Nas últimas semanas as chuvas tem tornado o ABC um verdadeiro caos, mas o temporal que atingiu a região na última quarta-feira (24) foi pior para quem mora na Vila Sá, em Santo André. A força da enxurrada fez com que o Córrego do Oratório, na divisa com o município de São Paulo, transbordasse e muitos moradores perdessem seus móveis.
De acordo com o motorista Osvaldo Batista Mendes, 53, que mora na rua Taubaté, as enchentes não atingiam a região há mais de nove anos e muitos moradores já vinham tendo prejuízo com as chuvas das últimas semanas, mas a chuva de quarta foi estopim para que nada pudesse ser salvo. “A água que veio do rio chegou a mais de dois metros de altura. Desse jeito ninguém aguenta”, lamenta Mendes.
Indignado, o motorista diz que se sente abandonado pelo poder público e critica a falta de apoio dada a quem mora nessas situações de risco. “Eles ainda tentam dar um melzinho na boca com a entrega de cestas básicas, mas o que a gente precisa aqui são de obras que acabem com as enchentes”, afirma.
A enxurrada desta quarta-feira foi tão repentina que muitos dos moradores também precisaram correr para salvar suas vidas e deixar tudo para trás. Esse é o caso da aposentada Maria José Marques de Oliveira, de 67 anos, que tem sua casa na rua Planaltina. Quando a chuva começou, a água subiu rápido e logo invadiu a casa de Maria José, que precisou pular o muro para a casa da vizinha para conseguir sobreviver.
Como se tudo não pudesse piorar, a residência da aposentada também não resistiu às rajadas de vento que vieram junto com o temporal e a casa desmoronou, deixando Maria José somente com a roupa do corpo.
A reportagem foi até o local para ver a situação da residência e encontrou Maria José sentada no banco de uma praça em frente ao seu terreno, onde só sobraram os escombros do que um dia ela chamou de casa. “Agora eu fico o dia inteiro aqui sentada e à noite eu durmo na casa de algum vizinho”, conta a aposentada.
Hoje o terreno está interditado e Maria José explica que desde quarta ela não pôde sequer entrar no que sobrou da casa. Segundo a aposentada, ela precisa de um perito que possa fazer a avaliação da queda da residência antes que qualquer medida seja tomada.
Para a sorte da aposentada, ela conhece um amigo que é engenheiro que pode fazer esse trabalho. “Imagina se eu tivesse que pagar alguém para fazer isso. Eu não tenho condições de arcar com uma despesa dessas”, diz.
Para tentar resolver essa situação, Maria José já entrou em contato com a Defesa Civil, que disse que vai oferecer um valor de R$ 400 para a aposentada pagar um aluguel de imóvel. Mesmo com a promessa, Maria José diz que o repasse ainda não chegou até ela, não há nenhum documento que comprove o auxílio e, mesmo que o depósito seja feito, o valor não chega nem perto do preço de um aluguel. “Hoje a gente não encontra a R$ 400. O mínimo é R$ 800”, desabafa a aposentada.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Santo André, mas não obteve retorno até a publicação dessa matéria. Mas algumas horas depois, a assessoria de imprensa do Secretaria de Inclusão e Assistência Social informou que “a liberação do aluguel social da pessoa em questão será providenciado após visita técnica da equipe do serviço social a ser realizada amanhã (quarta-feira)”.