Eleitos em 30 de outubro para administrar as duas maiores cidades do ABC, Orlando Morando (PSDB), de São Bernardo, e Paulo Serra (PSDB), de Santo André, prometem adotar medidas de austeridade e corte de custos nos primeiros dias de mandato.
Ambos têm em comum o discurso de “choque de gestão” e “eficiência na máquina pública”, mantras repetidos também por outros políticos tucanos, como o novo prefeito de São Paulo, João Doria.
Tanto em Santo André, quanto em São Bernardo, haverá cortes de secretarias. No entanto, Paulinho e Orlando ainda não anunciaram quais e quantas pastas serão eliminadas. As definições serão anunciadas somente em dezembro. Os dois dizem que vão reduzir o número de comissionados, mas também não precisam números.
O orçamento de São Bernardo para 2017 chega a R$ 5,3 bilhões. Uma das principais propostas de Orlando Morando é acabar com o uso de carros oficiais. A promessa do prefeito eleito é que o primeiro escalão utilizará veículos próprios desde o início da sua gestão e pagarão o combustível do próprio bolso. O tucano promete também deixar de fornecer telefones oficiais.
Paulo Serra, que vai gerenciar orçamento de R$ 3,1 bilhões, promete promover auditoria e redução de custos nos contratos que estão em vigor e ampliar as ferramentas que levarão a uma maior transparência dos gastos públicos. Paulinho fala também em “mudar o modo de gestão” para tornar a máquina pública mais eficiente, “combater desperdícios” e criar um escritório em Brasília com o objetivo de captar recursos para a cidade. Abaixo, confira as entrevistas e vídeos com os prefeitos:
Morando quer estadualização do Hospital de Clínicas
O Hospital de Clínicas José de Alencar foi um dos principais alvos de críticas dos oposicionistas em São Bernardo, principalmente por não funcionar em sua totalidade. O prefeito eleito Orlando Morando (PSDB) afirmou, em entrevista exclusiva ao RD, que vai propor ao governo do Estado a estadualização do equipamento para amenizar os custos da Prefeitura.
“Nós temos um diálogo, é natural que isso dependa do governo do Estado. O que não podemos fazer é que um hospital funcione apenas 12%, alguns falam 20%. Eu só vou saber de verdade quando tomar posse e no primeiro dia eu vou fazer uma vistoria, uma visita ao Hospital”, afirma.
Segundo o tucano, o custo previsto do equipamento é de R$ 150 milhões por ano. Este fato faz com que o futuro prefeito queira fazer um estudo completo sobre o Hospital de Clínicas, principalmente para que o prédio todo possa funcionar plenamente.
Ainda sobre a área de Saúde, Orlando Morando afirma que pretende fazer a contratação de novos profissionais ainda em janeiro, apesar de considerar a situação difícil pela falta de médicos no mercado. “Você pega algumas áreas, como ortopedista, pediatra, em que um profissional é mais difícil. Vamos iniciar as contratações no primeiro mês do mandato por meio da própria Fundação (ABC) que nos dá facilidade, que nos dá grandes possibilidades que é o grande problema. Têm áreas que demoram mais de um ano para conseguir”, explica.
Imasf
Questionado sobre como vai agir em relação aos problemas do Instituto Municipal de Assistência à Saúde do Funcionalismo (Imasf), Morando afirma que pretende fazer uma audiência pública com os usuários para tentar solucionar alguns problemas, como a obra de um novo hospital para atender os servidores. Além disso, deixou claro que vai nomear alguém técnico para ser o novo superintendente da autarquia, que é alvo de uma CPI na Câmara.
Museu
Orlando Morando não esconde que conversou com alguns vereadores para tentar barrar a votação do projeto de lei que oficializa o Museu do Trabalho e do Trabalhador, na região central. “Espero que haja bom-senso em relação a isso. Eu não vou fazer bravata. Se acharem por bem votar e aprovar, nós vamos lutar para revogar isso no próximo ano, mas pelo que vejo não têm condições para que o museu seja inaugurado”, comenta.
Indagado sobre a sua ideia de colocar uma Fábrica de Cultura no lugar do Museu, Morando diz que está em conversa com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) para transformar o equipamento. Alckmin não garantiu que a Fábrica possa ser instaurada na cidade, pois considera que o equipamento igual está sendo construído em Diadema e para o governo estadual este fato faz com que o mesmo seja regional.
Em entrevista coletiva concedida nesta semana, o prefeito Luiz Marinho (PT), afirmou que duvidava em alguma mudança em relação ao Museu do Trabalho e do Trabalhador.
