O cenário atual do País em recessão, alto índice de desemprego – só no ABC já são 244 mil pessoas fora do mercado, taxa de 17,5%, de acordo com o Sead/Dieese em fevereiro – e uma situação econômica de estagnação corroboram bastante para o desfavorável quadro financeiro da Prefeitura de São André, classificado pela própria Administração como caótico. Desta forma, não há muito que se comemorar neste sábado (08/04), aniversário de 464 anos da cidade.
Santo André ocupa hoje o terceiro lugar no ranking de cidades mais devedoras do País, acumulando montante de R$ 2,24 bilhões entre obrigações de curto e longo prazo, fator que compromete a capacidade de investimento. Com isso, todas as ações de governo que dependem de recursos do tesouro municipal estão e estudadas para que possam sair do papel nos próximos dois anos, mesmo que seja necessário buscar financiamento externo.
“A situação é caótica, herdamos das gestões passadas R$ 325 milhões em dívidas. Será necessário um trabalho árduo durante o ano para sanar e renegociar a maioria das dívidas”, afirma o secretário de Finanças, José Carlos Grecco.
A Pasta avalia que a peça orçamentária de 2017, da ordem de R$ 3,1 bilhões, aprovada pela Câmara na gestão anterior, foi superestimada. Por isso foi preciso realizar uma revisão, com redução expressiva de valores, muito mais próximos do real, baseado nos orçamentos dos anos anteriores. De acordo com o Portal da Transparência, Santo André fechou o primeiro trimestre do ano com arrecadação de cerca de R$ 577 milhões, 2,99% acima de 2016 (R$ 560,3 milhões), resultado considerado “muito aquém da expectativa” pela Administração.
Inovação
Uma das apostas da Prefeitura é o programa Santo André – Cidade Inovadora, lançado na última quinta-feira (6), que pautará o desenvolvimento a curto médio e longo prazo, por meio de um ambiente propício para novos empreendedores com foco na inovação. A medida está estruturada com base em dez eixos principais, desenvolvidas com parcerias, e preveem ações na área de infraestrutura, criação de negócios inovadores, fomento aos negócios existentes, realização de PPPs (Parcerias Público Privadas) e concessões, entre outras.
“Queremos trazer os empreendedores para esta reflexão porque os mercados, o comportamento e hábitos de consumo mudaram”, avalia o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Ailton Lima.
O titular da Pasta também coloca como ponto chave a realização de ações que visam à desburocratização. Como resultado prático, destaca a consolidação do Via Rápida Empresa, em fase final de implementação, programa realizado em parceria com a Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo), que permitirá a informatização do processo de licenciamento das novas empresas em período mais reduzido.
“Também prevemos a criação do Centro de Inovação, que é a primeira etapa do Parque Tecnológico, onde teremos incubadoras, aceleradoras de negócios, espaços de coworking e eventos”, comenta.
Para o Corecon do ABC (Conselho Regional de Economia) o cenário é de muita cautela e não deve haver crescimento real dentro do primeiro semestre, apesar de algumas medidas adotadas pelo governo como a aprovação da PEC 241 do controle de gastos e queda da inflação – o mercado financeiro baixou previsão de 4,12% para 4,10%, a quarta redução seguida do (IPCA) Índice Nacional de Preços ao Consumidor, conforme relatoria Focus divulgado em 3/4. “A economia real ainda não cresceu, não apresentou resultado positivo. Segundo projeções, o primeiro trimestre ainda fecha com decréscimo em termos de PIB (Produto Interno Bruto)”, avalia o delegado regional da entidade, Leonel Tinoco Netto.
Além da situação do setor industrial apresentar nível de atividade baixo, o que prejudica bastante Santo André, Tinoco avalia que a situação no comércio da cidade não é diferente, pois apresenta um problema sério de manutenção. “Muitas lojas fechando. Mas a gente percebe também em corredores como o da Oliveira Lima movimento de reforma e modificação na forma de comércio”, comenta.
CIESP não vê crescimento rápido
Emanuel José de Viveiros Teixeira, diretor titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de Estado de São Paulo), regional Santo André, destacou que o processo de desindustrialização é sistêmico no País e houve desequilíbrio acentuado no setor a partir de 2009, reflexo da maior crise imobiliária norte-americana, com queda expressiva no PIB industrial, que naquele momento representava 21%, e em 2017 está na casa dos 9%.
O executivo não acredita em crescimento a curto e médio prazo, mas pondera que o município deve criar um ambiente de atração ao empresariado para mudança desse cenário. “Temos a questão da logística, que é positiva. Outro ponto importante para Santo André é a consolidação do Parque Tecnológico para prospectar novos mercados e inovação”, afirma.
Otimismo
Com quase 4 mil associados, a Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) enxerga crescimento moderado este ano na região. Segunda-feira (10) começa a elaborar enquete virtual com os empresários para avaliar o cenário econômico da categoria referente ao primeiro trimestre.
O presidente da associação, Evenson Dotto, acredita que a atualização da LUOPS (Lei de Uso e Ocupação do Solo) da cidade, já aprovada pela Câmara, e a viabilização do Parque Tecnológico são fatores de extrema importância para o crescimento e desenvolvimento econômico da cidade. “A lei está dando estabilidade e segurança para o empresário da indústria e logística. É um super negócio para Santo André porque coloca regras com garantia de investimento”, destaca.
Andreenses têm 2ª maior renda
Pesquisa socioeconômica do ABC (set/16), feita pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano) coloca Santo André em 2º lugar no ranking do ABC em rendimento familiar per capita. A cidade aparece com renda de R$ 1.435,04, atrás de São Caetano, que registra R$ 1.521,58. Na sequência vem Ribeirão (R$ 1.345,42), São Bernardo (R$ 1.299,08), Mauá (R$ 1.145,35), Rio Grande da Serra (1.029,52) e Diadema (R$ 984,39).
Daniel Giatti, gestor do Instituto de Pesquisas, diz que Santo André sempre disputa com São Bernardo e acabam com resultados parecidos. “Mas quando a grande indústria vai mal, Santo André ganha posição”, explica.
A cidade também é a 2ª quando se refere a rendimento líquido do trabalho, tendo moradores com 18 anos ou mais na família. Nesse caso o rendimento sobe para R$ 2.021,69, São Caetano lidera com R$ 2.236,02. No quadro geral de renda familiar, o município cai para a 4ª colocação com renda média de R$ 3.382,25, depois vêm São Bernardo (R$ 3.401,52), Ribeirão (R$ 3.472,00) e São Caetano novamente em primeiro com R$ 3.609,80.