A falta de manutenção periódica na rede elétrica tem deixado moradores às escuras na região. Há casos que se repetem há mais de 30 anos, como no bairro Barcelona, em São Caetano. A queixa é de que toda vez que chove é breu na certa. Cansados de reclamar à Eletropaulo e com medo de serem assaltados, os munícipes não sabem mais a quem recorrer. O engenheiro eletricista Francisco da Costa Saraiva Filho, professor do Centro Universitário da FEI, diz que o problema é pura falta de manutenção na rede de iluminação, por parte da concessionária, e de investimento das prefeituras.
A jornalista Erika Paula da Silva Ortiz diz que o bairro Nova Petrópolis, em São Bernardo, se tornou perigoso para quem anda sozinho nas ruas. Por este motivo, pede para o pai buscá-la quase todos os dias no trabalho. “Não posso me arriscar”, diz.
Wilson de Paula Silveira, proprietário do Bar do Wilson, conta que o problema acomete o bairro há mais de 17 anos. Todos os comerciantes que estendiam o horário de funcionamento agora são obrigados a fechar mais cedo para proteger os clientes e funcionários de assaltos por causa da escuridão. “Em dia de clássicos [jogos] reservamos todas as mesas, para mais de 100 pessoas. O lucro, que neste momento de crise nos salvaria, virou prejuízo por conta da escuridão”, diz.
Outro problema são as constantes explosões em cadeia de transformadores nas ruas Dr. Flaquer, Maria Silva, Olinda e Sergipe. “A Eletropaulo veio várias vezes mexer nos transformadores, mas o problema parece não ter fim. Muitas vezes até rezo antes de vir trabalhar para que não chova”, afirma Silveira.
A estudante Érica Cristina Santos reclama que na avenida Doutor José Fornari, ao lado da via Anchieta, são constantes os assaltos. “Quem conhece sabe que se passar por ali é assaltado. Os ladrões aproveitam a escuridão e o matagal e atacam principalmente à noite. É perigosíssimo”, adverte.
Em São Caetano, a situação não é diferente. O cirurgião-dentista Rodrigo Carreira Rebesco reclama da insegurança nos arredores da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) nas ruas Maceió, Antonio Gallo e a travessa da Ana Maria Martinez. “Nem a Eletropaulo nem a Prefeitura resolvem o problema, jogam a responsabilidade um para o outro e toda vez que chove falta energia. Chegamos a ficar mais de 50 horas sem luz, é um problema crônico que enfrentamos há mais de 30 anos”, um absurdo, diz.
Saúde
Rebesco conta que na rua Antônio Gallo alguns moradores sofrem prejuízos com a falta de energia, pois compromete o funcionamento de equipamentos de saúde. “Na minha rua existem pessoas que dependem de energia elétrica para tratamento. Meu vizinho tomou uma canseira da Eletropaulo e na última vez foi até o posto da Eletropaulo e cortou os fios do prédio de tanta raiva”, diz.
Em Rio Grande da Serra, os moradores da Estrada da Maratona, Vila Niwa e Prefeito Cido Franco dizem que existem mais lâmpadas apagadas do que acessas. Para a estudante Aline Lima, os assaltos e o medo ao sair à noite estão associados à escuridão em toda a extensão da rua. “A gente acaba ficando preso em casa por conta do perigo”, afirma.
O professor de Engenharia Elétrica do Centro Universitário FEI, Francisco da Costa Saraiva Filho, comenta que a escuridão se deve à falta de manutenção periódica da rede. “O poder público e as concessionárias restringem o investimento em manutenção, querem aumentar o lucro e apertar até onde dá sem fazer as devidas manutenções. Os transformadores, em especial por serem movidos a óleo, deviam ser filtrados e receber limpeza periódica, mas isso não acontece, só mexem quando queima o reator”, diz.
O engenheiro diz que falta também revisão nos para-raios acoplados nos transformadores. Cada transformador tem um para-raios, mas como não tem manutenção, a maioria está queimada, pois explodiu por raios de alta tensão. “Como a Prefeitura e a concessionária não fazem a sua parte, a saída para os munícipes é comprarem uma Bíblia e rezar para não ficar no escuro”, afirma.
Prefeituras e Eletropaulo respondem às queixas
A Prefeitura de São Bernardo informa que fez vistoria na avenida Doutor José Fornari e não encontrou pontos apagados. Sobre Nova Petrópolis, diz que está em tratativas com AES Eletropaulo. A Prefeitura de São Caetano informa ter feito contato com a Brasiluz, terceirizada, e pediu verificação. Em Rio Grande da Serra, um cronograma de reparos na rede e a manutenção pela empresa Terwan está agendado. A AES Eletropaulo informa que a maior parte das interrupções em São Caetano e São Bernardo é devido a galhos e copas de árvores na fiação e equipamentos da rede, desta forma, vem intensificando o programa de podas na região. Até abril a previsão é que 280 árvores de São Caetano sejam podadas, assim como 267 em São Bernardo.
(Colaborou Amanda Lemos)