
Com cenário de desemprego crescente, a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) estima que, neste ano, cerca de 3 milhões de usuários devem perder o convênio. Do total, 1,6 milhão já ficou sem o serviço em 2015, segundo a Federação dos Hospitais, clínicas e laboratórios do Estado de São Paulo (Fehoesp). Dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) indicam a retirada de 788 mil clientes somente nos cinco primeiros meses de 2016, a maioria proveniente de planos empresariais e por conta de demissões. Enquanto isso, as operadoras apostam na gestão para segurar a carteira de associados.
A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) informa que a recomendação tem sido as empresas fidelizarem o cliente. “Nesse cenário, os planos de saúde priorizam uma gestão ainda mais equilibrada dos recursos, a fim de manter a qualidade de atendimento. Essas medidas buscam além da fidelização o ganho de mais clientes. Os gestores sabem que, nesses momentos de incertezas econômicas, os planos de saúde são mais testados e exigidos pelos consumidores”, diz por meio de nota. O Brasil possui hoje 48,6 milhões de beneficiários de planos médico-hospitalares, segundo a ANS.
Fernando Fornias, diretor presidente do Grupo Santa Helena Saúde, reconhece que a empresa tem perdido usuários. Neste ano, a empresa registrou retração de 8% dos 300 mil beneficiários de planos coletivos. Para enfrentar a crise, a saída foi focar as vendas em pequenas e médias empresas. A estratégia deu certo, pois a operadora cresceu 29% nessa área.
O executivo diz que o problema é que brasileiro não tem cultura de prevenção. Quando demitido, o funcionário não pensa no plano de saúde. “Quando é sem justa causa e contribui no pagamento do plano, ele tem de assinar documento alegando que não quer ficar com o plano. Aí, o desempregado passa a assumir o valor integral. Quem precisa fica”, comenta Fornias, que também aposta em planos sem cobertura nacional. “Se a pessoa não viaja está pagando algo que não utiliza no caso do plano com cobertura nacional. No ABC temos uma ótima cobertura e muitas pessoas optam pelos planos com atendimento regional, por exemplo”, diz.
Na espera
Em Mauá, a inspetora de qualidade, Aparecida Pires, 46 anos, não vê a hora de poder voltar a ter um convênio médico, ao menos para o filho de cinco anos. O último plano contratado foi encerrado há seis anos. Sem condições de arcar com o custo, Aparecida passou a utilizar o serviço público. Já a estilista Mirian das Graças Oliveira, de São Bernardo, aguarda o casamento em outubro para entrar no convênio do futuro marido, que é empresarial. “Querer a gente quer, mas com a crise vou esperar mais um pouco”, diz.
Serviço público registra reflexos
Silvio Luiz Martinez, secretário de Saúde de São Caetano, diz que a rede tem sentido aumento no número de atendimentos, principalmente na emergência. O titular acredita que a sobrecarga só não foi maior porque três unidades básicas de saúde (UBSs) passaram a funcionar até as 23h. “O horário estendido desafoga a demanda no pronto-socorro do Hospital Municipal Albert Sabin”, diz. De janeiro a maio foram registrados 106 mil atendimentos contra 104 no mesmo período de 2015. Já o terceiro turno dos equipamentos de saúde registrou 25 mil atendimentos somente nos primeiros cinco meses do ano.
Em São Bernardo, Odete Gialdi, secretária de Saúde, garantiu que há uma imigração de pessoas do convênio para as unidades de saúde da cidade. “Muitas relatam que estavam em tratamento nos convênios e que agora precisam continuar o tratamento nas nossas unidades”, diz. A Prefeitura não informou números de atendimento.
Santo André também registrou maior procura. Entre janeiro e abril deste ano, foram 2.988 milhões de atendimentos entre os serviços de atenção básica e especializada; urgência e emergência; e internações. Em 2015 foram 2.834 milhões. “Temos notado impacto, em particular, nos serviços de urgência e emergência e nos serviços de agendamento de exames”, diz Homero Nepomuceno, secretário de Saúde, ao completar que o SUS pode ficar mais sobrecarregado do que antes. (LTC)