Com Doria, GCM reduz ação comunitária

A Guarda Civil Metropolitana (GCM) reduziu as ações comunitárias e aumentou as ações repressivas contra camelôs e pichadores no começo do governo de João Doria (PSDB). Dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) mostram que o crescimento das apreensões de mercadorias de camelôs ou em “rolezinhos” foi de 399% em janeiro e fevereiro. Ao mesmo tempo, o Criança Sob Nossa Guarda e Programa de Pessoas em Situação de Vulnerabilidade caíram 96% e 84% no período, em comparação com o mesmo período de 2016.

A Secretaria de Segurança Urbana informou que a redução das ações comunitárias é causada por férias escolares – as aulas começaram em 6 de fevereiro – e reformulação da atuação da Prefeitura na região da Cracolândia, “tendo em vista que o novo projeto chamado Redenção terá atuação de 44 órgãos e atingirá todas as esferas: municipal, estadual e federal”.

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Criado em 2002, o Criança Sob Nossa Guarda é um programa de atividades recreativas, esportivas e culturais em que os guardas apresentam às crianças temas como a prevenção de acidentes domésticos, educação ambiental e de trânsito, civismo e direitos humanos. Só 210 ações aconteceram em janeiro e em fevereiro – média de 105 por mês, ante média mensal de 2.832 em 2016 – 33.989 em todo o ano passado. Outro programa social da guarda, o Grupo de Prevenção a Álcool e Drogas (Gepad), teve um aumento médio mensal de 28% de atendimentos apesar das férias. Também não diminuíram as rondas escolares – segundo a secretaria, cresceram 50% no período.

Efetivo

A mudança da forma de atuação da Guarda afetou ainda a Inspetoria de Redução de Danos (IRD), que trabalha na Cracolândia. É ela a responsável pela maioria dos atendimento das chamadas “pessoas em situação de vulnerabilidade” – moradores de rua e usuários de crack. Contava com 278 agentes no dia 1.º de janeiro e passou a ter 158 no dia 4 de abril, uma redução de 43% no efetivo.

O efeito na região pode ser sentido pelo número de roubos e furtos registrados pela delegacia da área, o 3.º DP (Santa Ifigênia). Enquanto a capital relatou aumento de 3% nos roubos e 12,4% nos furtos em janeiro e em fevereiro na comparação com o ano passado, na região do 3.º DP o crescimento foi de 8,2% e 35,8%, respectivamente. A Polícia Militar informou que seu efetivo se manteve o mesmo na área. “Claro que nós, os moradores e comerciantes da região, sentimos a diminuição do efetivo da Guarda”, afirmou o comerciante Fábio Fortes, presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) de Santa Cecília.

Criada em setembro de 2016, a IRD atuava em conjunto com o programa De Braços Abertos, da gestão Fernando Haddad (PT). Além da reestruturação da atuação da Prefeitura na área, a secretaria informou que a retirada de efetivo da região é parte de “ajustes que atendem a uma nova dinâmica operacional da atual gestão”.

Ao mesmo tempo, o comando da Guarda aumentou o efetivo das inspetorias da Paulista – de 119 para 164 guardas – e da Consolação – de 166 para 219. As duas, ao lado das Inspetorias da Sé e de Operações Especiais, foram responsáveis pela proteção de eventos como o carnaval e pelo aumento de apreensões de mercadorias de camelôs – incluindo ação do Programa Marginal Segura, para evitar ambulantes nas Marginais.

Vigilância

Além de aprender mercadorias, outra nova atividade da Guarda é a vigilância de monumentos, como o em comemoração à imigração japonesa, feita por Tomie Ohtake na Avenida 23 de Maio. O objetivo ali é impedir a ação de pichadores.

Guarda terá rondas setoriais; Haddad critica prioridade

O secretário de Segurança Urbana da capital, o coronel da PM José Roberto Rodrigues de Oliveira, afirmou que está em curso uma reorganização da Guarda Civil Metropolitana (GCM). “Assim, aumentamos significativamente as rondas em escolas e vamos dividir por setor.”

Segundo ele, anteriormente, a ronda se fixava nas escolas e deixava de atender as unidades de saúde, mesmo que estivessem em um mesmo complexo. “É preciso um olhar mais abrangente, eclético. Vamos mapear os setores e criar um cartão de prioridade de policiamento (como na PM), instituindo uma ronda inteligente que melhore a utilização de nosso meios.”

Assim, embora o efetivo de guardas no programa de Proteção Escolar tenha diminuído de 266 em 1.º de janeiro para 239 em 4 de abril, o total de iniciativas, segundo a secretaria, cresceu de 8.175 rondas para 12.795 em janeiro e em fevereiro.

A aposta nas patrulhas deve tornar a forma de trabalho da Guarda semelhante à da PM. Ex-secretário de Segurança Urbana da gestão Fernando Haddad (PT), o promotor Roberto Porto diz que a Guarda sempre “teve a tendência de ocupar o papel da PM, o que não é função dela”. Por isso, segundo ele, as ações sociais e de policiamento comunitário eram sua prioridade. “Queria a Guarda próxima do cidadão.”

Para o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), “não existia a política de esterilizar quatro, seis homens para tomar conta de um monumento, como acontece perto da minha casa (referindo-se ao monumento à imigração japonesa).”

Efetivo. O presidente do Sindicato dos Guardas Civis de São Paulo (Sindguardas), Clóvis Roberto Pereira, diz que a redistribuição de efetivo feita pela atual gestão atende a uma mudança de foco para zeladoria urbana. Segundo ele, a mudança de orientação não é “natural”, pois o principal problema da GCM não é a forma como é empregada, mas o envelhecimento de efetivo. “A idade média dos guardas hoje é de 40 anos.

Para enfrentar esse problema, Porto destaca que fez “o primeiro concurso para a Guarda após nove anos”. Mas a gestão Haddad – segundo ele – chamou apenas 500 dos 1.500 aprovados no concurso. Agora, a gestão Doria informou que está convocando 200 aprovados.

Atualmente, a GCM tem 5.788 homens, dos quais 70% têm idade entre 40 a 60 anos. “Os efeitos da falta de efetivo só não são maiores por causa da Dead (Diária Especial de Atividade Complementar)”, disse Pereira. A Deac é uma espécie de operação delegada – o bico oficial. Só na ronda escolar existem 54 vagas para guardas, divididas em dois períodos (manhã e noite), compensando em parte a redução de efetivo.

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