A onda de assaltos continua a preocupar a população do entorno da Universidade Federal do ABC (UFABC), campus Bangu, em Santo André. Moradores, estudantes e comerciantes estão amedrontados com o problema que parece não ter fim. Os assaltos à mão armada e as tentativas de estupro não têm horário nem local definido, no entanto, a frequência é maior nas ruas Oratório, Frei Caneca, Speers, Abolição e avenida dos Estados, nos quadriláteros próximos à universidade. Somente em outubro, ocorreram 705 casos de roubo em Santo André, 165 apenas na região da UFABC, segundo levantamento da Secretaria Estadual de Segurança Pública.
A estudante de neurociência, Maria Cristina da Costa Aloise, 23 anos foi uma das vítimas. A universitária saia da faculdade às 16h quando foi surpreendida por um assaltante que a abordou em uma rua próxima à instituição. “Um rapaz armado me parou e mandou eu entregar tudo que tinha, não sabia que por aqui era tão perigoso”, diz. Alertada pelos colegas, Cristina agora carrega um celular de brinquedo para se prevenir. “Se você não entrega nada, eles te batem”, afirma ao contar que um aluno foi esfaqueado porque não levava nada de valor.
Dois tiros
Em outubro, um aluno, que não quis ser identificado, foi baleado no braço, na rua Aracati, próximo ao campus durante uma tentativa de assalto. “O assaltante estava em uma motocicleta quando me abordou. Apontou a arma e quando tentei sair da frente, ele disparou. O tiro raspou o meu peito e atravessou o meu braço, depois ele fugiu com a moto”, conta. O universitário diz logo depois do episódio os assaltantes começaram a agir em duplas, um em cada moto, ambos armados. “Mas agora parece que estão voltando à estratégia anterior de assaltarem sozinhos. E ainda existem outros tipos de violência como tentativa de estupros”, reitera.
Raphael Muniz, 24 anos, e Jorge Rizzini, 20 anos, ambos estudantes da UFABC, nunca foram assaltados, mas por ter conhecimento da onda de assaltos, não se arriscam a ir embora sozinhos. “A faculdade mandou nota sobre o aluno baleado, e ouvimos muitos casos por aqui, mas mesmo assim não fazem nada. Agora andamos em grupo, ou vamos embora de carro para evitar maiores problemas”, conta Muniz.
Desespero
Uma comerciante que tem um trailer em frente à faculdade passou a encerrar o atendimento às 21h porque sente medo. “Antes eu ficava até mais tarde, mas hoje está impossível. Uma vez ladrões de carros tentaram se esconder aqui no meu trailer e foi um desespero. A faculdade precisa intensificar a segurança na região, senão não dá”, reclama.
O estudante de engenharia aeroespacial, Thiago Porto Brito, diz que para fugir do perigo, além de andar em grupo, passou a carregar sempre algum dinheiro no bolso. “Isso diminui a chance de sermos assaltados, porque se você não tem nada, já era. A faculdade é muito visada, talvez por ser pública, então evito levar material de valor comigo e, algumas vezes, saio mais cedo da aula ou peço UBER para ir embora, para evitar problemas”, diz.
População tenta soluções para minimizar violência
Os estudantes da UFABC criaram um grupo fechado no facebook, para compartilhar, trocar ideias e sugerir alternativas para fugir dos roubos e assaltos na região. Na rede social, divulgam pontos de perigo e ensinam os colegas a registrar boletins de ocorrência. “Já fizemos até abaixo-assinado na faculdade para aumentar o policiamento, mas não adianta, porque eles não fazem nada e o problema só se agrava”, diz Jorge Rizzini.
Silvia Prado é proprietária de repúblicas estudantis e moradora no bairro Curuçá, onde conquistou recompensas para o bairro através do vizinhança solidária e tenta a implementação do Conselho de Segurança (Conseg Norte) no local. Silvia conta que apesar de alguns alunos se interessarem em ajudar, ainda há resistência por parte de outros estudantes em deixar as viaturas da Polícia Militar atuar na região. “Ainda há resistência aos policiais e isso prejudica quem tenta ajudar. Chegaram a espalhar cartazes contra os policiais na faculdade, mas de qualquer forma não podemos desistir”, comenta.
Por meio de nota, a Polícia Militar informa que após levantamento de incidentes de roubos na região, foi constatada redução dos indicadores, no entanto, mesmo com a diminuição, o Policiamento Ostensivo Preventivo está sendo feito através de Radiopatrulhamento, pelas viaturas de rondas escolares, Força Tática, ROCAM e viaturas de cumprimento da Diária Especial.
Também por meio de nota, a Prefeitura informa que desde 2013 auxilia a comunidade acadêmica e as forças de segurança no entorno da faculdade. Informa ainda que as bases móveis da GCM não encontram pontos de estacionamento na região devido à topografia e condição de fluxo e que as patrulhas serão intensificadas.
Fernando Costa Mattos, pró-reitor de Assuntos Comunitários e Políticas Afirmativas da UFABC, também enviou nota na qual diz que a faculdade tem mantido contato com a PM e o Conseg pensando em estratégias para lidar com o problema. Uma página no facebook “UFABC Segurança” foi feita para mobilizar a comunidade e estabelecer discussões de segurança entre estudantes e moradores.
(Colaborou Amanda Lemos)