Algumas das antigas bases de segurança da Polícia Militar (PM), cedidas à Guarda Civil Municipal (GCM) de cidades da região, seguem abandonadas. Vidros quebrados, lixo espalhado, resíduos de drogas, roupas rasgadas e tudo escancarado chamam atenção de quem passa perto destes espaços, que põem medo aos moradores, pedestres e comerciantes do entorno.
São construções feitas em gestões anteriores e que foram substituídas por bases móveis, mas por descaso do poder público não foram demolidas. Como estão em divisas de municípios, cada cidade atribui ao vizinho o dever de ‘enterrar o defunto’. Enquanto isso, a PM diz que a responsabilidade sobre a base desativada é do município.
Uma das instalações abandonadas fica entre a rua Oratório e final da avenida Presidente Arthur da Costa e Silva, na divisa de Santo André, Mauá e São Paulo. O local serve de lar para moradores de rua e preocupa quem precisa ficar perto. Carlos Roberto Tinos, comerciante e motorista da barraca de frutas Três Divisas, trabalha indignado. Reclama que há mais de quatro anos a base foi desativada e que o local virou dormitório para “desocupados”. “Já reclamamos do abandono da estrutura, mas ninguém resolve o problema. Como fica na divisa de cidades, as prefeituras jogam a responsabilidade uma para a outra e não resolvem nada. Parece que a cada dia que passa tem mais gente lá na base, que é muito suja”, explica.
O cenário da base do bairro Sacadura Cabral, na divisa com São Bernardo, não é diferente. Com vidros estilhaçados no chão, roupas íntimas no interior do local e estrutura danificada, o local serve apenas como abrigo para usuários de droga e moradores de rua.
Na divisa de Santo André com São Caetano, as instalações da base na avenida Goiás, além de abandonadas, foram depredadas. O local permanece sujo, aberto e coberto de mato. Alexandre dos Santos, funcionário da Rede Altoman, diz que pede constantemente para a Prefeitura de Santo André a limpeza do local, porém nunca é atendido. “A base está largada, tivemos até de pagar capinação, a Prefeitura só joga o problema para o município vizinho”, conta.
Abandonada, a construção apavora muitos alunos da Faculdade Anhanguera e da Universidade Municipal de São Caetano (USCS), que estudam à noite e têm medo de assaltos, por isso só andam em grupos. Érica Cristina dos Santos, estudante de jornalismo, foi uma das vítimas. Ao sair da USCS, por volta das 22h50, foi assaltada no caminho da estação Utinga. “Procuro sair mais cedo para encontrar um fluxo maior de pessoas no caminho que faço. Por não ter nenhum guarda noturno nas imediações ou uma base policial em funcionamento, muitos já foram assaltados. Já fizemos até um abaixo-assinado na faculdade para tentar modificar este cenário”, conta.
Branca Lilian Gama, proprietária da lanchonete Casa Branca, em São Caetano, conta que também foi vítima. “Fomos assaltados duas vezes só neste mês. Da primeira vez, além de assaltar o bar, levaram o meu carro. Tenho até medo de denunciar, pois ameaçam voltar e nos matar”, conta.
Em São Bernardo, a reclamação é sobre a base na praça São João Batista, em Rudge Ramos, onde é construída uma menor. A modificação não agradou parte dos comerciantes, que reclama também do atraso da obra. “Inicialmente, nos deram o prazo de conclusão da obra para novembro de 2015. Já estamos em junho e nada. Além disso, talvez não tenha nem policial, porque na grande só tinha um”, aposta Sérgio de Anúncio, lojista.
‘Unidades móveis têm sido eficazes’
Na visão da PM, as bases móveis têm sido mais eficazes na visibilidade e acessibilidade da comunidade que busca segurança municipal. “Por se tratar de policiamento móvel, a PM pode estacionar os veículos em pontos estratégicos onde há concentração de mais pessoas como, locais de eventos, áreas comerciais, terminais rodoviários e vias de grande fluxo e que são deslocadas conforme a necessidade baseada em índices criminais”, afirma o comandante da Polícia Militar, Marcelo Cortez.
No balanço da corporação, o ABC tem hoje 21 bases móveis e 12 fixas espalhadas em São Bernardo, São Caetano, Diadema e Santo André. “Já as bases desativadas são de responsabilidade exclusiva das prefeituras”, informa a PM.
Ex-titular da Secretaria de Segurança Urbana na gestão Celso Daniel, o vereador Edson Sardano (PTB) diz que as bases desativadas “são elefantes brancos que alimentam a criminalidade”. Segundo o parlamentar, na sua gestão foi obrigado a dar continuidade no trabalho de bases fixas do ABC, porém sempre foi contra o projeto, já que a GCM e a PM trabalham em gestão conjunta, porém em trabalhos paralelos. “Elas são apenas ocupações que alimentam usuários de drogas e traficantes; a prefeitura já deveria ter tomado providência em ocupar com algo útil ou demolir”, afirma.
Prefeitura alega que problema é do vizinho
Por meio de nota, a Prefeitura de Santo André informa que “a base da Costa e Silva está situada em terreno na cidade de Mauá, em um acordo à época para atender demandas regionais. Porém foi desativada e no local foi instalado o sistema de monitoramento”. Em resposta, a Prefeitura de Mauá diz que “O referido endereço não se encontra em Mauá e que a base citada deve pertencer a Santo André”.
Ainda segundo a Prefeitura de Santo André, a base da Sacadura Cabral foi suplantada pelo viaduto e por sistemas de monitoramento. Sem informar quando, diz que no local será construído um CRAS (Centro de Referência em Assistência Social) para atendimento da população. Já a base da avenida Dom Pedro II com a avenida Goiás “se tornou inadequada para as demandas de segurança, principalmente por sua baixa capacidade de visibilidade, sendo substituída por câmeras”.
A GCM de Santo André contava com quatro bases fixas que atendiam somente quatro locais da cidade. “Em 2015 colocamos em operação oito bases móveis, versáteis e que atendem demandas pontuais de segurança com custo menor. As bases atuam em 30 pontos da cidade em horários alternados e atendem maior fluxo de pessoas”, informa. (Colaborou Amanda Lemos)