BC vê em fevereiro incomum interrupção do crescimento do estoque de crédito

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, começou sua entrevista coletiva nesta terça-feira, 29, destacando a “incomum” interrupção do crescimento do estoque de crédito em fevereiro. De janeiro para o mês passado a queda foi de 0,5%. As outras vezes em que houve uma baixa nesse mês, de acordo com Maciel, foi em fevereiro de 2009 e de 2000. Ele lembrou que a tendência de queda é comum em janeiro, mas que, no segundo mês do ano, geralmente já há retomada.

“Com a atividade mais fraca no início do ano, isso é comum, mas foi visto principalmente no crédito livre, que tem mais influência do ciclo de atividade”, afirmou. Segundo o técnico, o principal fator desse comportamento, segundo ele, é a retração do Produto Interno Bruto (PIB). Pesam também sobre o indicador, conforme o chefe de departamento, a sazonalidade, que foi “bem presente” neste início do ano e também, de forma mais modesta, a apreciação do câmbio.

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Setores

Houve variação negativa de janeiro para fevereiro do estoque de crédito nos três setores de atividade: agropecuária, indústria e serviços. O crédito total recuou 0,9%, para R$ 1,668 trilhões. A agropecuária recuou 1,0%, a indústria 0,7% e os serviços 1,0%. No crédito para pessoa jurídica com sede no exterior e créditos não classificados o recuo foi de 1,8%.

O crédito para o setor de serviços ficou em R$ 786,651 bilhões em fevereiro. Dentro desse setor, o comércio teve recuo de 1,7% (R$ 291,073 bilhões) no mês passado. Em transporte, também caiu 0,8%, para R$ 167,890 bilhões. Na administração pública, houve alta de 0,8% para R$ 124,381 bilhões. A categoria “outros” caiu 1,8% para R$ 41,874 bilhões.

Para a indústria, o crédito recuou para R$ 815,123 bilhões. Na construção, houve baixa de 0,7% no mês passado, para R$ 110,537 bilhões. A indústria de transformação caiu 1,3% para R$ 457,771 bilhões. Já os serviços industriais de utilidade pública (SIUP) registraram aumento do crédito de 0,3% no mês passado, para R$ 200,657 bilhões. No caso da extrativa, houve uma alta de 0,2% em fevereiro, para R$ 46,159 bilhões.

Para o setor agropecuário, o crédito minguou em fevereiro ante janeiro, para R$ 24,681 bilhões.

Habitação

As operações de crédito direcionado para habitação no segmento pessoa física cresceram 0,5% em fevereiro ante janeiro, totalizando R$ 504,931 bilhões, de acordo com o Banco Central. No acumulado em 12 meses, as operações de crédito para habitação pessoa física registram crescimento de 13,5%. Segundo o BC, R$ 64,999 bilhões se referem a empréstimos a taxas de mercado e R$ 439,932 bilhões a taxas reguladas. O BC deixou de incorporar nestes dados as operações com crédito livre, por serem residuais.

As operações a taxas de mercado apresentaram queda de 0,1% no mês e alta de 0,8% no bimestre e de 7,4% no acumulado de 12 meses. Já os financiamentos a taxas reguladas avançaram 0,6% ante o mês anterior, 1,1% no bimestre e 14,5% em 12 meses encerrados em fevereiro.

Sazonalidade

Tulio Maciel disse que o crédito para as empresas foi o que apresentou mais reflexo de sazonalidade no início do ano em 2016. “Dentro de crédito livre, o financiamento voltado para as empresas foi o que apresentou mais sazonalidade”, comparou. Houve queda de 1,1% na margem em fevereiro ante alta de 0,4% verificada em igual mês do ano passado.

“Houve uma queda atípica do estoque de crédito direcionado à Pessoa Jurídica em fevereiro”, constatou. Neste caso, de acordo com ele, houve um recuo de 0,3% em fevereiro ante alta de 0,8% na margem em igual mês de 2015. “Aqui, tivemos um movimento menos usual”, disse. No segmento de crédito, destacou, o carro chefe são as linhas com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Ainda sobre o crédito direcionado, para as famílias, o destaque foi o ramo imobiliário, que teve desaceleração em fevereiro. “Embora tenha crescido 0,5% no mês passado, em igual mês do ano passado tinha tido alta de 1%. Em 12 meses, estamos nos aproximando da expansão de 1 dígito”, ressaltou.

Ele lembrou que, em anos anteriores, houve altas muito mais fortes, como o pico de 55% em 2010. A partir daí, a taxa de expansão foi se desacelerando. Maciel comentou que esse comportamento se dá ainda no âmbito de elevação de juros e spreads e de estabilidade da inadimplência.

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