Após um ano e sete meses à frente do Legislativo de São Bernardo, o presidente da Casa, José Luis Ferrarezi (PT), fez balanço do tempo em que está à frente da Câmara. Para o petista, sua gestão tratou de uma série de questões que há tempos não se via, como a tentativa de implantar a TV Câmara. Mas admite que falhou ao tentar aproximar o Legislativo da população, além de ter enfrentado casos que só aconteceu com ele na presidência, como abertura de CPI, arrefecimentos dos movimentos sociais e de ajustes no funcionalismo .
Ferrarezi aposta na paciência para gerenciar os embates dos vereadores, incluindo os da base do governo Luiz Marinho (PT). “O debate é muito partidarizado. O presidente é passageiro, mas a instituição fica. Alguns vereadores são juvenis”, diz ao defender a instituição legislativa.
RD: Como o senhor avalia este perído de comando na Câmara. É positivo? Era como imaginou quando assumiu?
Ferrarezi: Não, é muito pior. Porque como dizem os funcionários da Casa, tudo aconteceu comigo, CPI, que há mais de 30 anos não se tinha uma CPI, os movimentos sociais bravos com o Legislativo. Tive de reduzir combustível, gastos, papel, assessores, concursos e Tribunal de Contas exigindo novos comportamentos. Tudo faz parte de um aprendizado, mas é meu primeiro mandato e o desafio é muito grande. Me parece que temos dado conta ao se relacionar bem e ter protegido a Casa. É que tem alguns vereadores que são muito ansiosos, juvenis ainda. O embate não se faz brigando com o presidente, tem de defender a instituição.
RD: Na Câmara, os vereadores representam a população legitimados pelo voto popular. Mas muitos dizem que vocês só trabalham uma vez por semana e ganham um bom salário. É assim presidente?
Ferrarezi: Por conta desse entendimento que você muito bem disse, quando eu olho o comportamento de algum vereador eu sempre penso nesse formato. Bem, se ele está aqui, ele representa um eleitorado, e eu tenho de respeitá-lo, ele está aqui com este comportamento porque quem votou tem o mesmo comportamento. E tenho paciência necessária para ter esse entendimento. O debate é muito partidarizado. O presidente é passageiro, mas a instituição fica. Digo aos vereadroes que têm que proteger a Casa, tendo esse entendimento fica mais fácil tomar algumas decisões. Mas faz parte do debate político, do trâmite, do enfrentamento, do regimento e a gente até o momento vai tendo essa paciência e dando conta.
RD: Como é a relação do Legislativo com o Executivo?
Ferrarezi: A forma de gerenciar a cidade do governo Luiz Marinho é uma forma muito centrada, muito nas questões orçamentárias de gestão e a relação com o Legislativo é muito dura, trabalhada nesse sentido. Não há relação paternalista, passar a mão na cabeça do vereador, aí os conflitos vêm à tona. Mas eu não sou líder de governo Marinho. Sou presidente de vereadores. Mas quando precisou a gente foi lá e garantiu a instituição Casa. Mas é uma relação difícil.
RD: O prefeito Luiz Marinho tem o apoio da maioria dos vereadores, mas é questionadora. Temos registros de embates e debates bastante significativos entre Executivo e Legislativo. Como o senhor analisa este cenário?
Ferrarezi: Para entender essa relação é preciso entender os bastidores, onde tudo fervilha. Entendendo isso, a gente vai aguardando o melhor momento. No prazo de uma semana mudam as relações, muda o humor das pessoas, muitas vezes não votamos nada em uma sessão mas, em seguida votamos mais de 50 projetos em outra. Observando a relação e o jeito do Marinho de governar e de se relacionar, a gente fez o que tinha que fazer na casa, atendendo a todos os vereadores até o executivo.
RD: Quando assumiu a presidência da Casa, um dos desafios anunciados era aproximá-la do cidadão. O senhor conseguiu?
Ferrarezi: Não, não consegui. Eu tentei. Nós precisamos entender que temos limites regimental e burocrático. Continuamos não dialogando com o município. A Câmara ainda é estranha à cidade. Mas tentamos avançar fazendo licitação tentando ter a TV Câmara, um jornal, tudo que era possível. Mas sempre ao final de uma licitação, alguém entrava com um recurso, algum vereador da oposição questionando, o Tribunal de Contas caçava pelo em ovo, porque eles fazem isso com uma facilidade incrível. Então eu não consegui e penso que nesse comportamento nenhum presidente vai conseguir. Porque o entendimento é de melhorar a relação, mas sempre de quem é a oposição é de questionar o que é feito na Câmara.