APLs ficam de lado no governo Morando

Sérgio Todesco acredita que o órgão público é peça fundamental para que as coisas aconteçam

 

Os Arranjos Produtivos Locais (APLs), criados para estabelecer aproximação e cooperação entre empresas de um mesmo território para uma ação coordenada, visando o crescimento da produção e competitividade ainda não fazem parte da pauta da Prefeitura de São Bernardo.

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O Repórter Diário fez uma série de questionamentos a respeito do tema para a assessoria do prefeito Orlando Morando (PSDB), mas sem resposta. Os APLs foram impulsionados entre 2011 e 2015, na gestão do ex-prefeito Luiz Marinho (PT).

Um dos itens destacados no plano de governo de Morando traz como diretriz a reestruturação dos APLs para que eles se tornem autossustentáveis, visando o crescimento da produção e competitividade.

Apesar da citação feita no documento, o resultado apresentado até o momento se resume em um setor composto por 12 APLs consolidados, mas que estão parados, órfãos do poder público. Isso porque, a Prefeitura é a principal articuladora e coordenadora na formação das redes de cooperação formadas pelo setor privado, instituições de ensino, agências de crédito e sindicatos. Os APLs constituídos nos cinco anos foram ferramentaria; autopeças; defesa; químicos; moveleiro; panificação; gráfico; têxtil e confecções; design, audiovisual e economia criativa; restaurantes, bares e afins; turismo e pesqueiro.

Um dos pontos fortes do APL foi a realização de seis edições da feira de móveis na rua Jurubatuba.

“O APL moveleiro hoje está parado”, lamenta o empresário Sérgio Todesco, lojista, um dos atores que encabeçam o arranjo produtivo. Todesco acredita que o órgão público é peça fundamental para que as coisas aconteçam. “Precisamos de motivação, o setor está desorientado e desmotivado. Torço para que a nova gestão olhe para os APLs com carinho”, destaca. Um dos pontos fortes do APL foi a realização de seis edições da feira de móveis na rua Jurubatuba, que contou com 75 lojistas participantes, 60 mil m² de exposição, 50 mil visitantes por edição, aumento de 50% nas vendas e faturamento da ordem de R$ 18 milhões.

O sentimento do coordenador do APL Ferramentaria, Paulo Braga, não é diferente. O empresário da MetalSinc aponta que o arranjo se encontra sem governança, já que um de seus principais braços é a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC. A entidade iniciou o ano com menos força depois do anúncio de corte pesado de repasse de verbas feito em janeiro pelo presidente do Consórcio Intermunicipal, Orlando Morando. A Agência, agora sob o comando de Paulo Serra, prefeito de Santo André, vai trabalhar com drástica redução orçamentária: receita de R$ 500 mil, cerca de dois terços a menos do contava em 2016, que era de R$ 1,45 milhão.

“Complicado falar em reestruturar aquilo que já estava estruturado. Com isso você perde todo um trabalho”, afirma Braga. O empresário lamenta, porém o fato de a categoria não ter obtido financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “O que se tentou fazer em 20 anos fizemos em três e faltou a parte que era para fomentar as empresas para gerar mais emprego e renda ao município”, diz.

Giovanni Rocco, secretário executivo da Agência, avalia que ocorreram conquistas, especialmente nos APLs de Defesa e Ferramentaria. Em relação a não consolidação de aporte financeiro por parte do BNDES para o setor de ferramentaria ele ponderou que “a agenda de urgência do banco é outra, sem contar a instabilidade política, ocorreram mudanças. É uma luta diária”, comenta.

O integrante do APL Têxtil, Antônio Valter Trombeta, classificou a situação atual do arranjo como morna. O empresário espera que a ação seja retomada pela Prefeitura. “Quero conversar sobre APL com o novo governo. Nossa ideia é fazer negócios e gerar empregos na região”, pondera.

Marinho contesta reestruturação

O ex-prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, não concorda com a diretriz apontada no plano de governo da atual gestão. Para o petista, “a questão não é reestruturação dos APLs, mas empenho e conhecimento das necessidades dos setores. Ele precisa dar continuidade às várias políticas de fortalecimento que criamos, intensificar o diálogo regional e com os sindicatos”, diz.

Marinho destaca que a criação dos APLs se deu em função da conjuntura desfavorável a diversos segmentos industriais, em especial o setor de ferramentaria, que sofria forte concorrência, em especial do mercado asiático. Entretanto, a ação se tornou um case para criação dos outros.

Jefferson da Conceição, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, coordenou os 12 APLs e avalia, como ponto chave do governo passado, a capacidade de articulação, conciliação e coordenação. “Isso é o papel do poder público no APL”, comenta.

Caixa já aplicou R$ 27,7 milhões

Os APLs consolidados em São Bernardo foram vistos com bons olhos pela Caixa Econômica Federal, que constituiu linha específica de financiamento de crédito para os arranjos com taxas de juros atrativas para o mercado 0,83% sem IOF. “Desde 2014, a CAIXA já aplicou mais de R$ 27,7 milhões em crédito para os APLs da região, auxiliando essas empresas a gerarem mais postos de trabalho para modernizar suas instalações e incrementar a renda média familiar”, destaca Ronny Peterson, gerente Regional de Pessoa Jurídica.

Universidades
No rol de parceiros dos APLs, as instituições de ensino participaram de maneira ativa. Senai, FEI, Umesp, Fundação Salvador Arena, UFABC e Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) são alguns dos exemplos bem-sucedidos.

Para Fábio Sampaio Bordin, superintendente de Planejamento de Desenvolvimento do IMT, esse tipo de política pública é bastante positiva ao estabelecer canais de acompanhamento das demandas regionais dos diversos setores envolvidos. “Em nossa experiência, observamos que o estimulo e apoio coordenado pela Administração, para organizar ações conjuntas setoriais, foram importantes para mobilizar e fortalecer os setores produtivos de destaque na região”, avalia.

A diretora da Agência de Inovação da UFABC, Anapatrícia Morales, acredita que os APLs são mecanismos importantes de capacitação e competitividade. Pondera que o papel do agente público é quase de protagonista, mas o ideal seria que as empresas assumissem esse papel. Exaltou a experiência com o APL Ferramentaria onde se criou um Núcleo de Apoio à Inovação Setorial. “Gerou uma interação importante, os resultados estão sendo construídos”, afirma.

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