“É um dinheiro carimbado do Ministério da Cultura. Só houve a liberação do dinheiro por causa do projeto de Museu. Estamos na espera da liberação do dinheiro, Se vier neste ano, podemos concluir a obra”, afirmou o prefeito.
Secretários
O novo prefeito não quis adiantar os nomes dos novos secretários, pois ainda não decidiu quais secretarias serão extintas. Orlando Morando afirma que irá reduzir entre sete e 10 pastas.
Segundo Morando, os nomes só serão anunciados na posse, no dia 1º de janeiro. Um dos motivos para que os nomes não sejam divulgados é que ainda não se sabe quais pastas serão cortadas para o mandato liderado pelo tucano a partir de 2017.
Paulinho propõe suspensão de recesso para aprovar reforma
O prefeito eleito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), pretende colocar em prática a reforma administrativa no primeiro mês de gestão. O pacote de mudanças prevê eliminação de secretarias e fusão de pastas, mas os detalhes do que será feito ainda não foram divulgados.
Em entrevista exclusiva ao RD, Paulinho afirmou que pretende levantar o recesso da Câmara em janeiro – já que as mudanças precisam necessariamente passar pelo crivo do Legislativo. “Vamos mandar o projeto em janeiro antes mesmo da retomada. A nossa ideia inicial é suspender o recesso e fazer com que a Câmara analise essa reforma logo nos primeiros dias. Vamos formatar essa reforma em dezembro, a equipe já está trabalhando. A gente tem de economizar a partir do primeiro dia, a cidade não tem outra saída”, afirma o tucano.
A promessa do prefeito eleito é anunciar todo o secretariado no dia 20 de dezembro. A ideia é que a divulgação não ocorra a conta-gotas, ou seja, todos os nomes do primeiro escalão serão conhecidos nessa data.
Na última terça-feira (8), Paulinho participou da primeira reunião de transição de governo com o prefeito Carlos Grana (PT). O tucano afirmou que uma das grandes preocupações é a questão financeira. Para Paulinho, “Santo André tem uma crise orçamentária mais grave do que até a própria crise econômica nacional”.
“Nós já recebemos a informação, vai existir uma dívida financeira real”, afirma o prefeito eleito. “Mais grave do que os restos a pagar, é a dívida real porque não tem caixa, não tem perspectiva de caixa. É administrar mesmo uma massa falida, onde teremos de fazer essa operação a partir de janeiro porque os números devem ficar entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões”, diz.
Paulo Serra revela que nos próximos dias – possivelmente na semana que vem – deve se reunir com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) para falar sobre demandas da cidade, principalmente a questão da água.
Outra reunião será com representantes da Caixa para falar, entre outros assuntos, sobre o CEU do Jardim Ana Maria, que até agora não saiu do papel. O atraso de entrega da obra já passa de dois anos.
Auditoria
O prefeito de Santo André promete realizar auditoria nos contratos da Prefeitura, mas sem gastar recursos públicos. A ideia é que, além de auditoria, sejam realizadas reduções nos valores de contratos, como parte do pacote de ações para cortar custos. “Terá auditoria, mas não externa. Auditoria externa requer gastos, ela custa R$ 300 mil, R$ 400 mil, R$ 500 mil. Temos procuradores, servidores de carreira que têm competência, treinamento, têm capacidade pra isso, e vamos contar muito com a procuradoria, com nossa parte jurídica da Prefeitura”, afirma.
Na entrevista ao RD, o novo prefeito de Santo André também falou sobre uniformes e avisou: não há garantia de entrega no ano que vem. “Com muita sinceridade, dependemos do atual governo pra entregar uniforme em fevereiro. Se eles não fizerem nada e faz parte da transição, se ele mantiver a posição não tem como entregar em 2017, é impossível. Pode entregar até no meio do ano, mas em fevereiro teremos de abrir um processo licitatório em janeiro e pelo menos 90 dias”, ressalta o tucano.
Semasa
Paulinho fez críticas à gestão da água em Santo André e falou sobre a possível entrada da Odebrecht na cidade. “Independente do modelo, é muito estranho você ser acusado durante a campanha inteira de querer privatizar e, dois dias depois da eleição, tentarem privatizar. Mas eu não vou nem discutir se é o melhor modelo ou não”, afirma.
Na avaliação do prefeito eleito, decisões com esse peso deveriam ficar para a próxima gestão. “Acho que o governo atual não tem legitimidade pra tocar o processo estratégico que mexe com 25% da capacidade de Santo André gerar sua própria água, uma empresa hoje que eu não preciso falar os problemas é a Odebrecht, não vamos condenar ninguém mas está aí na Lava Jato, tem muita explicação pra dar à sociedade”, completa.