Em livro, FHC critica aliados e adversários

O terceiro volume da série Diários da Presidência, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que será lançado hoje pela editora Companhia das Letras, registra ao longo de 850 páginas o aumento gradual da pressão sobre um governo com baixos índices de popularidade e uma eleição pela frente.

As gravações feitas por FHC entre 1999 e 2000 também mostram sua angústia diante de uma guerra fratricida em sua base de apoio (especialmente dentro do PSDB) e esquadrinham o dilema do tucano no penúltimo biênio de sua gestão: manter o “arrocho” da economia ou abrir os cofres para recuperar a aprovação popular.

Newsletter RD

Em um jantar com Pedro Malan, então ministro Fazenda, em junho de 2000, FHC vai direto ao ponto ao dizer que “não há condições sociais” para “manter o arrocho”. E desabafa. “Todos preocupados com a popularidade, que não sobe.”

Dois anos antes da eleição presidencial que acabaria elegendo o petista Luiz Inácio da Silva, o então presidente também se ressente pelas negativas da oposição em abrir um canal de diálogo e adotar uma agenda em comum para reformas, como a tributária.

“É uma insolência infantil desse pessoal do PT, que não tem condições de governar o Brasil. Qualquer convite, qualquer coisa que implique diálogo, primeiro eles têm que recusar abertamente para ficar bem com o pequeno público. Eu sempre tive desconfiança de quem vive falando de moral”, disse o tucano em meados de 2000.

Em alguns momentos, o presidente usa na intimidade do gravador adjetivos que soariam impensáveis ao seu vocabulário na hora de classificar os adversários. Lula e Ciro Gomes são chamados de “mau-caráter”. “Lula é um mau-caratismo mais popular, o Ciro é de classe média. Ciro tem a petulância própria do impostor. Não engulo.”

Disputas internas. A guerra interna no PSDB é um capítulo à parte. Embora as disputas tucanas façam parte do cenário político desde a fundação da sigla, o terceiro volume das memórias de FHC expõe de maneira crua os bastidores da guerra de vaidades entre nomes como José Serra, Aécio Neves, Tasso Jereissati e Mário Covas.

Hoje senador, Serra foi acusado de não ajudar o partido e “só pedir, pedir e pedir, mas não vestir a camisa do governo”.

FHC revela, ainda, que apoiava a candidatura de Covas e depois a de Tasso em 2002.

O ex-presidente reclama em vários momentos no livro da articulação de Aécio para ser eleito presidente da Câmara. “Aécio acha que a política brasileira gira em torno dele.” “Aécio quer chutar o PMDB do governo.” Em outro momento, diz que o assunto Serra “é infindável”. “Ele é de catar milho, coisa por coisa, cobrando, cobrando, cobrando. Acho uma pena o Serra não assumir que é governo.”

Criticado nos dois primeiros volumes, o PMDB é alvo novamente, e de forma mais intensa. Há uma passagem do início do ano que sintetiza o clima pesado. “O PSDB e o PMDB às turras por causa de nomeações. O PMDB cada vez mais descarado, querendo colocar gente sem condição para exercer cargos. E o PSDB reclamando”, registra o ex-presidente.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes