Moradores de bairros patrulham na internet

Baeta Neves está nas redes sociais para segurança (Foto: Pedro Diogo)
Baeta Neves está nas redes sociais para segurança (Foto: Pedro Diogo)

As redes sociais têm desafiado, e muito, as relações entre as instituições e a população. Esta agora usa como ferramenta para se reunir, cobrar e patrulhar a execução de serviços na rua, bairro e cidade.

Na região, os moradores formaram grupos que trocam mensagens e imagens sobre roubo de carro, buraco de rua, falta de água, atendimento ruim no posto de saúde, problema em escola e outros problemas.

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Em São Bernardo, um dos grupos mais ativos é o Segurança Jordanópolis. Fechada, a comunidade com mais de 6 mil membros no Facebook tenta se proteger do elevado índice de violência no bairro, principalmente os constantes roubos e furtos de veículos, mesmo com posto policial.

Luiz Felipe Alves da Cruz Santos, administrador, conta que graças ao canal alcançaram conquistas. “Muitos vizinhos eram assaltados e não registravam boletim de ocorrência por desinformação”, afirma. No WhatsApp, o grupo encurtou a  comunicação com a Guarda Civil Municipal e a Polícia Militar. “Adicionamos os responsáveis e, com isso, as rondas passaram a ser mais intensas e os moradores foram conscientizados em relação ao que fazer nos casos de violência”, conta.

No Facebook, a página Baeta Neves – Melhorias para o bairro foi criada em 2012 e hoje possui cerca de oito mil membros. Além de reivindicar melhorias, o canal em São Bernardo ajuda a divulgar serviços e achar veículos e até animais e documentos perdidos. “Conseguimos encontrar três carros e duas motos roubadas”, conta Roberto Costa Junior, o administrador. No WhatsApp, o grupo adicionou o comando da PM para tentar acabar com os problemas de segurança, mas não foi suficiente. Na página, vídeos de moradores denunciam casos de violência. “Muitos políticos querem entrar no grupo, principalmente na época de eleição, mas não aprovamos divulgação política”, avisa.

Em Santo André, um grupo tem se movimentado bastante na internet sobre a falta d’água no 2°subdistrito. Ednei de Rossi, um dos integrantes, conta que foi a única forma que encontraram para denunciar o problema na região, que abrange diversos bairros há mais de dois anos. “A princípio, o grupo tinha 15 pessoas, mas as pessoas foram se interessando e hoje somos mais de 80 moradores. Graças ao nosso barulho que o Semasa [Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André] tem nos tratado diferente, ‘retornando’ as nossas reclamações e voltando aos poucos com a água”, diz.

Voz e força
Missila Loures Cardozo, professora de Comunicação da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) explica que à medida que um espaço é aberto, as pessoas se manifestam, convidam outras e criam um canal com maior visibilidade. “É criada uma pressão que mobiliza o poder público já que não há controle sob os participantes. A rede social tem um ambiente com uma visibilidade extraordinária. Isso dá voz aos manifestantes que adquirem muita força”, conta.

Para a professora, é por meios das redes sociais que a população torna pública a insatisfação e insegurança, e é principalmente em anos de eleição que a insatisfação desagrada. “Pra mim, é mais uma questão de incômodo na imagem dos que estão no poder do que de fato a preocupação com o problema. Hoje, com SAC 2.0, até as empresas chegam a priorizar o atendimento nas redes sociais, já que a participação da população tem sido maior”, reitera. (Colaborou Amanda Lemos)

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