WhatsApp vira ferramenta de segurança no Baeta Neves

Sá usa rede social com vizinhos para se sentir mais seguro no bairro (Foto: Pedro Diogo)
Sá usa rede social com vizinhos para se sentir mais seguro no bairro (Foto: Pedro Diogo)

Cansados dos assaltos, moradores do bairro Baeta Neves, em São Bernardo, decidiram usar o WhatsApp para tentar melhorar a segurança local. Com o aplicativo, trocam informações sobre pontos do bairro com maior incidência de roubos e assaltos, informam sobre pessoas com atitudes suspeitas e dão dicas para os usuários evitarem passar pelos locais mais perigosos.

A ideia foi colocada em prática em janeiro. O operador de telemarketing, Leandro Rodrigues de Sá, 33, um dos administradores do grupo, conta que a iniciativa serve como novo recurso de comunicação de um grupo de moradores no Facebook, chamado Baeta Neves – melhorias para o nosso bairro.

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No Facebook, o grupo tem mais de 6,8 mil membros, mas Rodrigues explica que a versão no aplicativo de mensagens torna a comunicação mais abrangente, pois permite que os integrantes enviem e recebam informações também quando não estão em casa. “Nós tivemos a ideia de fazer o grupo neste rede social porque fica mais fácil de se comunicar. Não é todo mundo que tem acesso ao Facebook”, diz.

Em três meses de existência do grupo, a medida parece já surtir efeito. Rodrigues estima que a violência no Baeta Neves diminuiu 10%. “Muitas vezes a gente nem se conhece, mas foi uma forma que encontramos de um ajudar o outro”, completa.

Mesmo com o resultado positivo, Sá reconhece que o grupo tem seu o lado perigoso, já que os próprios criminosos podem se passar por moradores do bairro e solicitar que alguém os adicione. “Por isso a gente sempre orienta o participante para nunca se expor muito e enviar somente informações necessárias”, explica.

Mas a aprovação da iniciativa não é unânime no bairro. Para o marceneiro Ricardo Ferreira, 43, o WhatsApp não funciona muito bem como ferramenta com o objetivo de informar as pessoas. Uma das queixas de Ferreira são as piadinhas. “A gente pede para só enviarem informações importantes, mas às vezes o grupo perde o foco”, critica.

O marceneiro acha que o ideal seria chamar os moradores participarem mais ativamente dos CONSEGs (Conselhos Comunitários de Segurança), onde os munícipes se reúnem para discutir planejar, analisar e acompanhar as soluções de problemas.

‘Iniciativa reflete falta de confiança’

Segundo Guaracy Mingardi, analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a iniciativa do grupo no Baeta Neves expõe a falta de confiança no poder público em garantir sozinho a segurança da população. Em uma ocorrência, Mingardi relembra que a polícia sempre chega depois do crime, mas reconhece que isso é natural, já que as vítimas não têm o que fazer enquanto são abordadas. “Tem até uns conhecidos meus que dizem que o serviço da Polícia Militar é de prestar consolo para as pessoas”, diz.

Mingardi avalia que a população está descrente da ação policial. Apesar da gravidade da situação, o analista vê a criação desses grupos de forma positiva, mas alerta que não podem surgir vigilantes para bancarem os justiceiros, pois o trabalho é da polícia. “O bandidão armado a população não vai conseguir pegar. Ela vai acabar pegando o preto e pobre que está passando ali por acaso”, diz.

O analista avalia que o ideal seria as autoridades acompanharem esses grupos, de forma que algum oficial ingressasse no grupo e tivesse acesso às ocorrências. “Se tem incidência grande de roubos num semáforo, não adianta colocar uma viatura ali. Você precisa estar à paisana para pegar o flagrante”, sugere.

Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado informa que “os policiais estão atentos aos índices criminais do bairro e realizam operações conjuntas para reduzir a criminalidade no local”, mas não diz com que frequência as ações são realizadas. Ainda segundo a nota, a prova do policiamento foi a queda de 21% nos roubos e furtos no primeiro bimestre de 2016 na área do 6º DP, delegacia responsável pelo bairro, em comparação ao mesmo período de 2015. Enquanto isso, o número de pessoas presas aumentou 75% no período.

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