Com a chegada de 14 novos pacientes, vindos de um hospital psiquiátrico de Sorocaba, interior paulista, a Prefeitura de Santo André terá de ampliar a rede de residências terapêuticas do município. Atualmente, a cidade conta com 40 moradores em cinco unidades, que atendem exclusivamente ex-pacientes de manicômios.
Na lei federal de 2001, que trata do fechamento de manicômios no País, cada prefeitura deve cuidar dos pacientes naturais de seu município. O trabalho de localização e notificação das administrações é feito pelo Ministério Público.
Para dar assistência a esses pacientes, a Prefeitura mantém convênio com a Associação De Volta para Casa, que prevê repasse de R$ 293.750 mensais, a fim de fazer a gerência das residências, que agora será ampliada. “Há uma parceria entre as três esferas de governo para manter esses programas da saúde mental”, afirma a secretária de Saúde, Ana Paula Peña Dias.
Equipes da rede de saúde mental estiveram em duas ocasiões no hospital do interior para verificar as condições de saúde dos internos, antes de serem transferidos para Santo André. “É uma mudança muito grande para essas pessoas, pois por pior que seja eles reconhecem esses espaços como a casa deles. Não é algo fácil”, pondera.
A primeira ação dos governos quanto a esses casos é tentar localizar os parentes desses internos para restabelecer contato com familiares. “Mas temos muitos casos em que as famílias não querem esse contato”, explica Ana Paula.
Quanto à possibilidade de mais pacientes que estejam hospitalizados, Ana Paula destaca que há um trabalho do Ministério Público para mapear os hospitais psiquiátricos que ainda estão em funcionamento e encaminhar os internos para suas cidades de origem. “Quando esses casos são descobertos, as prefeituras são notificadas e esse repasse dos governos é ampliado”, diz.
Novo lar
Santo André conta hoje com cinco residências terapêuticas, sendo duas masculinas, uma feminina e duas mistas. Atualmente, são atendidos nesses locais cerca de 40 pacientes. Esses moradores participam de atividades de terapia ocupacional, além de terem ações de geração de renda.
Entre esses moradores está Marcelo Pereira Rosa, que antes de seguir para uma das residências masculinas esteve em diversas instituições de internação do município e, depois de nove meses frequentando a Casa Amarela e vivendo em albergues, seguiu para o novo lar, onde vive há pouco mais de seis anos.
Rosa, que é esquizofrênico, mesma doença que acometeu a mãe, tem dificuldades de organizar fatos cronológicos, mas se diz feliz por ajudar na rotina da casa. “Sou eu quem lavo a louça e passo pano no banheiro”, relata.
A responsável pelas residências terapêuticas em Santo André, Zélia Tolentino, salienta que a principal diferencia entre essas moradias e os hospitais psiquiátricos é a possibilidade de resgatar a história dos moradores. “São pessoas que perderam os contatos com familiares e sociedade e agora podem até atuar no projeto terapêutico. Queremos que eles se apropriem da própria vida”, diz.
Zélia salienta que a rotina nas casas é semelhante a de uma família, com conflitos, acordos, ciúmes e divisão de trabalho. “Há uma organização feita por eles. Desde a divisão das tarefas, até os atendimentos nos Centros de Atendimentos Psicossociais. É uma maneira de resgatar de autonomia dessas pessoas”, explica.