À imprensa estrangeira, Maggi diz que PF foca em agentes, não em produtos

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, reiterou que as investigações da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, são sobre a conduta de agentes públicos ligados à fiscalização da parte burocrática de produtos e não sobre a qualidade dos produtos consumidos internamente ou exportados. Maggi conversou nesta quinta-feira com jornalistas estrangeiros em teleconferência. “Nós não temos até este momento nenhuma acusação sobre a qualidade dos produtos que nós consumimos aqui internamente no Brasil e nem daqueles que exportamos a vários países do mundo”, disse Maggi na entrevista, transmitida pelo Facebook.

O ministro revelou que em torno de 5 mil contêineres estão atualmente em navios que navegam em direção aos mercados consumidores e afirmou que o ministério está rastreando todos eles. “Aqueles que forem de plantas citadas pediremos que sejam devolvidos para o Brasil. Não chegarão nem ao seu destino”, disse o ministro. “A maciça maioria desses 5 mil não é de plantas que estão sendo investigadas e nós esperamos que eles possam continuar a viagem e ser recepcionados nos países de destino.” Maggi ressaltou que, entre as 21 empresas envolvidas na operação, seis tinham autorização para fazer embarques ao exterior. “Então estamos tranquilos de que é uma posição bem controlada, bem fácil de resolver.”

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Questionado sobre os prejuízos do setor, Maggi destacou que a cadeia é longa. “Obviamente no momento em que você tem uma interrupção, ou que os frigoríficos, os empresários olham que não terão onde colocar esses produtos, cria sim uma preocupação”, afirmou. “Neste momento a maior preocupação que nós temos é poder levantar os embargos que foram feitos e dar continuidade (às exportações) para não diminuir no dia a dia essa produção.”

Maggi defendeu as medidas adotadas pelo ministério, de afastar todos os fiscais envolvidos na operação. O ministro ponderou que, dentre os mais de 11 mil servidores no Ministério da Agricultura, sendo 2,3 mil agentes fiscais diretamente ligados a essas atividades, apenas 33 estão sob suspeita. “Nós vamos acompanhar as investigações e tomar as medidas cabíveis. É claro que a questão criminal não é de responsabilidade do ministério, a nossa responsabilidade é sobre qualidade dos produtos, mas todos aqueles que infringiram qualquer regra terão que responder conforme a legislação brasileira.”

Questionado se a operação coloca em dúvida a rastreabilidade do produto brasileiro, Maggi rejeitou essa percepção. “É isso o que nós estamos mostrando ao mundo, que os nossos produtos são de boa qualidade, têm rastreabilidade e que o Ministério da Agricultura garante a qualidade desses produtos.” Ele ressaltou que o Brasil auto-embargou a exportação das plantas citadas na operação. “Nós estamos com uma força-tarefa nessas plantas e nas demais também, repassando todo o nosso sistema e olhando ponto a ponto para ter a certeza absoluta de que o que está acontecendo está restrito na parte burocrática e não na parte de proteção à saúde.”

Sobre embarques de carne contaminada com salmonela para a Itália, Maggi afirmou que o controle da contaminação pela doença é rígido no Brasil, mas ponderou que os níveis de tolerância na Itália são diferentes dos de outras nações e ressaltou que, mesmo que haja contaminação, não há risco para consumo caso o alimento seja cozido ou frito a 70 graus centígrados. Diálogos interceptados na operação apontam que uma carga da unidade de Mineiros (GO) da BRF foi barrada na Itália por conter indícios da doença.

Maggi voltou a criticar a forma como a investigação foi comunicada, esclarecendo aos jornalistas estrangeiros pontos como o uso de determinados tipos de carnes em embutidos, a adoção de conservantes como ácido ascórbico e um diálogo interceptado sobre embalagens que foi confundido com uma mistura de papelão em carnes. “É um absurdo absoluto o que foi dito nessa comunicação dessa operação”, destacou. “Criou-se uma preocupação muito grande nos consumidores porque as imputações foram feitas sobre qualidade de produto, mas a investigação não é sobre qualidade de produto, é sobre conduta de pessoas”, assinalou, ressaltando que a Polícia Federal esclareceu por meio de comunicado esta semana que a operação não tem relação com controle sanitário. Maggi reafirmou sua postura favorável à investigação. “Quero reiterar que nós não somos contra a operação da PF, que ela continue fazendo as investigações, porque isso mais uma vez vai dar transparência a todo o processo brasileiro e a gente vai depurar todo esse processo.”

Novo regulamento

Durante a teleconferência, o ministro afirmou ainda que no dia 29 de março o ministério vai lançar um novo regulamento de inspeção de produtos de origem animal, que já vinha sendo discutido. “Nosso regulamento ainda é de 65 anos atrás. Estamos atualizando isso, trazendo para este momento as coisas mais modernas de fiscalização que antes os nossos regulamentos não permitiam”, afirmou. “O investimento nessas áreas é permanente, e eu tenho consciência plena de que nós só vamos nos manter nos mercados se pudermos dar tranquilidade e segurança de que nossos produtos são de primeira qualidade.”

O ministro disse ainda que o órgão está neste momento discutindo o Plano de Defesa Agropecuária para melhorar processos e abrir espaço para inovações. “O que posso dizer aos senhores é dar a garantia de que nossa pecuária é competitiva, segura, que nós não dependemos de subsídios do governo para trabalhar e respeitamos o meio ambiente. Estamos absolutamente tranquilos de que o mundo inteiro pode consumir os produtos brasileiros sem nenhum receio de sofrer qualquer problema.”

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