João Agripino da Costa Doria Júnior foi conhecido até meados de 2016 por uma pequena parcela das pessoas como apresentador de programas e talk-shows televisivos voltados ao público empresarial e interesses corporativos, quando consegue o apadrinhamento do governador Geraldo Alckmin, político pouco afeito a patrocinar a ascenção de novas lideranças, para disputar pelo Partido da Social Democracia Brasileira o pleito que designaria o próximo prefeito de São Paulo.
O motivo de tal preferência era o vislumbramento de que o no novo pupilo tornar-se-ia uma ferramenta para impor sua vontade e estabelecer a hegemonia sobre a ala histórica, de maior contorno ideológico e programático da agremiação. Figuras como José Serra, Fernando Henrique Cardoso, Aloísio Nunes Ferreira, José Aníbal, Alberto Goldman, Arnaldo Madeira, Andrea Matarazzo, entre outros, foram menosprezados e jogados à periferia do processo sucessório pelo rolo compressor alckmista.
A proeza obteve dimensão enternecedora pela grandiosidade da vitória ainda em primeiro turno. Ademais, mal se iniciou a gestão que compreenderá o período entre 2017 a 2020, e João Doria impulsionou um modelo de diálogo midiático frenético e audaz com a sociedade, que chega a provocar labirintite e ruborizaria Jânio Quadros.
Os efeitos e consequências políticas mais visíveis evidenciam-se na maneira como os recém-prefeitos eleitos, em especial aqueles inseridos na região metropolitana, apressaram-se em imitar os discursos, hábitos e trejeitos do administrador da capital; e também, como em tão pouco tempo, a horda alckminista começou a identificá-lo como a figura que reúne todos os requisitos para assumir o papel de grande líder do grupo.
Nas conversas de pé de ouvido travadas pelos corredores palacianos, já é possivel ouvir teses identificando o alcaide paulistano como o melhor nome para concorrer ao governo do Estado ou Presidência da República. Isso porque se tornou evidente que ao lado de João Doria, a imagem de Geraldo Alckmin adquire a propriedade de substância inodora, incolor e insípida, condição que nem mesmo os adversários do Governador, desde Orestes Quércia, foram capazes de massificar e cultivar junto à opinião pública.
Tudo indica tratar-se de outro caso em que a criatura superará o criador, em razão de Doria incorporar com superior densidade a capacidade de formular o pensamento e prática liberal, baseada nos preceitos de competência administrativa e respeito ao livre mercado, ou seja, a grande demanda doutrinária dos segmentos que veem a liberação das amarras do capitalismo, como condição SINE QUA NON para o desenvolvimento e progresso nacional.
Nesse contexto, a derrocada do Partido dos Trabalhadores, que levou consigo a predominância do pensamento socialista, está servindo para amplificar e qualificar o campo de centro-direita. Nesse quesito João dispara na frente de todos, pois, em um mundo em que Bolsonaro desperta os mais tenebrosos pesadelos e Alckmin não empolga, Doria apresenta-se como uma referência palpável para embalar os segmentos da sociedade que estão cansados da velha e cansativa retórica esquerdista.
Por esses motivos, não se assustem caso o debate de 2018 seja travado entre o governo do triunvirato (Temer, Serra e Kassab) em contraposição a João Doria liderando o exército alckmista.