“Um dia para reflexão e conscientização”. É dessa forma que a delegada titular da Delegacia da Mulher de Diadema, Renata Lima de Andrade Cruppi, acredita que o Dia da Mulher, celebrado na próxima quarta-feira (8/3), deve ser lembrado. A afirmação foi dada pela delegada em entrevista do RDtv.
“Temos de analisar como a mulher é tratada hoje em dia. Temos a terceira melhor lei do mundo contra a violência doméstica e ainda assim, temos uma cultura social estagnada que impede a implementação da lei em sua amplitude. Ainda há uma grande distância entre a retórica e a prática”, enfatiza.
Criada há pouco mais de 10 anos, a Lei Maria da Penha, que cria mecanismos legais para coibir violência doméstica e familiar contra mulheres, ainda encontra resistência por parte da sociedade para que possa ser efetivamente cumprida.
Renata ressalta que mesmo depois da criação da lei, mulheres vítimas de violência ainda sentem vergonha denunciar agressores e, mesmo quando o fazem, não encontram apoio da família e sociedade para levar o caso adiante. “São mulheres com hematomas que relatam terem caído da escada ou outras histórias inventadas para preservar o agressor. Quando essa mulher resolve ir adiante e registrar queixa, muitas vezes, não encontra apoio da família e sente vergonha de se expor dessa forma”, diz.
Contudo, a delegada ressalta que a Lei Maria da Penha tem o intuito de quebrar esses paradigmas e empoderar as mulheres. “A legislação cria formas para que essa violência seja cessada e haja harmonia na família, com encaminhamento para atendimento humanizado para saúde, jurídico, psicológico e social. A possibilidade de separação do casal é o último caso”, explicou.
Atualmente, o ABC conta com Delegacias da Mulher em Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá com atendimento das 8h às 18h. Somente a Capital tem uma unidade aberta 24 horas. Renata explica que grande parte das denúncias é feita durante a semana, quando o agressor não no lar.
Porém, a delegada reconhece que o ambiente da delegacia especializada nesses casos, ajuda as mulheres a se sentirem mais seguras e acolhidas. “Mesmo todos os profissionais tendo treinamento para estes tipos de casos, há ainda muita vergonha por parte de quem é agredida. Mulheres que preferirem prestar queixa e querem esperar atendimento na Delegacia da Mulher devem fotografar as lesões para que possamos anexar aos processos”, enfatiza.
Avanços
Em 2014, Diadema recebeu o projeto, até então piloto, Homem Sim, Consciente Também, que prevê encontros quinzenais de grupos de indivíduos com traços de violência e vícios. A ideia é orientar e desenvolver debates sobre os problemas que ocorrem dentro do lar.
Hoje o programa também já está implementado em Santo André e deve ser levado para outras Delegacias da Mulher na região. “Em Diadema, registramos uma média de aproveitamento de 77%. Abrimos espaço para que os homens possam trocar experiências, entender o motivo de serem agressivos. Isso ajuda na quebra dessa violência doméstica”, afirma a delegada.
A delegada destacou também pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) que aponta que para haver igualdade de gênero no Brasil são necessários mais 81 anos. Em escala global, essa estimativa salta para 200 anos.
Outro exemplo dado pela delegada de que em muitas ocasiões as pessoas tendem a interferir em alguém brigado com um idoso ou criança, mas não no caso de uma mulher. “Nesse caso, há o pensamento de que ela sabe o motivo de estar apanhando. O que é um absurdo”, salienta.