para atender os hóspedes, que inclui advogado e investidores, entre outros especialistas.
‘AIRBNB’ de luxo ganha espaço entre brasileiros
O último destino escolhido pelo empresário Tiago Salles Rezende, de 35 anos, para viajar com a família foi o Vale do Douro, conhecida rota de vinhos em Portugal. A hospedagem ele fechou em um site que oferecia o aluguel de uma casa, localizada em uma quinta, com quatro suítes e piscina com vista deslumbrante para os montes.
O site prometia ainda a entrega do imóvel com despensa e geladeira abastecidas com os produtos da preferência do cliente. Vinhos produzidos no local, diarista e um concierge à disposição faziam parte do pacote. Outros serviços poderiam ser adicionados, como motorista, chef de cozinha e roteiros charmosos de passeios.
“A possibilidade da total privacidade com minha família e a experiência de morar em uma quinta, sem burocracia, fizeram com que eu fechasse negócio”, diz Rezende, que costuma viajar com os pais e duas irmãs. “Foi a melhor escolha, porque quando ficamos em hotel, passamos mais tempo na rua, e isso sempre é cansativo.” No ano que vem, ele vai no mesmo esquema para a Toscana, na Itália. Outro motivo que agradou foi o preço: saiu US$ 128 por dia, por pessoa. A diária de um hotel cinco estrelas na região sai por U$S 257 para o casal, fora taxas.
O desejo de combinar o conforto de um hotel cinco estrelas com a privacidade de um endereço mais exclusivo está impulsionando sites destinados à locação de imóveis de luxo. No Brasil, o maior deles é o Mahnai, estruturado para atender as famílias mais ricas do País. A plataforma oferece 280 propriedades de clientes próprios e 800 de parceiros no exterior. A carteira de imóveis cresce 30% ao ano.
O segredo do negócio, segundo o advogado Flávio Sarahyba, um dos sócios do Mahnai, está no serviço oferecido ao cliente. Tudo é feito sob medida e não há limite para os desejos de quem aluga. “Em dez anos de operação, só não consegui atender a um pedido, o de um cliente que queria nadar no Oceano Atlântico com pinguins.” Em geral, as demandas são mais fáceis.
“Uma das preocupações, principalmente de quem vem ao Rio, é com a segurança”, diz Charles Jonas, de 35 anos, gerente da Rio Exclusive, com 150 propriedades localizadas no Rio, na Bahia e no Ceará, além de alguns destinos em terras portuguesas. Em março, quando Justin Bieber veio ao Brasil, ficou em uma das casas mais cobiçadas do site. A mansão no Joá, bairro nobre da zona oeste do Rio, custa R$ 9,6 mil por dia. Foi a empresa que providenciou o helicóptero para transportá-lo, assim como carro blindado, motorista, seguranças e empregados. A primeira opção de hospedagem de Bieber foi o Copacabana Palace, mas quando chegou ao hotel com duas mulheres e não permitiram a entrada delas, ele se mudou.
Para todos os gostos
“Uso esse site sempre que viajo ao Rio. Virei cliente fiel quando aluguei uma cobertura na Avenida Vieira Souto e tive a ideia de fazer um jantar para amigos”, diz Priscila H., de 25 anos, mulher de um empresário gaúcho, que exige carro blindado e segurança a tiracolo. “O site mandou um chef colombiano maravilhoso que servia à francesa. Não tive trabalho algum. Foi magnífico.”
No cardápio da Rio Exclusive, há opções de todos os tipos, até mesmo bem compactas, como um estúdio de 25 m² em Copacabana, com diária de R$ 350. “O luxo não está só no tamanho, mas na qualidade do imóvel”, explica Charles. O apartamento tem decoração contemporânea e é inteligente – todos os comandos, como luz, ar-condicionado e televisão, estão concentrados em um tablet.
Para um proprietário ter seu imóvel incluído em um site desses, o processo é longo. No Casas Charmosas, por exemplo, pode levar até três meses. “A casa tem de estar mais do que bem conservada. Só aceito quarto com suíte e camas com cabeceiras, por exemplo”, diz Ana Carolina Salem Vanossi, de 51 anos, a idealizadora do negócio.
Em 2007, Ana começou com uma propriedade, a casa do sogro no litoral norte de São Paulo. Hoje, tem 250 casas cadastradas e está expandido o negócio para fora do País.