O universo paralelo da SPFW

A cidade estava parada, com trânsito caótico, quando começou o primeiro desfile da São Paulo Fashion Week nesta quarta-feira, 15, apresentado em uma loja de design da Rua Gabriel Monteiro da Silva. Mas a movimentação nas passarelas seguia alienada, enquanto o mundo lá fora pegava fogo com a interrupção nos serviços de transporte em manifestação às reformas. Focada em sua clientela de mulheres bem-sucedidas, a estilista Giuliana Romanno apresentou uma coleção rica, com calças de alfaiataria, maxicolete, maxiparka, camisas de seda, além de uma linha de roupas de noite baseada em tecidos metalizados e finos. Tudo com uma modernidade elegante, reforçada pelo sapato baixo e pela botinha de camurça e couro.

Giuliana é uma das estilistas mais refinadas da atualidade. Sua roupa é cara (um vestido custa em média R$ 2 mil), mas tem design criativo e acabamento de primeira.

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À tarde, os desfiles seguiram no prédio da Bienal, no Parque do Ibirapuera, com a coleção da carioca Isabela Capeto. A ideia da estilista foi colocar uma lente de aumento no regionalismo e nas tradições culturais do Cariri cearense para criar as peças desta temporada. Depois de visitar a região nove vezes só no ano passado, Isabela apostou no bordado artesanal, que por si só já é um resgate da tradição local. Destaque para o floral impactante, que remetia à vivacidade da chita e foi exibido ao lado de um poá delicado, em saias e vestidos longos. Tecidos como o algodão, a seda e o tule proporcionaram um movimento suave às roupas.

Com a mesma temática regional, a estilista mineira Fabiana Milazzo fez sua estreia no evento. Famosa entre as marcas de moda festa, Fabiana investiu no trabalho de artesãos do Instituto Tecendo Itabira (MG) e desenvolveu peças com desenhos orgânicos misturados a símbolos das cidades históricas de Minas, das comunidades do Rio e da obra de Oscar Niemeyer. A sequência final de vestidos off white, com bordados e aplicações, foi o ponto alto da apresentação. Peças em jeans com tiras reaproveitadas misturadas a lã e a pedrarias fizeram um contraponto casual às roupas de organza e chiffon. A top Isabeli Fontana participou do desfile.

Em uma outra corrente, a marca de roupas fitness Memo trouxe uma coleção feita em parceria com a estilista Lilly Sarti. Ponto para o sportswear cheio de bossa, com direito a jogging (conjunto esportivo) cheios de babados e saias longas de moletom. O maxianorak, um tipo específico de casaco longo, também chamou atenção, fazendo um jogo de proporção interessante com calças compridas e ajustadas.

Elementos e tecidos do activewear, aliás, já podem ser apontados como uma das grandes tendências. Fios metalizados como o lurex, o decote de um ombro só e as botas pesadas, tipo coturnos, são outras certezas das passarelas até aqui. No que diz respeito ao padrão de beleza dos modelos, a novidade é que, finalmente, os estilistas estão apostando em biotipos mais diversos. O número de jovens modelos negros aumentou visivelmente no casting de quase todas as marcas. A estética andrógina, ou sem gênero, é um movimento forte. Há pessoas mais velhas na passarela também, ex-modelos na faixa dos 40, 50 e 60 anos. Ainda assim, a diversidade surge mais como pano de fundo do que como causa a ser defendida.

Enquanto os desfiles de Nova York causaram comoção fazendo críticas políticas (o alvo foi Trump), a maior parte das marcas nacionais parece preferir o muro do que lançar mensagens políticos ou sociais. Não à toa, o que rolou nas passarelas ainda não reverberou muito nas redes sociais. Nem nas ruas tumultuadas da cidade.

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