“Sei que não podemos colocar esse material junto com a coleta seletiva. Mas desconheço quais danos pilhas e baterias podem causar se forem descartadas incorretamente”. A afirmação é da aposentada Maria Irinéa Fernandes, que faz separação de resíduos sólidos e úmidos em sua residência, de Santo André, mas sempre tem dúvidas sobre o destino final de da população sobre descarte do tipo de material. O comentário de Irinéa reflete o pouco conhecimento que a população do ABC tem em relação ao descarte do tipo de material.
A aposentada conta que geralmente deposita pilhas e baterias em reservatórios localizados em supermercados, mas encontra dificuldades. “A bateria de um laptop não passa pelo buraco da tampa do reservatório, então não tenho como descartar esse material”, relama.
Quem também tem dúvidas é a auxiliar de escritório Bruna Anduca, que afirma não saber qual o destino dado a essas pilhas e baterias. “Uma pessoa que trabalhava comigo levava em uma agência bancária próximo do escritório. Mas hoje não sei de locais próximo de minha casa, por exemplo, onde eu possa fazer o descarte correto”, diz.
Pilhas e baterias têm em sua constituição elementos tóxicos, chamamos de metais pesados. Quando descartados de forma inadequada, podem ser repassados não apenas o solo, nas a atmosfera e a água. “Esse material pode contaminar o solo, por isso é necessário o engajamento da população no descarte correto”, diz o secretário-adjunto de Meio Ambiente de Santo André e químico, Murilo Valle.
O químico explica que a questão está ligada a ações educacionais junto aos moradores, para que estes tenham conhecimento sobre a importância da destinação correta de pilhas e baterias. “Em Santo André, esse trabalho está bem consolidado, mas podemos aprimorar para que os moradores estejam mais engajados”, diz.
O professor de pós-graduação do Senac, João Ricardo Guimarães Caetano, ressalta que o descarte do tipo de material é o aprimoramento da coleta seletiva. Se descartado junto com o lixo reciclável pode causar danos ao aterro sanitário. “Se o munícipe descarta pilha ou bateria junto com o lixo reciclável, a Cooperativa que recebe esse material pode não estar preparada e encaminhar tudo junto para o aterro que fica contaminado”, comenta.
Para Guimarães falta informação para a população sobre como deve ser feito esse descarte, quais os riscos que pilhas e baterias oferecem ao meio ambiente. “Antes, as pessoas não sabiam dos riscos que plásticos e materiais metálicos causavam à natureza, hoje é uma informação bastante difundida. O mesmo processo educacional da coleta seletiva deve ser aplicado a este setor”, afirma.
Pouca visão
O professor diz que falta visão mais ampla por parte das prefeituras sobre o assunto. “É algo que tinha de ser muito informado à população, principalmente sobre os postos de coleta. As cidades que têm esse serviço podem fazer campanhas educativas para que esse tipo de descarte seja mais efetivo”, comenta Guimarães, que sugere as prefeituras fazerem acordo com fabricantes para que estes recolham o material.
Em Santo André, o recolhimento de pilhas e baterias teve início em 2007. Atualmente são recolhidas 3,9 toneladas do material por ano na cidade, que conta com 98 pontos de entrega gratuitos de pilhas e baterias, segundo o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental). As ‘bombonas’, que recebem estes materiais, estão localizadas em escolas, creches, prédios públicos, supermercados e nas 18 estações de coleta do Semasa. O material é encaminhado a uma empresa em Suzano que recicla todos os componentes e reaproveita os metais pesados na fabricação de pigmentos e tintas.
Em Ribeirão Pires, um trailer instalado na vila do Doce (rua Boa Vista s/nº, Centro), de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h, é o ponto de coleta, que depois envia o material para a Cooperpires para triagem e destinação correta dos eletrônicos.
A reportagem questionou as prefeituras de São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá e Rio Grande da Serra sobre a coleta e destinação de pilhas e baterias, mas estas não responderam até o fechamento dessa edição.