Mercado vê risco de reestruturação de dívida da Usiminas e bônus despencam

Os títulos de dívida (bônus) da Usiminas negociados no exterior caíram para 27% do valor de face na terça-feira (não houve transação com o papel na quarta-feira, 10), o que representa uma queda de quase a metade do preço praticado há 15 dias. Embora o volume de papéis da Usiminas disponíveis no mercado e a liquidez sejam pequenos, o nível dos preços desses títulos sinaliza uma reestruturação ou calote da dívida da empresa.

No dia 25 de janeiro, os papéis da Usiminas operavam em torno de 52% do valor de face. Dos US$ 400 milhões de bônus originalmente emitidos, circulam apenas US$ 180 milhões, já que em outubro de 2013 a Usiminas recomprou parte da emissão.

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Um eventual pedido de recuperação judicial pela Usiminas vem, cada vez mais, sendo tratado como possibilidade, já que os controladores da siderúrgica mineira – a ítalo-argentina Ternium e a japonesa Nippon Steel – descartam injetar capital na companhia, conforme noticiou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, no fim de janeiro. Os dois maiores acionistas do grupo estão em meio à uma disputa societária que dura mais de um ano.

A companhia, ao mesmo tempo, enfrenta dificuldades para gerar caixa e tem poucos ativos disponíveis para vender. Os planos de desinvestimentos ocorrem desde o ano passado, mas sem sucesso. Ainda por conta da baixa demanda, a siderúrgica desativou um de seus altos-fornos em Ipatinga e outros dois na unidade de Cubatão (ex-Cosipa).

Uma análise do demonstrativo financeiro da Usiminas mostra que a siderúrgica tinha em caixa, ao fim de setembro, R$ 2,4 bilhões, o que poderia dar fôlego para a empresa atravessar esse período. O problema é que ela não tem acesso a grande parte desses recursos, já que R$ 1,3 bilhão estava na Mineração Usiminas (Musa). A sócia da Musa, a japonesa Sumitomo, seria contra a liberação do caixa ao controlador, apurou o Broadcast.

A situação econômica da siderúrgica mineira vem piorando a cada dia, segundo fontes. Esse quadro ficará ainda mais evidente na quinta-feira que vem, quando a companhia divulgará seus dados referentes ao quarto trimestre do ano. A expectativa é de que apresente um prejuízo marcado pelo ajuste contábil (“impairment”) da unidade de mineração, com os preços do minério de ferro, atualmente em torno de US$ 40 a tonelada.

No terceiro trimestre, a Usiminas anunciou seu quinto prejuízo consecutivo, de R$ 1,042 bilhão, e um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado negativo em R$ 65 milhões.

Da dívida bruta, que era de R$ 8,1 bilhões ao fim de setembro, cerca de R$ 1,7 bilhão (ou 20%) vence neste ano. Desde o ano passado, no entanto, a siderúrgica vem conversando com seus credores bancários para alongar a dívida. Esse passivo está concentrado nas mãos dos três principais bancos do País (Itaú, Bradesco e Banco do Brasil), além do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Japan Bank for International Cooperation (JBIC).

Também no fim do terceiro trimestre, a alavancagem da companhia estava em quase sete vezes, com uma observação em relação aos “covenants” (metas de endividamento que a companhia tem de cumprir).

Uma fonte próxima da empresa disse que a siderúrgica tem conseguido renegociar suas dívidas com os credores bancários, mas que ainda encontra dificuldades em conseguir dinheiro novo para financiar a operação no dia a dia. A Usiminas não comentou o assunto.

Sem caixa

Sem conseguir gerar caixa, a Usiminas já colocou na pauta de reunião do seu conselho de administração a necessidade de uma injeção de capital no curto prazo, segundo fontes próximas à companhia. Sem perspectiva de entrada de novo dinheiro, um pedido de recuperação judicial já vem sendo tratado nos bastidores como uma última possibilidade.

“Todos sabemos que uma recuperação judicial é o último recurso. Acredito que a Usiminas e seus controladores têm condições de negociar soluções para passar por este período difícil”, disse uma fonte em entrevista ao Broadcast no dia 27 de janeiro.

Uma segunda fonte disse à época, por outro lado, que “não há luz” em relação a um eventual acordo entre os controladores e que, com esse pano de fundo, dificilmente decidirão colocar mais capital na empresa, em especial a Ternium, que pagou R$ 36 por ação ordinária da Usiminas quando ingressou no capital da siderúrgica no fim de 2011. Na quarta, as ações ordinárias da Usiminas encerraram o pregão valendo R$ 4,35.

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