Com as novas opções de transporte, carro e táxi perdem competitividade

Em São Paulo, uma metrópole de transporte público limitado, horas perdidas no trânsito e carros populares que custam R$ 40 mil, o veículo cada vez mais perde a característica de propriedade para se tornar um serviço. Calculadora desenvolvida pelo DataCustos e Zilveti Advogados, a pedido do jornal O Estado de S. Paulo, confirma essa tendência. Os números mostram os novos sistemas de transporte como uma opção econômica para quem pretende vender o veículo e morar perto do trabalho.

Na ferramenta, disponível no site do jornal, foram calculados os custos por quilômetro para carro, moto, táxi, Uber, bicicleta e transporte público. Em um percurso de 10 quilômetros por dia, o custo de um carro popular (Gol) fica empatado com o do táxi na bandeira 1, em R$ 40. Já o UberX, modalidade de veículos compactos da empresa, é cerca de 30% mais barato. Na versão compartilhada, chamada de UberPool, o custo cai ainda mais, para R$ 19,90.

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“Carro não é investimento. Em termos econômicos, quem compra só perde dinheiro”, diz Nelson Beltrame, sócio diretor do DataCustos e autor da pesquisa.

O levantamento leva em consideração diversos custos para calcular o preço por quilômetro do veículo particular: depreciação, manutenção (pneus, óleo, filtro de óleo, filtro de ar e filtro de combustível), seguro, seguro obrigatório, IPVA e combustível. Beltrame explica que quanto menos o carro é usado, maior é a parcela dos custos fixos por quilômetro. Por isso, para quem anda pouco, ter um carro é um péssimo negócio.

Para o veículo valer a pena em relação ao UberPool, é preciso rodar ao menos 24 km por dia. Mas, considerando o preço inicial do veículo, o gasto para mantê-lo e o tempo perdido no trânsito, o educador financeiro Rafael Seabra recomenda a venda. “Uma opção para economizar é organizar caronas com colegas e, em alguns casos, até morar próximo ao trabalho.” Alternar o carro compartilhado com o transporte público – cuja oferta é maior no centro expandido – também é uma opção.

No ano passado, segundo pesquisa da Rede Nossa São Paulo, a percepção em relação ao trânsito piorou e mais paulistanos disseram que iriam para outra cidade se pudessem.
“Mais do que uma questão de custo de vida, é uma questão de horas de vida”, diz a coordenadora do curso de economia criativa e cidades criativas do Programa de Educação Continuada da FGV, Ana Carla Fonseca.

Alternativas

A produtora de locação Isabella Alves, de 24 anos, uniu a falta de vontade de dirigir no trânsito caótico de São Paulo ao baixo preço do Uber e colocou seu carro à venda. “Como moro em um bairro central, boa parte das empresas e locais de filmagem que vou são próximos da minha casa. Muitas vezes a corrida não chega nem a R$ 10”, diz Isabella, que calcula rodar por volta de 10 quilômetros diariamente.

O advogado tributarista e também autor da calculadora Fernando Zilvetti, questiona, no entanto, a falta de equilíbrio competitivo no mercado – a principal questão de conflito entre Uber e taxistas. Segundo ele, o aumento da concorrência é positivo, mas também depende de igualdade tributária para crescer e oferecer preços sem distorções.

Sem isso, é difícil afirmar que os baixos valores do Uber, por exemplo, serão sustentáveis. A regulamentação definida pela Prefeitura de São Paulo prevê pagamento de créditos de R$ 0,10 para cada quilômetro rodado.

A própria Prefeitura tem tomado ações para incentivar o uso do carro compartilhado e a intermodalidade. Segundo Ciro Biderman, diretor de inovação da São Paulo Negócios, já está sendo discutida a ideia de um Bilhete Único que integre vários modais, incluindo os compartilhados. “Já imaginou você sair de casa pela manhã, pegar uma bicicleta com seu Bilhete Único, depois um ônibus e voltar de Uber?”

Além disso, uma resolução liberou um “bônus” para as empresas de compartilhamento: para cada quilômetro percorrido, é descontado 1 quilômetro do limite que as empresas têm para operar.

Apesar da vantagem do preço, dividir um carro com um desconhecido ainda esbarra em barreiras comportamentais. Reticente no início, a produtora Isabella decidiu lutar contra a timidez e hoje é usuária do serviço. “É impressionante ver quantas pessoas estão se movendo exatamente para o mesmo lugar, ao mesmo tempo”, diz. Colaborou Nathália Larghi, Especial para a AE

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